Viagens ao reino de Clio


pelas lutas da Restauração (II).
ACONTECIMENTOS DO FINAL DO REINADO DE D. PEDRO II

Cheias em Lisboa em 1691

No dia 14 de novembro de 1691 a cidade de Lisboa registou uma grande chuvada que resultou em cheias, conforme o testemunho da época deixado por Manuel de Almeida: “Houve uma grande chuva, hoje, quarta-feira, das seis para as sete horas da tarde e se fizeram tão grandes barrocas pela rua Nova d’Almada desta cidade de Lisboa que ainda eram mais altas que o comprimento de um homem. Na Rua Nova houve uma grande cheia com o curso das águas das enxurras e juntamente com as águas dos canos que estavam cheios de água da maré e em muitas lojas, grandes e pequenas, entrou água e fez notável perda nas fazendas. Para memória, ficou pelas portas e balcões das lojinhas, o sinal até onde chegou a água. Somente para a vazarem das lojas, andaram quatro dias.”

Assinatura do Tratado
de Methuen

No dia 27 de dezembro de 1703 foi assinado o Tratado de Methuen, um tratado de comércio estabelecido entre Portugal e Inglaterra, que envolvia a troca entre os produtos têxteis ingleses e o vinho português. O seu nome tem origem no embaixador britânico que dirigiu as negociações e é muitas vezes mencionado como um dos fatores de anulação da indústria portuguesa e consequente colagem da economia portuguesa à britânica. Uma das principais consequências do tratado foi o abandono da política de fo-mento industrial do conde de Ericeira iniciada no reinado anterior.
Cláusulas do tratado:
 “Art. I – Sua Majestade El-Rei de Portugal promete, tanto em seu próprio nome como dos seus sucessores, admitir para sempre daqui em diante no Reino de Portugal os panos de lã e as mais fábricas de lanifícios da Inglaterra, como era costume até ao tempo que foram proibidas pelas leis, não obstante qualquer condição em contrário.
Art. II – É estipulado que sua Sagrada e Real Majestade britânica, em seu próprio nome e no dos seus sucessores, será obrigada, para sempre e daqui em diante, a admitir na Inglaterra os vinhos do produto de Portugal, de sorte que em tempo alguma (haja paz ou guerra entre os Reis de Inglaterra ou de França) não se poderá exigir de direitos de alfândega nestes vinhos, ou debaixo de qualquer outro tributo, directa ou indirectamente, ou sejam transportados para Inglaterra em pipas, tonéis ou qualquer outra vasilha, que seja mais do que o que se costuma pedir para igual quantidade ou medida de França, diminuindo ou abatendo uma terça parte do direito do costume. Porém, se em qualquer tempo esta dedução, ou abatimento de direitos, que será feito, como acima é declarado, for por algum modo infringido e prejudicado, Sua Sagrada Majestade Portuguesa poderá, justa e legitimamente, proibir os Panos de lã e todas as demais fábricas de lanifícios de Inglaterra.
III. Os Exmos. Senhores Plenipotenciários prometem, e tomam sobre si, que seus Amos acima mencionados ratificarão este Tratado, e que dentro do termo de dois meses se passarão as Ratificações.”

Carestia de vida em 1695

Em 1695 a vida era difícil no Reino de Portugal, o que era sentido especialmente em Lisboa. Vejamos um testemunho da época: “Chegou a valer o trigo 750 réis o da terra, 600 o do mar, 460 o centeio, 450 o milho, 480 a cevada. Mesmo por estes preços não se encontrava e quem tinha não queria vender, esperando mais urgente fome. De fora não veio pão, só umas misturas de centeio e milho que foram de grande utilidade. Dizem que este pão causou muitas doenças porque era muito frio. Na província da Beira ainda era mais caro mas nem caro nem barato havia. Devido a esta esterilidade morreram gados e galinhas. Ouvi dizer a um homem que comprou uma galinha por 1220 réis. O arrátel (459 gramas) de carneiro chegou a valer 70, o de vaca 55, o de toucinho 120, o presunto 150, o alqueire (13,8 l) de feijão branco 600, o arroz valeu 60 réis o arrátel, os figos passados 35 e 40. Valendo em Lisboa o arrátel de açúcar (por ruim que fosse) 100 réis e qualquer casta de doce 120, ainda que fosse de bostas de bestas, os homens de negócio diziam que lhe não achavam conta para o mandarem carregar no Brasil, tão caro o compravam lá os seus correspondentes.”