Comemorações dos 815 anos da Cidade da Guarda

“Quanto mais intensa for a lâmpada da Guarda mais brilho tem a nossa cidade. A lâmpada da Guarda não é o Município apenas, eu quero que sejam todos”

“Eu acredito e quero que os guardenses continuem a acreditar que é possível recuperarmos muito do tempo perdido”

“Falta (…) devolver o célebre e nosso Hotel de Turismo da Guarda, é para isso que estamos a trabalhar”

“Eu quero uma Câmara a debater com o exterior, a dialogar com o exterior. Vamos, por isso, fazer no dia 6 a primeira [conferência] do Ciclo de Conferências da Guarda”

“Nós precisamos muito de trazer gente à Guara nomeadamente apostando naquele eixo que cruza entre a A25 e a A23”

“Vamos assistir (…) a um fortalecimento da relação e da afirmação política autárquica do Município e das freguesias rurais”

“Naturalmente que o equilíbrio com o mundo rural é muito importante e por isso vamos fazer uma aposta cada vez maior agora a partir de 2015”

“É possível fortalecermos a ligação entre todos e baixarmos a bandeira da divergência e em momentos importantes levantarmos a bandeira da coesão em prol da Guarda”

“Eu gostaria muito que daqui por meia dúzia de anos a Guarda estivesse afirmada no contexto nacional, fosse muito mais visitada, de as pessoas dizerem em Faro, vamos lá visitar a Cidade Natal em Portugal”

A Guarda: Como está a Guarda, um ano após ter tomado conta dos destinos da Câmara Municipal?

Álvaro Amaro: Ninguém é bom juiz em causa própria, mas julgo poder dizer que a Guarda respira hoje um ar de uma esperança maior no futuro e foi para isso também que trabalhámos neste ano. Não respira porventura ainda muito mais do que isto, porque é bom recordar que nós chegámos a presidente da Câmara da Guarda em tempo da maior crise que a democracia portuguesa atravessa, ou atravessou, e também num ponto que como é sabido, e isto não são questões de ordem política, são questões de gestão, e é sabido, os guardenses sabem a situação com que me tenho confrontado, que estamos a tentar resolver, estamos longe de a resolver, mas também como disse, eu não quero andar aqui a vida toda a planear a floresta sem plantar árvores. E, por isso, no momento em que lhe estou a dar a entrevista [quarta-feira, dia 19 de Novembro] demos um passo importante de facilitar a vida às pessoas com o Balcão do Cidadão no espaço que era a ex-Junta de São Miguel. Anteontem, na segunda-feira [17 de Novembro], assinámos os primeiros acordos de aquisição depois de os empresários dizerem que se incentivou a fixação de empresas [na Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial – PLIE]. Estamos a falar de 2 milhões de investimento, 30 postos de trabalho, 7 novas empresas … para não falar na Sodecia com 5 milhões de investimento, directos e indirectos 80 postos de trabalho. Bom, se formos contabilizando estes milhões de investimento e estes postos de trabalho, a par da requalificação da cidade, em suma, eu, enfim, respeitando naturalmente todas as opiniões, julgo que se respira mais optimismo e é para isso que eu continuarei a trabalhar, para que a Guarda ganhe nestes 4 anos, um papel que, infelizmente, ao longo dos anos, sejamos sinceros, perdeu.

A Guarda: Como é que tem sido a gestão do Município tendo em conta a situação financeira que encontrou?

