Entrevista: Duarte Sérgio Silva Martins, autor do livro “Nugae, Impressões do Crepúsculo”


Duarte Sérgio Silva Martins, autor do livro “Nugae, Impressões do Crepúsculo”, é natural da Guarda – Sé. Estudou na Escola regional Doutor José Dinis da Fonseca - Outeiro de São Miguel, Escola Secundária Afonso de Albuquerque, Universidade de Coimbra - Faculdade de Letras.
Nos tempos livres gosta de ler, escrever, caminhar, ir ao cinema, teatro, visitar monumentos, museus e exposições, ir à praia, viajar, ouvir música…
A Guarda - Quem é que é Duarte Martins e o que é que o liga à Guarda?

Duarte Martins: Fernando Pessoa responderia - “quem me dirá quem sou?” Duarte Martins é um cidadão português, nado e criado na Guarda. Após alguns anos a estudar em Coimbra regressou à sua cidade natal - a Guarda, onde trabalha e vive. A Guarda foi, é e será sempre a sua cidade, ainda que goste muito de viajar volta sempre ao ponto de partida, a Guarda. A qualidade de vida na Guarda é boa, ainda que, como é óbvio, haja sempre aspectos a melhorar. Quanto ao cidadão Duarte Martins, falarmos de nós próprios é sempre uma tarefa difícil! Convido pois quem quiser saber um pouco mais sobre o dito senhor a ler a restante parte da entrevista e, consequentemente, se possível, ler o seu livro a que na mesma se alude…

A Guarda - Sendo licenciado em Línguas e literaturas Clássicas pela Universidade de Coimbra, profissionalmente também já desempenhou várias actividades na área da distribuição, como carteiro. Como foi essa experiência?

Duarte Martins: Já desempenhei diversas tarefas na área da distribuição em várias empresas, entre elas, carteiro. Por motivos vários nunca cheguei a exercer na área em que sou licenciado. A experiência na área da distribuição foi muito enriquecedora, quer a nível pessoal, quer a nível profissional. Fiz grandes amizades, quer com colegas de trabalho, quer com clientes. Aprendi muito…

A Guarda - Como apareceu o gosto pela literatura em geral e pela escrita?

Duarte Martins: O gosto pela literatura apareceu já há muitos anos, na minha infância. Os tempos eram outros, também por influência familiar e num tempo em que os ecrãs estavam ausentes, a literatura levava-me como ainda hoje acontece a descobrir “novos mundos”. O mundo imenso para onde a literatura nos consegue conduzir é algo de único, universos alternativos com histórias e situações incomparáveis que de outro modo nunca teríamos oportunidade de vivenciar. Associado a este gosto pela literatura e já numa fase posterior surgiu de uma forma mais ou menos espontânea o desejo de escrever, desabafar com o papel por vezes é mais fácil, extremamente catártico e quando dei por mim estava a escrever… Clarice Lispector dizia: “eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida”.

A Guarda - O que é que o levou a publicar o livro de poesia “Nugae, Impressões do Crepúsculo”?
Duarte Martins: Publicar um livro era um sonho já de há muito tempo. Por vários motivos nunca tinha surgido essa oportunidade. Vi o anúncio da editora na internet e decidi enviar alguns poemas da minha autoria, sem compromisso e esperar pela reposta. Felizmente a reposta foi muito positiva e depois foi o desenrolar normal do processo até ter nas mãos o livro, uma sensação única, diga-se. Espero sinceramente que os leitores possam desfrutar do meu livro, leiam os poemas, se identifiquem com eles e passem muitos e bons momentos de agradáveis leituras.

A Guarda - Já tinha participado no oitavo volume da antologia de poesia contemporânea “Entre o Sono e o Sonho”?

Duarte Martins: Participei em vários concursos literários em diversas modalidades desde poesia a conto e texto dramático. No ano transacto enviei um poema “Declaratio Amoris” para a referida antologia, volume XIII, o qual foi selecionado para incorporar a mesma, poema que se encontra também na contracapa do meu atual livro, que curiosamente é da mesma editora.

A Guarda - Para além da poesia também escreve peças de teatro?

Duarte Martins: Sim, escrevo contos e também já escrevi duas peças de teatro. Este ano na 23ª edição do Prémio Literário Dr. João Isabel, promovido pela Câmara Municipal de Manteigas, fui contemplado com o 3º prémio na modalidade texto dramático com uma das peças que escrevi: “Do Vt Des”, o que obviamente me deixou muito satisfeito. O grande objectivo além de conseguir no futuro editar as ditas peças de teatro seria com certeza poder vê-las em cena. Enfim assim o espero, que num futuro não muito distante este sonho se possa realizar…

A Guarda - Numa época em que o digital tomou conta da vida das pessoas, considera que ainda faz sentido a publicação de livros?

Duarte Martins: Seria muito incoerente da minha parte, agora que acabo de lançar um livro dizer que a publicação de livros não faz qualquer sentido nos dias de hoje. Eu continuo a ser um leitor voraz, regra geral ando sempre com um livro, vá para onde for e continuo a ser um comprador compulsivo de livros. Por vezes defronto-me já com um problema de espaço para dispor os ditos. Aqui há alguns anos alguém “decretou” para muito breve o fim do livro físico em detrimento do digital, bem como dos jornais em papel. Felizmente tal não aconteceu e passados alguns anos após tão catastrófica profecia, os livros em papel continuam por aí. Parece-me que é muito mais cómodo um livro em papel, não está sujeito a contingências como uma bateria que teima em acabar quando se quer prosseguir em direcção à próxima página e de repente nos “deixa pendurados” e “em suspense”, e a possibilidade de sublinhar ou comentar na página é algo de único e que a mim me dá muito gozo.

A Guarda - No seu ponto de vista o que é necessário fazer para motivar as gerações mais novas para a escrita e para a leitura?

Duarte Martins: Motivar as gerações mais novas para a escrita e a leitura é certamente uma tarefa hercúlea, mas não impossível. Parece-me importante que desde muito cedo os pais possam ler histórias aos seus filhos, e assim desde tenra idade criar o gosto pela leitura. Depois de serem assíduos ouvintes de histórias possam também ser eles mesmos frequentes leitores. Por outro lado esta será sempre uma forma importante de os afastar dos ecrãs e de enriquecerem o seu vocabulário e terem contacto com outras culturas e formas de pensar, criando assim também no futuro cidadãos mais informados e tolerantes perante outras culturas muitas vezes tão diferentes da nossa. Quanto à escrita também me parece que se for incentivado esse gosto de passar para o papel aquilo “que lhes vai na alma” e que por vezes se torna difícil e constrangedor exprimir verbalmente podem com certeza ganhar o gosto pela escrita. O caminho a percorrer não é fácil, mas com persistência pode-se levar os mais novos a desfrutar de outros prazeres que não venham apenas dos ecrãs, das imagens e do movimento que destas emana. Para terminar, diria que é uma óptima forma de estimular a imaginação das crianças e não lhes apresentar “a papinha já toda feita”.