Coronel Luís José Cunha Rasteiro – ex-comandante do Comando Territorial da GNR da Guarda
O Coronel Luís José Cunha Rasteiro, ex-comandante do Comando Territorial da GNR da Guarda, é natural do Sabugal. No passado dia 9 de Dezembro foi substituído no cargo de comandante do Comando Territorial da GNR da Guarda, função que ocupava desde Junho de 2016.
Estudou no Sabugal, Guarda, Covilhã e Lisboa. É licenciado em Ciências da Comunicação, com bacharelato em Comunicação e Relações Públicas e mestre em Ciência Política pela UBI-Universidade da Beira Interior.
Após um percurso brilhante e exemplar passou, no dia 19 de Dezembro de 2022, à ‘disponibilidade’.
Nos tempos livres gosta de fazer desporto, ler e estar com amigos.
A GUARDA: No dia 9 de Dezembro foi substituído no cargo de comandante do Comando Territorial da GNR da Guarda, função que ocupava desde Setembro de 2016. Qual o balaço que faz do desempenho destas funções?
Cunha Rasteiro: Já entre agosto 2007 e até final de 2008, tinha sido chamado a exercer funções de Comandante do Grupo Territorial da Guarda, antes mesmo da entrada em vigor da Nova Lei Orgânica da Guarda Nacional Republicana que elevou, a partir de Janeiro de 2009, a Unidade no distrito a Comando Territorial.
Fazendo o balanço de trinta e cinco anos de vida militar, trinta dos quais no distrito da Guarda, os últimos seis como Comandante Territorial, saio com o sentimento do dever cumprido, mas, em simultâneo, consciente de dívida para com todos quantos com a sua entrega, firmeza, determinação, rigor e consistência contribuíram para a Guarda que faz jus ao seu lema “Pela Lei e Pela Grei”.
Procurei cumprir os meus deveres com honestidade, respeitando a ética do serviço público, sem buscar glória nem proveito pessoal.
Esforcei-me sempre por não atraiçoar o meu código de valores, os valores morais que aprendi no berço humilde em que nasci e os valores da cidadania, decorrentes da minha concepção do mundo e da vida, que formei e consolidei nas Guardas.
Queria ainda deixar uma palavra de gratidão, orgulho, respeito e saudade dedicada aos que tombaram, dando a sua vida pela causa da liberdade e segurança. E já foram tantos… A eles presto a minha devida homenagem!
A GUARDA: Missão cumprida com louvor e distinção?
Cunha Rasteiro: Resta-me agradecer as condecorações e distinções, quer do Comandante Geral da GNR, do Município da Guarda e outras da Sociedade Civil, que as aceito com humildade e que devo agradecer, reconhecidamente, em palavras simples, para não correr o risco de abafar com a pretensa grandiloquência a autenticidade do meu agradecimento. Como é de uso cá no nosso ‘Portugal profundo’, onde nasci, limitar-me-ei a dizer: bem hajam a todos os que me reconheceram o mérito.
A GUARDA: Ouvimos dizer muitas vezes que o Distrito da Guarda é um distrito seguro. Isso é mesmo verdade?
Cunha Rasteiro: Como é do conhecimento geral, Portugal é considerado um dos países mais seguros do mundo. A criminalidade no distrito da Guarda, sobretudo a violenta e grave, apresenta níveis muito inferiores à média registada no País.
Reconhecer aqui, porém, o trabalho dos militares e civis do Comando Territorial da Guarda que constituiu, indiscutivelmente, um contributo relevante para que Portugal e este distrito em particular continuem a ser considerados territórios seguros, marca que é reconhecida aquém e além-fronteiras.
A GUARDA: E agora, como vai ser o seu futuro como cidadão e como militar?
Cunha Rasteiro: Essencialmente, pretendo continuar a ser útil à sociedade, ter uma participação cívica activa e dedicar-me a projectos de índole social.
A GUARDA: Há algum projecto solidário em que se queira envolver?