Álvaro Amaro: Repare, como alguém diz, números são números e não há como dar a volta a isto, quer dizer, são números que traduzem uma realidade, não são invenções, porque isso não faria sentido. Um número: o prazo médio de pagamento aos fornecedores era, quando nós chegámos, de 368 dias. Nós passámos para 183 dias. Ou seja, menos de metade. Ora, isto é uma grande obra. Que o digam os nossos fornecedores. Nós reduzimos os pagamentos em atraso em cerca de 5 milhões, 4,6 milhões de euros, nós reduzimos os custos com o pessoal de mais de 125 mil euros, mas ao mesmo tempo, os visitantes registados no Posto de Turismo da Guarda, comparando Julho e Agosto, os meses de Verão de 2013, antes de nós chegarmos e os meses de  Verão de 2014, nós aumentámos 62% o número de pessoas que nos visitaram, registados no Welcome Center - Welcome Center que foi mais uma conquista nossa para atrair mais gente para a Guarda. (…) Eu recuso-me a ser o choramingas, como se diz na nossa terra. As choraminguices não levam a nada. Nós temos é que [dizer] esta foi a realidade, mas nós não quisemos andar aqui a chorar sobre a realidade, coitados de nós … Por isso é que conseguimos, ao mesmo tempo que estamos a procurar as soluções, encontrarmos também maneira de estimularmos a economia, como disse do turismo, das empresas, da atracção da cidade, mas a verdade é que nós nos confrontamos com um problema financeiro. Nós fizemos acordos de pagamento com os 10 maiores credores que estamos a respeitar integralmente. Eu dou este exemplo e os leitores percebem bem. Com os 1o principais credores do Município com quem fizemos acordos de pagamento a 3 anos, eu podia durante este ano não ter pago nada. Eles continuavam a debitar os juros, e são juros até altos, que a lei lhe confere, e a dívida continuava a aumentar. Mas, nós pagamos por mês 230 mil euros nestes acordos a estes 10 credores. Se multiplicarmos 230 por os últimos 7-8 meses, que foi quando fizemos o acordo, significa que nós teríamos em cofre quase cerca de 2 milhões de euros. Tínhamo-los cá, porque não os pagávamos aos fornecedores, mas a dívida, o passivo da Câmara aumentava pelo débito dos juros. Ora, o que é que nós optámos. Não, não vamos fazer coisas, olhe não fizemos as Festas da Cidade, não vamos fazer algumas coisas, mas vamos estimular a economia, vamos pagar a quem devemos, e injectamos 230 mil euros por mês nos fornecedores. Isto chama-se gestão, que é uma disciplina importante, e isto chama-se também, a par da gestão técnica, financeira, chama-se opção política. Explicar isto aos guardenses: querem umas Festas da Cidade ou é preferível estimularmos a economia? Mas isto não é demagogia, é mesmo assim. Como muito bem diz o povo, a manta estica-se, ou tapa a cabeça e destapa os pés, ou vice-versa. Só que, nós queremos olhar para a economia, olhar para as contas, olhar para os nossos credores, mas também plantar algumas árvores. Realizar um sonho: regular o tráfico que era um pandemónio, e ainda é, do Bairro da Luz, um velho anseio … requalificar todas as obras mesmo urbanas e reprogramá-las em termos comunitários, em termos de financiamento, acabar com essa história de que se decidem obras a mais ou obras a menos sem rei nem roque. Isto chama-se gestão, mas actualmente também opções políticas. Uns poderiam querer continuar a aumentar a dívida em espiral para chegar onde chegou, nós achámos que devíamos atacá-la, mas, repito, sem olhar para as necessidades das pessoas e sem olhar para a tal esperança que queremos que a cidade viva.

A Guarda: O que ainda falta fazer para aumentar o poder de atracção e dinamizar a economia?

Álvaro Amaro: Ainda falta muito. Falta haver mais conjuntos de 7 empresas e de milhões de investimento a criar postos de trabalho para a Plataforma [Logística de Iniciativa Empresarial], que é por isso que vamos continuar a trabalhar. Falta resolver o problema de um dos ex-libris, mas não é apenas por isso, é porque esse é também estimulante de aumentar o poder de captação, que é devolver o célebre e nosso Hotel de Turismo da Guarda, é para isso que estamos a trabalhar …

A Guarda: E como é que está esse processo?

