Acabaram-se, na semana passada, as festas de Bairam, assim lhe chamam os árabes.

Com a duração de três dias, nelas se realizam grandes cerimónias não apenas de alegres banquetes mas ainda de reuniões e visitas familiares.
Assim termina o jejum de Ramadão celebrado no nono mês do ano maometano, no qual, desde o nascer até ao por do sol, os islamitas nem comem, nem bebem, nem fumam, praticando, deste modo, um jejum rigoroso. Comerão apenas durante a noite.
Nos tempos em que tanto se fala de maometanos, como são os de agora, teremos de reconhecer a sua religião, os seus costumes e ainda, porque andam estas guerras religiosas provocadas, em muitas regiões, mesmo no seio da Europa, onde tantos procuram refúgio, deveremos abrir-lhes o coração e ajudá-los a escapar à morte.
Nos relatos da história do Ocidente, onde nos colocamos, aparecem muitos casos de guerras provocadas pela sede de domínio e até, conforme a interpretação de alguns, por critérios religiosos, onde predomina a obrigação de converter os povos à verdade islâmica, até pela força de armas.
Não vamos desculpar a ideia dos cristãos que entendiam, de forma incorrecta, alguns textos evangélicos, nem repetir estarem eles de boa fé julgando prestarem um piedoso serviço a Deus e aos irmãos perseguidos com tantas guerras santas. Também não diremos ser a luta defensiva sempre pecaminosa.
Temos de compreender que frequentemente muitos defendem a boa moralidade de suas acções com motivos de fé, quando apenas procuram o seu benefício e honra.
Mas estas coisas do passado hão-de avaliar-se na perspectiva do tempo e da educação pouco esclarecida. Também não nos compete fazer um juízo de valor perfeito, mas temos a incumbência de olharmos as circunstâncias e deliberarmos com muita cautela e justiça, sem misturarmos razões pessoais e conveniência de momento.
Tal erro, ainda hoje, paira em algumas mentes e é ensinado como regra autêntica por mestres quer em religião quer em história.
É por subsistirem ainda alguns erros nesta matéria que, na mensagem enviada aos muçulmanos, na ocasião das festividades que terminam o jejum do nono mês, pelo cardeal Jean-Louis Tauran, depois dos votos de uma serena e jubilosa festa celebrativa, após o Ramadão, se lê ainda: “Todos aqueles a quem está confiada a educação dos jovens, nos vários âmbitos educativos, deveriam ensinar o carácter sagrado da vida e a dignidade que dela deriva para cada pessoa, independentemente da sua etnia, religião, cultura, posição social ou escolha política. Não existe uma vida que seja mais preciosa do que outra devido à sua pertença a uma específica raça ou religião. Portanto ninguém pode matar”.
Claro que esta afirmação reafirma que é dupla falta este crime, pois é contra o homem e contra o seu Criador, único dono da vida e da morte. Por isso, todo o que se arroga no ofício de educar tem de estar bem informado da moralidade deste acto e da responsabilidade que estes juízos carregam para o futuro do mundo.
A mensagem citada foca este problema, ao terminar, quando declara: “Juntamente com o Papa Francisco, desejamo-vos que os frutos do Ramadão e a alegria do brilhantismo do seu termo possam trazer paz e prosperidade, favorecendo o vosso crescimento humano e espiritual.”
Há que lembrar não serem novos estes votos e doutrina. Nos documentos conciliares, podemos ler tais palavras de recomendação a todos, mormente aos seguidores de Cristo: “O desígnio de salvação estende-se também àqueles que reconhecem o Criador, entre os quais vêm em primeiro lugar os muçulmanos, que professam seguir a fé de Abraão, e connosco adoram o Deus único e misericordioso, que há-de julgar os homens, no último dia”.
Também reconhecemos que os grandes preceitos do Islão, chamados os pilares do Islão, são principalmente cinco: a profissão de fé, a oração, a esmola, o jejum, no mês de Ramadão e a peregrinação comunitária a Meca.
Naturalmente que a moral de cada acto se deve ter em conta. Essa significação ética de cada acção da vida está baseada tanto no Antigo Testamento como também no Novo, coisa que Maomé aprendeu sobretudo nas longas leituras dos Livros Cristãos, quando se retirava para o ermo, seguindo o exemplo do monge que frequentava nas suas viagens de mercador.
Por esta razão a moral maometana aproxima-se bastante da cristã, sem excepcionais diferenças.