Entrevista: Gustavo Borges, autor do livro ‘Madre Maria Teresa do Menino Jesus – Uma biografia orante’


Gustavo Borges, autor do livro ‘Madre Maria Teresa do Menino Jesus – Uma biografia orante’, é natural de Matosinhos. Está a terminar a licenciatura em Direito pela Faculdade de Direito e Ciência Política da Universidade Lusófona do Porto. Tem frequentado algumas cadeiras teológicas em regime livre, até agora na Faculdade de Teologia da Universidade Católica do Porto.Dedica os tempos livres, à música, à escrita e ao estudo e reflexão do Pensamento Religioso actual.A GUARDA: O que é que o levou a escrever o livro ‘Madre Maria Teresa do Menino Jesus – Uma biografia orante’?
Gustavo Borges: Aproxima-se o Jubileu do Cinquentenário da Fundação do Mosteiro, que será a 19 de Março do próximo ano. Estava eu em Monte Real quando, em conversa com as Irmãs, surgiu a ideia de marcarmos o início desse Jubileu de alguma forma. Mas como? Através de um livro? Qual? Começava assim, sem contar, uma autêntica “maratona” espiritual, pois não tinha a real noção do “mundo” de força, sacrifício e Santidade que compõe os alicerces daquela Casa. A Madre Teresa fora uma das grandes descobertas da minha vida. Não tinha ainda acesso à sua verdadeira história, isto é, à sua história de vida, até ao dia nem que a Abadessa me entrega em mãos a primeira biografia escrita sobre a Madre Teresa, com a sua primeira edição na década de 70 do século passado. Comecei a ler. Li e reli. Tentava compartimentar a leitura para que não se esgotasse tudo de uma só vez. Não me apetecia parar. No fim, fechei o livro e disse para mim mesmo: «É sobre esta mulher, exatamente, que irei escrever! Ela tem que ser dada a conhecer. Uma história destas não deverá continuar a permanecer oculta.» Dava com um rasto de Santidade, de exemplar preserverança; uma ativa defensora da Dignidade Humana no estado religioso, com uma corretíssima posição de vida face a Deus e aos homens. A Madre Teresa foi uma Mulher grande, com todas as letras. Foi uma Mulher cheia de Deus.
A GUARDA: A escolha do Mosteiro das Clarissas de Monte Real, na Diocese de Leiria-Fátima para fazer a apresentação do livro, teve algum significado especial?Gustavo Borges: Teve um significado bastante especial, foi emocionante, deveras. E não prometia ser menos. A escolha do Mosteiro de Monte Real para o primeiro lançamento foi muito especial em dois sentidos: ser o primeiro e no local onde foi. Estávamos na sua Fundação, na “menina dos seus olhos”. O Mosteiro de Monte Real representa o culminar de toda a sua peregrinação, em termos visíveis. Daí esta escolha ser tão preponderante quanto sensível para este efeito. A suas “filhas” estariam presentes, particularmente aquelas que privaram com ela, as que a conheceram e acompanharam neste empreendimento. A primeira de todas as suas discípulas é a atual Abadessa, a Madre Maria Clara. Não fazia qualquer sentido, portanto, que o primeiro lançamento não fosse feito ali. Agora, estão previstos outros lançamentos. O segundo, aliás, será já no próximo dia 11 de Setembro, no Porto, e já me encontro em conversações com o Município de Celorico da Beira para que, em breve, se realize também lá um lançamento. Faz todo o sentido que aconteça em Celorico, como já está bem de ver.
A GUARDA: De forma resumida, quem foi a Madre Maria Teresa do Menino Jesus?Gustavo Borges: A Madre Maria de Santa Teresa do Menino Jesus fora uma alma fiel, acima de tudo. Como escrevera o outrora bispo de Bragança D. Manuel de Jesus Pereira, contemporâneo da Madre Teresa, ela fora uma «autêntica mãe». A Madre era uma mulher formada e bem formada. Era professora e, no fundo, nunca o deixara de ser, pois já no Louriçal se dedicara ao ensino e à instrução das Irmãs mais analfabetas, daquelas que mal sabiam ler. O que me impressiona é a determinação com que a Madre Teresa atuava em tudo. Aquilo a que se dispunha era para levar até ao fim, custasse o que custasse. E a confiança? Era de ferro. Enquanto as Irmãs pensavam num determinado assunto e ponderavam os prós e os contras, já a Madre Teresa estava a arregaçar as mangas e, com toda a audácia, a pôr mãos ao trabalho. Ela não pensava. Deus pensava por ela. Ela, simplesmente, era instrumento. A Madre Teresa, na sua vida, representa a uma série de dinamismos e descreve-se em palavras, tais como: Humanismo, Dignidade da Mulher no seu estado religioso, Educação, Caridade, Diplomacia, Transcendência espiritual, Sensibilidade ao próximo, Amor levado ao extremo da vida, Determinação, Confiança, Trabalho, Perdão. Para a Madre Teresa, não interessava que o edifício estivesse mais branco ou mais preto, com mais buraco ou menos viga. Ela viu-se obrigada a investir nas estruturas, não porque fossem monumentos nacionais (Louriçal) ou porque poderiam tornar-se uma obra de arte fantástica para a posteridade (Monte Real, com toda a sua sobriedade). Nada disso! A Madre multiplicava os esforços nesse sentido, a fim de que as Irmãs pudessem viver, isso sim, em condições minimamente condignas para qualquer Ser Humano e, nomeadamente neste contexto, para um regular