Álvaro Amaro: Olhe, posso apenas dizer-lhe, e aos leitores do Jornal A Guarda, que já gastei centenas de horas com potenciais empresários, mas não estou nada arrependido, bem pelo contrário. E gastarei mais centenas se for preciso, com empresários, naturalmente com o Estado … já podia ter razões para indicar caminhos, mas eu prometi também a mim mesmo e aos guardenses que não vale a pena andarmos aqui a cantar antes do tempo e só Deus sabe o que vai ser o futuro, mas continuaremos a trabalhar. Mas repito, esse é também um objectivo, não apenas porque foi uma promessa bem vincada em termos eleitorais, mas porque eu acho que é um elemento muito importante de atracção e sendo de atracção é também de estímulo à economia. Por isso, para mim é um desafio, mas é um desafio voltar a ter ainda mais empresários, ainda mais projectos e continuar, naturalmente, em termos da requalificação urbana, que é para mim uma disciplina muito importante também nessa linha de tornar a cidade mais atractiva. É que, se nós formos mais visitados, ganha a economia local e ganhando a economia, a esperança transforma-se numa boa realidade e nessa altura nós somos todos mais felizes. Só que estas coisas têm que obedecer a um rumo. Dentro em breve eu terei oportunidade de apresentar aos guardenses, também neste eixo de requalificação urbana, uma lógica que nós estamos a estudar e do modo como a vamos levar por diante, mas não quero falar das coisas antes de as termos mais ou menos preparadas e estudadas. Mas eu acredito muito em todos quantos colaboram comigo, os meus colegas do executivo, os técnicos do meu gabinete, as pessoas que no dia-a-dia me acompanham, enfim, no diálogo constante que eu gosto muito de ter, quer cá dentro, quer da Câmara com o exterior.  Eu quero uma Câmara a debater com o exterior, a dialogar com o exterior. Vamos, por isso, fazer no dia 6 a primeira [conferência] do Ciclo de Conferências da Guarda. É algo inovador que eu quero que o país comece a ouvir. Nós temos ambição, mas temos os pés assentes na terra. Por isso, temos que fazer isto cumprindo os passos, não podemos andar depressa demais porque senão podemo-nos estampar, mas temos que avançar. As Conferências da Guarda hão-de ter temas diferentes. Esta é a primeira e o tema é Desafios. Queremos alguém de fora a discutir a Guarda connosco, naturalmente juntando também as visões dos que cá estão. Nós temos que juntar as visões dos que cá estão com as de alguém que estuda o marketing do território ou que estuda a estratégia de desenvolvimento. É isto que vamos fazer, numa conferência leve, numa tarde, das duas e meia ate às seis [horas] da tarde, temos tempo para ouvir dois oradores. Eu quero um Município a liderar se for caso disso ou a juntar-se a outros que liderem, não tenho nenhum problema com isso. Quanto mais intensa for a lâmpada da Guarda mais brilho tem a nossa cidade. A lâmpada da Guarda não é o Município apenas, eu quero que sejam todos. Sem nenhum tipo de ciúme nem de preocupações de outra ordem. Eu já disse, nós tanto podemos ser locomotiva como carruagem. Não há problema nenhum. Sempre tendo em conta que queremos é aumentar a intensidade da Guarda, dessa lâmpada, dessa estrela, porque também somos da Serra da Estrela, mas também somos da fronteira, do Côa, do Dão, somos da Beira Interior, enfim, acho que a Guarda tem a chamada política das cidades policêntricas e a Guarda tem de puxar por isto. Eu garanto-lhe que vou puxar muito por isto, acho que eleva a auto-estima da Guarda.

A Guarda: Para quando a captação de turistas estrangeiros através do pagamento do valor das portagens?

Álvaro Amaro: Eu espero no próximo ano instituir esse programa, sendo certo que ainda recentemente numa conversa com o presidente da Diputácion de Salamanca (Espanha), ele me dizia «Álvaro, mais do que o pagamento, mais do que o valor, é a forma de pagamento». E ele tem razão. Nós já dissemos várias vezes e eu próprio também. Ainda nem eu era presidente da Câmara da Guarda e já me metia impressão como é que nós podemos captar turistas com esta forma de pagamento ou então andarmos nos jornais em Espanha a dizer que agora multamos os espanhóis porque eles passam por cá e não pagam. Porque isto é de facto difícil. De modo que essa parte eu não consigo resolver, espero que o bom senso acompanhe quem tem que decidir sobre a mudança do sistema. Ainda assim, juntar-me-ei àqueles que já fazem isso [pagamento de portagens aos estrangeiros], mas estamos a tentar operacionalizar e se eu poder ainda tornar mais atractivo fá-lo-ei. Nós precisamos muito de trazer gente à Guara nomeadamente apostando naquele eixo que cruza entre a A25 e a A23, vamos fazê-lo.

A Guarda: Os empresários queixam-se que as portagens são um entrave à fixação de empresas. Com a criação do Parque TIR e com a recente assinatura de contratos de compra e venda de vários lotes, se a PLIE começa a afirmar-se como um projecto âncora para a região?

