Quando se tenta assegurar uma crónica nalguns jornais quer semanal quer quinzenal, não é fácil encontrar temas que possam interessar o público.

Como eu escrevo para melhor perceber o mundo em que estou envolvido, porque só temos a noção identificadora de uma situação quando encontramos palavras para a definir, por vezes, demora meses a até anos para a tentarmos compreender no emaranhado de escritos, notícias e análises, que nem chegamos a saber se se trata de uma informação ou de uma desinformação que nos é apresentada ou bem embrulhada em verdade. E quando às análises e notícias se juntam imagens, ficamos influenciados, baralhados ou convencidos, por vezes, até saltitando de um estado para outro.
A atualidade abunda em exemplos em que a perplexidade nos invade e nos paralisa. Ao acompanharmos as notícias que nos chegam do Médio Oriente poderemos ter dificuldade em defender o ponto de vista de Israel ou dos palestinianos e até encontraremos argumentos para defender uns e outros. Israel tem o direito de existir e de se defender contra agressores ferozes que têm como objetivo a sua destruição. Em contrapartida, o povo palestiniano não pode ser esmagado pela ira do exército israelita e dos seus governantes que aplicam ainda a selvagem lei hamurábica do talião: olho por olho, dente por dente. E, dito isto, já estou a fazer uma afirmação em que estarei a inclinar-me mais para a defesa de uma nação em detrimento da outra. Quando entram em nossa casa, constantemente, imagens de mulheres, crianças e indefesos sob uma chuva de bombas que nunca mais terminam, a consciência individual e coletiva indigna-se e leva-nos a sair de casa para gritarmos bem alto na rua: basta, basta!
Mais difícil é formular uma opinião ou mesmo uma minúscula suspeita que possam ser diferentes daquelas que nos veiculam os medias europeus, a propósito da guerra na Ucrânia. Os slogans são: ou guerra ou morte, até ao último ucraniano, e agora, até à última ucraniana! E a União Europeia, que é ou deve ser uma instituição de paz, tem utilizado mais a palavra guerra do que a palavra negociação. É caso para perguntar onde está a diplomacia dos Estados Membros?
Nestas notas soltas gostaria de incluir também um autor que ainda conheço mal, mas que me alertou para uma disciplina de que já quase não se fala e que se tentou pôr de lado há algum tempo. Trata-se da Teologia, na sua disciplina de ensino bíblico. Lembro-me que lia um artigo de Gaël Giraud, no jornal Le Monde, no Yosemite National Park ­— USA, em outubro do ano passado. Ele é jesuíta, filósofo, teólogo, economista, consultor do Papa Francisco para a transição ecológica.
Este jesuíta francês afirmava que se tinha perdido o hábito de compreender o mundo através da Teologia e através de um mundo bíblico, onde temos ensinamentos que nos ajudam a compreender melhor a realidade. Por exemplo, no relato bíblico do livro de Génesis, não é por acaso que o autor que escreveu este tão antigo e belo livro nos ensina que Deus criou o húmido e o seco, a noite e o dia, o homem e a mulher. Este é o princípio da alteridade e não da fusão, que conduz à violência doméstica e à rejeição das diferenças entre duas entidades ou dois seres. Neste livro baseia-se o feminino e o masculino de que o mundo é feito, assim como a sua intrínseca bondade assim criada.
É evidente que falando deste modo, levanta-se a polémica atual da teoria do género que só pelo facto de se falar nela, levantam-se logo contra multidões de ativistas, militantes e fundamentalistas que não permitem a menor discussão.
Assim vai o mundo da intolerância e da guerra onde não são permitidas nem há tempo para introduzir nuances de qualquer espécie.