Cunha Rasteiro: Sim! Desafiei um conjunto alargado de camaradas meus, na situação de reserva e reforma, que aderiram de imediato ao repto lançado, para criarmos de uma Associação de Reformados e Reservistas do distrito da Guarda e em estreita colaboração com o Comando Territorial da Guarda. Considerando a realidade vivida por alguns dos nossos camaradas seniores, importa fomentar um importante sentimento de proximidade com a Instituição e com os camaradas por todos aqueles que há longos anos deixaram de prestar serviço activo, assim como criar mecanismos, ao nível local, que melhorem a sua qualidade de vida, promovam a sua integração social, combatam a solidão e mitiguem o isolamento que sentem.
As principais competências, desta Associação será sinalizar militares idosos que vivam em condições precárias neste distrito, diligenciar pela sua vigilância e encaminhamento para consultas médicas, dinamizar actividades de animação sociocultural, organizar viagens culturais, desenvolver acções para ocupação de tempos livres, incentivar a prática desportiva e promover eventos variados de convívio e confraternização.
A GUARDA: Regressando às suas origens, como olha para o concelho do Sabugal em termos de segurança com aldeias dispersas e cada vez mais despovoadas?
Cunha Rasteiro: O concelho do Sabugal não é diferente do Interior ou como agora se diz: Territórios de Baixa Densidade. Assistimos a uma litoralização progressiva do país, acentuando-se a tendência para o despovoamento, envelhecimento e empobrecimento das regiões do interior, as quais representam cerca de 2/3 do território nacional. A perda de coesão territorial e social nestes territórios tem vindo a agravar-se, e convoca-nos para a procura urgente de soluções que contrariem uma trajectória insustentável.
Assim, dado estarmos, no distrito da Guarda, perante um amplo território cuja densidade populacional é baixa, com núcleos populacionais marcadamente dispersos, com escalões etários altamente envelhecidos, muitas vezes sem redes de apoio familiar ou social, cabe frequentemente à GNR constituir-se como rede de apoio a necessidades que, muitas vezes, nem se encontram nas suas atribuições.
Sem prejuízo das demais áreas de intervenção que lhe estão acometidas, constituiu-se como prioridade a implementação de abordagens mais proactivas, de prevenção e disponibilidade para identificar, salvaguardar e proteger os direitos fundamentais das populações mais frágeis e desprotegidas, garantindo a sua dignidade enquanto ser humano, algo apenas exequível pela prática de uma real política de proximidade.
A GUARDA: Como classifica a sua ligação ao Sabugal e à Guarda?
Cunha Rasteiro: Orgulho-me muito de ser sabugalense. O Sabugal será sempre um local único e muito especial para mim. É a minha terra Natal, onde vivem os meus pais, onde cresci, onde tenho os meus amigos de infância, o local onde regresso à procura de “momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e incomparáveis”, como escreveu Pessoa. E o rio Côa é o mais belo rio, não apenas por ser o rio que corre e nasce no meu concelho, mas por ser um deslumbramento para os sentidos. Por tudo isso e o mais que a sensibilidade capta e porque a minha rota de crescimento pessoal cedo me desviou da terra que me viu nascer, todas as oportunidades são boas para recordar os lugares onde fui feliz e que moldaram o meu ser e a minha forma de ver e estar.
A Guarda, foi a cidade que escolhi para viver. Com quem tenho uma profunda ligação desde sempre. Aqui fiz em parte do ensino secundário, o ensino superior e onde trabalhei nos últimos 20 anos e á qual me sinto ligado por vínculos afectivos, históricos e profissionais.
A GUARDA: É um cidadão e um militar feliz?
Cunha Rasteiro: Sou um individuo realizado profissionalmente onde atingi um patamar que nem nos melhores sonhos consegui imaginar. Todos os Homens, sem excepção, procuram ser felizes e eu não sou excepção.