Álvaro Amaro: Eu bem gostarei que assim seja. Não posso é garantir, mas trabalharei para isso. Eu já por várias vezes fui desafiado para comentar a Plataforma, esse projecto foi assim, foi assado … eu recuso-me, não perco um minuto com isso. Foi, é, é o que está, vamos é dinamizá-lo, e ponto. De modo que eu espero que assim seja, agora garantir que assim seja, eu não posso, não depende apenas de mim. Em relação às potagens eu já expressei também a minha opinião e lamento muito que nós estejamos com um preço por quilómetro, na A25 e na A23, que é elevadíssimo e que é injusto. Eu acompanho essa crítica dos empresários. Em tempos idos, quando se começou a discutir isso, e havia muita incompreensão até, legitima, eu sempre me assumi que sou a favor do utilizador pagador. De modo que assumo também esse ónus. Agora, aqui para as nossas terras é perfeitamente legítimo, e participei em debates há 10 anos atrás, onde se definiam sistemas que discriminavam positivamente até num raio de alguns quilómetros as populações e os empresários aqui desta região. Por isso, nesta faixa do território era da mais elementar justiça. Dito de outra maneira, é uma brutal injustiça o que se passa hoje e acredito que seja, nalguns casos, aqui e ali, um pouco desincentivador para os empresários. Ainda recentemente uma grande empresa, felizmente que está na Guarda, e que se dedica à logística, me dizia a brutalidade do valor que pagava mensalmente por portagens. De maneira que, acredito que este é um pequeno problema, ou que é um problema, mas confesso que me associo a esses comentários, a essas críticas, a essas preocupações, não deixo de as dar conta em sede própria, mas a verdade é que ainda não obtivemos o eco e eu espero que no futuro, não muito distante possa ser feita justiça a estes territórios do chamado Interior.

A Guarda: Quando será conhecido o futuro das Empresas Municipais (Culturguarda e Guarda Cidade Desporto)?

Álvaro Amaro: No limite, no dia 18 de Dezembro, que é quando se realiza a Assembleia Municipal. No limite ai. Direi que 4 ou 5 dias antes na reunião de Câmara que antecede a Assembleia Municipal. Estamos a trabalhar afincadamente para isso, foi esse o meu compromisso de apresentar uma decisão depois daquilo que é conhecido, que é a obrigatoriedade a que estamos sujeitos de uma lei com a qual discordo, mas lei é lei, temos que a cumprir, e por isso estamos a fazer os estudos necessários para isso.

A Guarda: Que prenda gostava de oferecer à Guarda no dia do Feriado Municipal?

Álvaro Amaro: A minha lista ainda é grande, apesar de ainda recentemente alguém me dizia que da meia dúzia de coisas de que eu fiz bandeira na minha campanha eleitoral há um ano, só uma não está ainda cumprida, que era a questão do Hotel [de Turismo]. Eu sorri e disse que isso era um juízo simpático para mim. Tem alguma razão. Pelo menos, das bandeiras que eu levantei, mas eu acho que à medida que os dias foram passando e com o conhecimento que fui adquirindo, com muito trabalho, quer da realidade do município, quer de outro tipo de necessidades do concelho e de aspirações das pessoas … Repare, eu nunca prometi resolver o problema do trânsito no Bairro da Luz, não prometi fazer nenhuma rotunda, não prometi homenagear a cidade no 10 de Junho, muito menos prometi um 10 de Junho e fazer aquela coisa bonita, e humildemente bonita, mas que é uma homenagem à Guarda, com aquele monumento simples dos 5 EFES, eu não prometi as requalificações das vias centrais, mas a verdade é que estamos a fazê-lo. Não prometi a Rua das Barreiras, que era um escândalo que lá estava, e muitas outras coisas que afinal de contas nós fomos fazendo, mas das bandeiras que levantei bem alto, alguém me chamava a atenção dizendo «só a do Hotel». Mas eu acho que ainda há muitas mais … e por isso, se me perguntar qual era a prenda, justamente por aquilo que acabei de dizer, eu quase diria: a prenda que eu gostava de oferecer era o Hotel, mas a compra, pelo mercado, pelas empresas (…), mas penso que nesse dia (…) vou anunciar um desejo de uma prenda que quero dar à Guarda.

