Uso dos meios de comunicação marca tempo de pandemia

Sérgio Paulo Duarte Mandes é padre da Diocese da Guarda e, desde 2012, está no Luxemburgo, onde ajuda a comunidade portuguesa e é Provedor da Santa Casa da Misericórdia. Em tempo de pandemia usa os meios de comunicação para estar mais próximo das pessoas. Tem 46 anos, é natural de Tazem, freguesia de Vila Nova de Tazem. 
“Celebramos a nossa fé em português e, por vezes, somos convidados a celebrar juntos. A comunidade portuguesa é um exemplo de fé e de participação na e em Igreja e o padre deve fazer esta ligação... criar esta ponte”, considera o padre Sérgio Mendes sobre a presença da comunidade portuguesa, na vida da igreja no Luxemburgo. Este sacerdote da Diocese da Guarda considera que “no Luxemburgo nunca houve uma Missão Católica Portuguesa instituída” apesar de ser aceite. E acrescenta: “Não passa de ser uma comunidade de língua portuguesa que participa à sua maneira na vida da Igreja e isso sempre foi tolerado com mais ou menos dificuldades, pois temos de partilhar espaços”. Durante o confinamento, no Luxemburgo, o padre Sérgio Mendes procurou estar próximo da comunidade portuguesa através da difusão da Missa Dominical na Radio Latina (rádio portuguesa no Luxemburgo que transmite a eucaristia dominical sempre entre as nove e as dez horas de Domingo). “Como sentia que era pouco comecei a fazer uma pequena oração que colocava no facebook para poder comunicar com as pessoas, em colaboração com o Rui e a Arminda que trabalham na Alemanha, em Ausgbourg, onde são responsáveis da comunidade portuguesa. Tento chegar às pessoas através destes meios de comunicação e tenho recebido algum retorno”, desabafa Sérgio Mendes.  No aspecto social, durante a pandemia, não houve muitos pedidos e os que apareceram foram sendo resolvidos. Considera que esta questão é bem mais notória e palpável na Caritas do Luxemburgo onde houve mais pedidos de ajuda. Sérgio Mendes pensa que “há muita pobreza envergonhada e que muita ainda não surgiu”. E acrescenta: “Acredito que depois de melhorarmos as questões de saúde virão as questões económicas”.
Começo difícil 
No Luxemburgo desde Janeiro de 2012, sentiu a dificuldade da comunicação e do acolhimento dos padres locais quando, nas reuniões, o francês era substituído pelo luxemburguês. “Os primeiros tempos, não posso dizer que foram felizes, pois foram difíceis”. A falta de definição sobre o trabalho que iria realizar, o local onde iria morar e a frieza dos padres portugueses que o acolheram, marcaram profundamente os primeiros meses da presença do padre Sérgio Mendes em terras do Luxemburgo. Teve de viver sem salário e sem casa, sendo acolhido por um familiar. Mais tarde teve direito a um quarto, na Santa Casa da Misericórdia do Luxemburgo, uma benesse que, passados seis meses, teve de pagar.“Economicamente foi duro no início”, desabafa o padre Sérgio Mendes que, apesar de ter sido enviado pelo Bispo da Guarda, se sentiu e sente completamente esquecido. Quando iniciou o contacto com a comunidade portuguesa no Luxemburgo as coisas foram melhorando aos poucos. E explica: “A comunidade é numerosa, assídua e muito participativa... costumo dizer que os emigrantes são sempre uma selecção portuguesa... claro que nas pessoas há para todos os gostos, mas como comunidade é uma comunidade que apaixona e que alenta à missão”. Começou a trabalhar com o Agrupamento de Escuteiros de Santo Afonso, agrupamento português no Luxemburgo, avançou com um novo projecto de catequese e conheceu o movimento Encontro Matrimonial. Sérgio Mendes adianta que na comunidade portuguesa “o papel do padre é o do pastor que acompanha o rebanho, que faz a ligação entre o bispo diocesano, pois ele é o verdadeiro pastor da comunidade portuguesa e muitas vezes o tem demonstrado”. E acrescenta: “A comunidade portuguesa vive como se uma paróquia se tratasse, inserida noutra paróquia”. 
Misericórdia do Luxemburgo
Na ligação com os portugueses, destaca o papel da Santa Casa da Misericórdia do Luxemburgo, da qual é o presidente e que foi instituída com o padre Belmiro e o padre Melícias. Em tempo normal, é ali que decorrem todos os encontros de catequese, formação, Encontro Matrimonial, reuniões de jovens. “É a casa que serve de apoio para a comunidade portuguesa e que ao domingo serve almoços aos irmãos e sócios e amigos...um ponto de encontro e partilha interessante, com a boa cozinha portuguesa”, explica Sérgio Mendes. É também a partir da Misericórdia que se desenvolve o aspecto social, com a distribuição de roupas e brinquedos usados, mobílias, com um banco alimentar que vai ajudando cerca de 15 famílias sinalizadas.Em quase dez anos de presença no Luxemburgo, Sérgio Mendes faz uma avaliação muito positiva desta experiência que lhe abriu “os horizontes em muitos aspectos e culturas”. E acrescenta: “Quem pode avaliar melhor esta experiência será a comunidade e, com certeza, o senhor Bispo, que me convidou já a incardinar-me nesta diocese e eu neguei, por não dominar a língua (luxemburguês) e porque me sinto sempre Português e um Português da serra... um serrano verdadeiro”.