e confortável funcionamento da vida Comunitária. Nem que tivesse ela de dormir com a cabeça numa pedra, mas nunca uma Irmã, uma “filha”. Acaso uma mãe não tira da sua boca para dar aos seus filhos? Como mãe, com aquele toque de mestria próprio, assim a Madre Teresa se atirava, nunca em desespero, às lutas mais intensas, para que na mesa jamais faltasse um pedaço de pão para alimentar as Irmãs. A Madre Teresa era de todas e para todas. Esse fora o “edifício” pelo qual ela zelou com a maior entrega de si: o Edifício Espiritual; o Edifício Humano, construído de Pedras Vivas. Mulher frágil e com a saúde mais que uma vez por “um fio” (insuficiência cardíaca), deixava os médicos e as Irmãs boquiabertos e sempre em estado de grande alerta, pois, nunca se resignando ao seu estado débil, levantava, com força de gigante, as maiores fortalezas. Fora, toda ela, consumida num Holocausto de Amor até o seu coração, literalmente, colapsar.  A GUARDA: O que é que o leitor pode encontrar ao ler este livro?Gustavo Borges: Ao ler este livro, o leitor poderá encontrar uma biografia um tanto sintetisada, pois a primeira biografia já existe, na qual nos debruçamos, sobretudo, em dados e factos históricos no que concerne à sua vida. Contudo, pretendeu-se com esta obra, especialmente, um devocionário, isto é, termos os traços biográficos da Madre Teresa lidos, percorridos, vividos, rezados e meditados. Daí o livro ser uma bioografia orante. O que nos motivou não fora somente a fascinante vida desta religiosa, mas também a fama de Santidade que lhe está associada. Levou-me, pois, a descobrir pequenos focos de devoção muito dispersos e espalhados, constituídos por pessoas que de alguma maneira tiveram contacto com a Madre Teresa em vida ou através da sua primeira biografia escrita pela Imã Maria do Rosário Franquinho, que fora uma das suas primeiras discípulas na Fundação de Monte Real e que, por isso, conhecera bem a Madre Teresa, privara com ela. Ainda mais curioso fora descobrir três orações antigas, aprovadas, à época, pelo então bispo de Leiria-Fátima, D. Serafim Ferreira e Silva. Estas orações, pedindo a intercesssão da Madre, foram compostas pelas Irmãs por ocasião do centenário do nascimento da Madre Teresa, celebrado em 2005, e aprovadas por D. Serafim um ano depois. Já poderíamos considerar um pequenino passo quanto ao reconhecimento do grande testemunho que a Madre Teresa significava, ou seja, um «degrauzinho» subido no que toca ao reconhecimento da heroicidade que está patente nas suas virtudes. Foram, precisamente, todo este tipo de elementos que recolhi para este livro.
A GUARDA: É importante dar a conhecer a sua biografia orante?
Gustavo Borges: Considero que sim, pois nunca é demais conhecermos a vida concreta daqueles e daquelas que se revelaram testemunhos autênticos, verídicos, daquilo que é o compromisso cristão, ou seja, vidas que nos estimulam pelo seu exemplo, pela sua integridade, pela sua heroicidade, pela sua grandeza, pela sua perfeita união e sintonia com Deus. São estes homens e mulheres de Fé que nos atestam como isso fora tudo possível nas suas vidas, tornando-se assim subsídios, eles mesmos, para que isso possa realizar-se, também, em cada um de nós. Seguramente, ninguém nasce santo. Os santos não nascem; fazem-se.
A GUARDA: A vida de Madre Maria Teresa do Menino Jesus está ligada à Quinta da Gil, freguesia de Vide-Entre-Vinhas, no concelho de Celorico da Beira. Como é que esta ligação é abordada no livro?
Gustavo Borges: É muito simples: a obra está estruturada em nove capítulos, ou dias. Fazemos um percurso transversal àquele que fora o panorama de vida da Madre Teresa. Começamos no primeiro dia com o seu nascimento; o nono será, como está bem de ver, a sua morte. Portanto, Celorico da Beira aparece logo na “abertura de cena”, digamos assim. Começamos pelo seu “Berço”, pela sua terra natal. É um importante elemento identitário da Pessoa, indissociável da sua história, pois é o lugar primeiro que nos concretiza no espaço; é a nossa origem, portanto. Vide-Entre-Vinhas – mais concretamente, na grande propriedade agrícola do seu avô, chamada Quinta da Gil - fora a aldeia que vira a Madre Teresa nascer, onde esta fora batizada e onde passara os primeiros anos da sua infância até, praticamente, à idade de entrar para a escola primária, altura essa em que Joaquina se muda com os pais e irmãos para a uma freguesia vizinha: Cortiçô da Serra. E a pequena Joaquina ia crescendo… 
A GUARDA: Podemos dizer que temos uma religiosa, natural da Diocese da Guarda, a caminho dos altares?
Gustavo Borges: Bem, não o podemos dizer com toda a certeza, mas sim com toda a esperança. Pretende-se trabalhar para que o seu Processo Canónico de Beatificação se abra e oxalá a Igreja se digne debruçar sobre a vida desta serva de Cristo. Contudo, não está em causa, somente, todo o infindável e exaustivo conjunto de trabalhos necessários à investigação para que a prosecussão de um processo destes se torne viável. Estão em causa, na mesma medida, sinais. São sinais que nos chegam através do tempo e que só Deus no-los pode dar.