A Guarda: Já sabe qual é o Santo Padroeiro da Guarda?

Álvaro Amaro: Esse, como eu digo, não é o meu pelouro, não é do executivo, é da Eminência Reverendíssima o Senhor Bispo. Eu falei a 27 de Novembro de 2013, na sessão solene [do Dia da Cidade] com autorização do Senhor Bispo, de modo que isso não depende de mim e por isso só voltarei a falar desse assunto se o senhor Bispo me autorizar. Falei disso porque me entusiasmei com a ideia, e me entusiasma a ideia, acho que era importante, estranhei sinceramente o facto de não haver. Aliás, quando anunciei isso houve pessoas que vieram ter comigo a dizer «olhe que o senhor presidente está enganado, a Guarda tem um santo padroeiro» e eu disse, não tem não. Eu já sabia o que é que vinham dizer, antevia, porque estudei bem o assunto, iam dizer que era Nossa Senhora da Assunção. A Senhora da Assunção é a padroeira da Sé, mas é de todas as Sés de Portugal, não é apenas da Sé da Guarda. Aliás, como o senhor bispo depois explicou também isso às pessoas. Ficámos por isso na mesma. A Sé da Guarda tem uma Santa Padroeira que nós veneramos, mas a terra, o concelho, a cidade não tem. Eu acho que era bonito ter, até porque …

A Guarda: E qual é que era o seu objectivo em querer saber, foi pela simples curiosidade ou eventualmente para apostar …?

Álvaro Amaro: Foi mesmo a curiosidade. A questão é que é da nossa tradição, e bem, na minha opinião, festejar em honra do Santo Padroeiro, isso liga muito o povo, e como um dos meus objectivos que tinha prometido e agora continuarei a trabalhar para isso, é levar à união das pessoas, mesmo na pluralidade de opinião, na diversidade de opiniões. (…) Eu tenho a certeza que une todos os guardense, levantar a auto-estima dos guardenses, é uma coisa que nos une e não tem ideologia. Une-nos a todos aumentar o orgulho dos guardenses e não tem ideologia. Une-nos a todos ter um Hotel aberto na cidade, creio eu, e não tem ideologia. Une-nos a todos ter mais empresas na Plataforma, isso não tem ideologia, creio eu. De modo que essa simbologia do Santo Padroeiro une as pessoas. É a minha sensibilidade e foi por isso que numa boa conversa com o senhor Bispo lhe deixei esse desafio, mas eu respeito profundamente o que quer que venha a acontecer nesse domínio. Não somos nem mais crentes nem deixamos de acreditar na união havendo ou não havendo o Santo Padroeiro.

A Guarda: E nesse espírito de união de que falava, também envolve as freguesias rurais?

Álvaro Amaro: Claro. Eu sou de uma freguesia rural, de modo que respeito muito o mundo urbano, mas eu nasci no mundo mais rural, já que mais não seja, sou fiel às minhas origens e tenho orgulho nelas. Mas mesmo as freguesias rurais, mesmo aquelas que venerem, voltando aos Santos Padroeiros, algum dos Santos Padroeiros, tenho a certeza que se podem rever naquele que é da sede do concelho. Aliás, nisto tenho que ser justo. As pessoas das freguesias rurais amam a sua terra, amam o seu berço, têm orgulho nela, mas também têm um grande orgulho na capital, na sede do concelho. Nem sempre assim acontece, mas para ser justo, o que tenho constatado, existe esse orgulho, essa satisfação de ser da Guarda independentemente de se ser desta ou daquela freguesia rural, o que é bom e é facilitador da mobilização que a Guarda tem que ter.

A Guarda: E neste tempo que já leva de mandato autárquico também tem estado atento às necessidades das freguesias rurais?