Quero ainda felicitar o Tenente-coronel Pedro Gonçalves, meu camarada e particular amigo, pela nomeação para Comandante do Comando Territorial da Guarda. Aliás uma excelente escolha.
Sei, porque trabalhámos juntos nos últimos 15 anos, que está preparado para abraçar este grande desafio. É dotado de sublime nobreza de carácter, forte personalidade, notável assertividade, acentuada abnegação, elevado sentido do dever e sólida formação ética, deontológica e moral. Irá com toda a certeza realizar um excelente Comando.
“Tenho uma especial proximidade com as Forças e Serviços de Segurança de Espanha, principalmente com a Guardia Civil”
A GUARDA: Como comandante do Comando Territorial da GNR da Guarda deixou a sua marca própria em diversas iniciativas, nomeadamente junto da população mais envelhecida e na cooperação com as autoridades do Reino de Espanha. Foi importante este trabalho?
Cunha Rasteiro: Há seis anos, quando assumi a função de Comandante Territorial estabeleci objectivos e compromissos, ambicionando dar continuidade ao trabalho dos meus antecessores, optando simultaneamente, por exercer uma acção de comando baseada no exemplo, na responsabilidade, na transparência e na confiança, que permitisse o envolvimento humano nos mais variados sectores, sem nunca perder o foco, de que, as pessoas eram o nosso centro de gravidade
Iniciei a minha função com os terríveis acontecimentos de Aguiar da Beira, seguiu-se os fatídicos incêndios de 2017 e nestes últimos 3 anos vivemos este período Pandémico, a exigência no planeamento e na acção obrigou-nos a uma rápida resposta. É de elementar justiça reconhecer todo o trabalho desenvolvido nesse ímpar período, valorizando a forma profissional, o espírito de sacrifício e o altruísmo demonstrados, muitas vezes exercidos em situações de extrema complexidade, demonstrando entrega e elevada capacidade de adaptação à causa pública.
Paralelamente, o desígnio da pro-actividade como vector essencial, levou a que as principais áreas de actuação merecessem um especial acompanhamento. Desde a protecção das pessoas mais vulneráveis, à redução da sinistralidade rodoviária, à protecção do património, à protecção da natureza e do ambiente, vigilância e prevenção de incêndios, à cooperação interinstitucional e internacional, entre outras, foram definidos objectivos e elaborados vários projectos, nomeadamente o Programa eGuard – teleassistência a pessoas vulneráveis, a descentralização das Secções de Prevenção Criminal e Policiamento Comunitário ao nível concelhio, a instalação de sistemas de videoporteiro nos Postos que funcionam em regime de atendimento reduzido, e, mais recentemente, o Projecto de Subposto.
A título de exemplo, destaco apenas: Projecto de Teleassistência a Pessoas Especialmente Vulneráveis, designado de eGuard. Com este Projecto pretende levar-se não só segurança, mas, também, garantir a manutenção da pessoa no seu meio ambiente, com a utilização de um dispositivo electrónico de apoio, que permite garantir respostas no âmbito da prevenção e promoção da qualidade de vida, ao combater os efeitos negativos das situações de isolamento e solidão, através da criação de respostas integradas e aproveitando as sinergias que cada parceiro poderá desenvolver.
Relembro que estes e outros projectos dinâmicos foram fruto do trabalho de equipa e do contributo de muitos: Oficiais, Sargentos, Guardas, Guardas Florestais e Civis.
Como é do conhecimento geral, tenho uma especial proximidade com as Forças e Serviços de Segurança de Espanha, principalmente com a Guardia Civil que já vem de há 30 anos a esta parte, quando em 1992, comecei a trabalhar em Vilar Formoso. Além da cooperação mútua, ficaram dezenas de amigos para a vida com quem me cruzei ao longo destes anos. Não posso esquecer os diversos reconhecimentos e condecorações das Autoridades Espanholas, principalmente a concedida pelo Rei de Espanha – Comendador de Número da Ordem de Mérito Civil de Espanha.