Afã é um vocábulo bem português, mas nem assim muito vulgar na linguagem de todos os dias.


Afã é um substantivo masculino, que significa pressa e ânsia, e que tem como sinónima azáfama, que é o mesmo que dizer trabalho intenso ou grande atividade.
Apesar de pouco usado, o termo AFÃ é aquele que melhor carateriza os períodos pré-eleitorais, como se se quisesse fazer em poucos dias ou meses aquilo que se esqueceu durante anos e olvidar os prejuízos anteriormente causados. E nisso o atual governo é exímio.
Senão vejamos aquilo que tem vindo a acontecer, no passado recente, em relação ao nosso concelho e distrito.
Como todos se devem recordar, uma das primeiras medidas tomadas pelo governo em funções, logo no início do seu mandato, em 2016, foi determinar o cancelamento da construção da barragem de Girabolhos, no concelho de Seia. Neste empreendimento já tinham sido investidos cerca de 80 milhões de euros, em trabalhos preparatórios, que foram literalmente atirados para o lixo.
Para além disso, a barragem de Girabolhos estava localizada na Beira Interior, uma região onde nascem dois importantes rios portugueses, Mondego e Zêzere, cujas águas abastecem importantes aglomerados populacionais do litoral e enriquecem a agricultura de outras regiões que não aquela onde nos encontramos, no INTERIOR de Portugal.
Como vamos dando conta, ano após ano, as alterações climáticas vieram para ficar e a região da Beira Interior é uma daquelas onde elas se fazem sentir de forma mais acentuada, registando-se uma diminuição acentuada da pluviosidade, que torna cada vez mais áridos e improdutivos os solos destas terras de elevada altitude. No entanto, a região pouco aproveita da riqueza aquífera desta importante rede hidrográfica.
Apesar de tudo aquilo que eu acabei de escrever não ser novidade para ninguém, o governo ignorou por completo o facto de no distrito da Guarda não existirem bacias de retenção de água que permitam o regadio, o abastecimento público da população e ainda um possível aproveitamento turístico que pudesse potenciar a economia da região. Já para não falar da vital importância de uma albufeira da dimensão que estava prevista, que abrangeria terrenos dos concelhos de Seia, Gouveia, Mangualde e Oliveira do Hospital, para o combate aos incêndios numa região martirizada por esse flagelo.
Já pelos idos do ano de 2017, pela mão do atual governo, foi determinado o encerramento do Centro Educativo do Mondego, no concelho da Guarda, uma instituição com mais de meio século de vida e com provas dadas na reabilitação de jovens. Com esta decisão, perderam-se cerca de 70 postos de trabalho, numa região onde o emprego e a presença do Estado são cada vez mais uma recordação de tempos passados.
Foi também no ano de 2017, em 1 de agosto, ano de eleições autárquicas, que o atual governo lançou um concurso público para reabilitação e subsequente exploração do Hotel Turismo da Guarda, através do programa REVIVE, através do Anúncio n.º 6606/2017 do Diário da República.
Até à presente data e passados que estão praticamente dois anos, nem sequer o projeto entrou na Câmara Municipal da Guarda. Mais, soubemos recentemente que a empresa, a quem foi concessionado o Hotel Turismo, apresentou um PER (Processo Especial de Revitalização) e que já lhe foi nomeado um administrador judicial, o que vem levantar sérias dúvidas sobre a capacidade financeira para reabilitar e revitalizar o lendário imóvel da cidade da Guarda.
Estamos novamente em período pré-eleitoral e os vícios repetem-se. Anúncios e mais anúncios, promessas e mais promessas.
Por altura do início de funções do governo, o INTERIOR teve direito à criação de uma pomposa entidade, denominada Unidade de Missão para a Valorização do Interior, mas que em nada o conseguiu valorizar, o que levou ao abandono da pessoa que a ela presidiu. Mais tarde, simbolicamente, até foi sedeada em Pedrógão Grande, após os incêndios de 2017, mas o INTERIOR não sobrevive com simbolismos. Seguiu-se a criação da Secretaria de Estado para a Valorização do Interior, mais uma vez simbolicamente localizada em Castelo Branco e, da mesma forma, este organismo se assumiu como mais um embuste para enganar desatentos.
Agora o AFÃ intensificou-se, porque estamos com eleições legislativas à porta e é preciso manter o poder a todo o custo. A família e os amigos assim o exigem.
Desde anúncios e celebração de protocolos para instalação do Centro Nacional de Educação Rodoviária na Guarda, até promessas de tornar Vilar Formoso a porta da Europa (sempre o foi) ou de aqui instalar o Arquivo de Registo Automóvel (arquivados estamos todos há muito tempo no Interior), tudo serve para manipular o Zé eleitor e condicioná-lo na capacidade de decidir livremente em quem votar.
Podia aqui continuar a falar de propaganda e até podia lembrar o que se tem passado com a Saúde e o hospital da Guarda, mas essas são matérias que estão tão presentes na memória das pessoas que insistir nelas seria tão redundante, como redundantes são as promessas e anúncios em período pré-eleitoral, bem como a sua não concretização.