Álvaro Amaro: Neste ano, como tive oportunidade de explicar às freguesias, nós íamos fazer uma leitura muito atenta, pedi por isso que me dessem este ano, não quer dizer que, nomeadamente no departamento das obras, ou no departamento social, que são aqueles que têm mais notoriedade nas freguesias rurais, nós não nos tenhamos feito sentir. Eu vejo bem o esforço dos senhores dois vereadores nesse aspecto, sem deixar, naturalmente, de falar da parte da administração ou da parte cultural de cada um dos vereadores responsáveis. Nós estamos atentos a isso, mas a verdade é que eu queria ter algum tempo para analisar eixos de políticas de proximidade nas freguesias rurais. Vamos assistir por isso, a partir de Janeiro, vamos em 2015, em suma, assistir a um fortalecimento da relação e da afirmação política autárquica do Município e das freguesias rurais, neste aspecto. Aliás, eu sinalizarei com alguma crítica, que eu respeito, do senhor presidente da Junta da Guarda, eu já disse que vamos fazer os acordos de execução, transferir centenas de milhares de euros para aquelas acções mas só o faço com as freguesias rurais e não com a freguesia urbana. Eu tive oportunidade de explicar ao senhor presidente da junta que iremos testar agora, justamente com as freguesias rurais. De modo que melhor resposta, em coerência, eu julgo não poder dar, pelo respeito que tenho desse equilíbrio do concelho. Claro que a cidade é a cidade e temos que olhar para ela com essa dedicação, com essa aposta estratégica, porque se não olhássemos para a cidade então estaríamos a ter um pecado, que era um pecado mortal, a prazo, isso temos que o fazer, mas naturalmente que o equilíbrio com o mundo rural é muito importante e por isso vamos fazer uma aposta cada vez maior agora a partir de 2015.

A Guarda: No Dia da Cidade vai inaugurar o campo sintético do Zambito, é a concretização de uma das suas promessas, mesmo em tempo de dificuldades financeiras?

Álvaro Amaro: Pois, chama-se a isso, lá está, como eu comecei por dizer no início desta entrevista, opções políticas, mas que tinham que ser seguidas com opções de gestão. Eu digo isto muitas vezes e às vezes fico preocupado porque muitos políticos, na Guarda, não querem ouvir isto, e então aqueles que tiveram ideologicamente, ou partidariamente, responsabilidades durante quase 40 anos. Isso é um pouco preocupante. Como está subjacente à sua pergunta, e muito bem, então estamos com dificuldade, como é que nos vamos meter numa obra, que no fim custará quase cerca de meio milhão de euros, sem garantias de ter o financiamento, ainda que candidátavel no tal chamado overbooking, mas mesmo que venha a ser aprovada, nós vamos ter que a pagar toda (…). Então eu tinha boas razões para dizer, meus senhores, vamos esperar e eu não vou poder fazer isto agora, mas a questão é que tivemos por isso que fazer aqui algumas poupanças, alguma contenção, para resolver alguns dos problemas, uma dessas bandeiras, porque neste caso, o novo ciclo de fundos comunitários, o chamado Portugal 2020, com grande probabilidade não tem nenhum financiamento para relvados sintéticos, como não vai ter, infelizmente, como é sabido, para estradas. Vai ser um grande problema, como é que eu, como presidente da Câmara, nos próximos três anos, vou resolver, porque, de resto, muitos dos senhores presidentes das juntas me têm falado, de muitos problemas. E é verdade, há aqui um grande investimento a fazer-se em melhorar algumas ligações rodoviárias da sede do concelho para as freguesias, têm razão os presidentes das juntas, acompanho-os nisso, mas o próximo ciclo de fundos ao que parece, não vai ter um euro para estradas, como é que nós vamos resolver isto? Como parece que não vai ter para este tipo de infra-estruturas. Eu disse, bom se não vai ter, então vamo-nos agarrar à derradeira oportunidade que poderemos ter de ter financiamento. E já agora, cumprir um desejo dos guardenses que se transformou numa promessa nossa, mas é uma promessa que vai muito para além da questão politica, é uma necessidade extrema. O respeito das nossas crianças, dos nossos jovens. Eu fiquei siderado quando, em plena campanha, assisti, no campo do NDS, mais de 200 crianças, de jovens, a limpar o areão do campo para treinarem a seguir. Meus Deus, eu pensava que isto não podia existir. A Guarda deve ser a única capital de distrito do mundo, onde houver distritos, que só tinha um relvado e não tinha um sintético. Está resolvido.

A Guarda: Na passagem de mais um Dia da Cidade, o segundo nas funções de presidente da Câmara, que mensagem deixa aos habitantes do seu concelho?

Álvaro Amaro: Tal como comecei esta entrevista … nós precisamos muito, o executivo, precisamos todos, todos, e eu até diria todos os eleitos, independentemente do pensamento político, creio eu, não estou mandatado para falar por todos, mas creio que todos me acompanham, é possível. É possível. Eu não quero imitar aquele slogan que deu grandes vitórias e que acompanhou muito da auto-estima dos americanos, na primeira candidatura do senhor Obama «Yes we can», quer dizer, «Sim nós podemos». Eu, aqui, apetecia-me muito pedir isso aos guardenses. É verdade, nós acreditamos, é possível fortalecermos a ligação entre todos e baixarmos a bandeira da divergência e em momentos importantes levantarmos a bandeira da coesão em prol da Guarda, é muito importante, isso.

A Guarda: E tem notado isso, ou não?

Álvaro Amaro: Eu acho que sim, sabe. Estou francamente optimista nisso. Claro que há uns laivos disto e daquilo, dos ciúmes daqui e dacolá, mas o exemplo que eu dou, que há pouco lhe dei nesta entrevista, é uma questão da intensidade do brilho da lâmpada (risos). Eu digo isto muitas vezes. A lâmpada é a Guarda, se ela brilhar mais, de todos quantos a fizermos brilhar, muito bem. E o Município repito, pode ser locomotiva como pode ser carruagem. Eu estou sempre disponível para ajudar boas iniciativas de outras entidades. Todas as entidades são parceiras. Programas de afirmação da Guarda, eu não os apresento publicamente sem dialogar com parceiros que considero importantes, seja dos empresários, dos comerciantes, das instituições, apresento-lhos primeiro e não apresento factos consumados. Digo: estamos a pensar nisto, juntem-se, melhorem, digam, acho que esta é a melhor via, e essa envolvência, cujos sinais primeiros foram dados no Natal do ano passado, com o Ar de Natal. Mas nós melhorámos, tem um objectivo estratégico também, eu acho: afirmarmos a Cidade Natal, não é mais uma, é a Cidade Natal, e por isso temos que investir nisso, nesta marca. Esta marca é envolvente. Eu gostaria muito que daqui por meia dúzia de anos a Guarda estivesse afirmada no contexto nacional, fosse muito mais visitada, de as pessoas dizerem em Faro, vamos lá visitar a Cidade Natal em Portugal, e toda a gente soubesse em Portugal, e na nossa vizinha Espanha, e sabe-se lá mais onde, que há em Portugal uma Cidade Portugal. De resto, a sua beleza pode ser admirada. Ela tem um formato de um Presépio bonito, encimado pela Torre de Menagem, que nós este ano vamos iluminar. Dir-se-á: pois, a Cidade Natal não cria emprego directo, não faz a felicidade, mas faz, indirectamente cria muito, porque estimula outros vectores da economia. De maneira que, aqui é, «Sim nós acreditamos». Eu sinto que, apesar de estamos na cidade fria, que também é farta, que é forte, que é fiel e que é formosa … nós haveremos de resolver aqui, vamos ter aqui, durante estes 3-4 anos, que resolver aqui algo que falta, também à cidade para vencer. Transformar esta pequena situação que não é adversidade, mas de durante muitos dias por ano, nós termos frio, chuva, nevoeiro, neve … nós temos que transformar isto, temos que dar a volta a isto, respeitando naturalmente a Natureza, e já agora, admirando a Natureza, mas não deixando que essa eventual adversidade para algo que nós possamos fazer, nos impeça de o fazer. Nós temos que resolver esta questão. Não sei se alguma vez isto foi pensado, mas eu estou a pensar isto … No ano passado, posso contar esta história, uns casais meus amigos vieram aqui passar três ou quatro dias entre o Natal e o Ano Nosso, passámos aqui a Passagem de Ano … naqueles três ou quatro dias eles diziam «mas ó Álvaro, não se vê um palmo», porque esteve nevoeiro cerrado, como está hoje, no momento em que lhe estou a dar a entrevista. De facto, não é incentivador para as pessoas virem à rua e virem à economia. Nós temos que resolver isto. Eu não sou especialista dessa matéria, mas vós vamos ter que encontrar … Está a ver, matéria que a gente tem que debater. De modo que eu acredito que, ou o Município servindo de pivô ou de locomotiva, ou servindo de carruagem, eu acredito e quero que os guardenses continuem a acreditar que é possível recuperarmos muito do tempo perdido.