Entrevista: Jorge Augusto Maximino, director e programador do Festival e Poesia e Música de Vila Nova de Foz Côa


Jorge Augusto Maximino, director e programador do Festival e Poesia e Música de Vila Nova de Foz Côa, é natural de Vila Nova de Foz Côa. Estudou em Paris (Estudos Europeus na Universidade de Paris 8 e Doutoramento na Universidade de Paris-Sorbonne).
Nos tempos livres gosta de assistir a espectáculos de música e teatro, bem como passear no espaço natural, em montanhas.
A GUARDA: Como apareceu o Festival de Poesia e Música de Vila Nova de Foz Côa?

Jorge Maximino: Este Festival surgiu depois de um de desafio que lancei aos dirigentes de uma associação quando me perguntaram, numa reunião, se tinha alguma ideia sobre um novo projecto cultural para realizar em Foz Côa. A reunião era de balanço de uma festa da amendoeira realizada uns dias antes, com assinalável sucesso. Fiz a proposta para se realizar um Festival de Poesia. Eram pessoas sem ligação específica às artes e perguntaram-me porquê. Precisavam de uma justificação e expliquei que era por duas razões muito concretas: primeiro, “poesia” neste contexto era para considerar num sentido amplo, pois seria um festival dedicado às artes, uma iniciativa multidisciplinar; segundo, porque Portugal não tinha um festival deste género, nem sequer um festival literário. Com o arranque em 1984 foi mesmo o primeiro do país.

A GUARDA: Quais os grandes objectivos deste Festival e quem são os principais destinatários?

Jorge Maximino: Os grandes objectivos, quase quatro décadas depois são os mesmos: promover a leitura e as artes em geral, em formatos diversos na sua exposição e abordagens para todos os públicos, com destaque especial do público infantil juvenil, especialmente nas sessões realizadas em parcerias com as escolas da região. Em paralelo realizam-se debates sobre temas específicos da arte e da cultura, considerando a sua pertinência no quadro específico da programação e da actualidade social.

A GUARDA: A edição deste ano acontece depois de uma pausa forçada devido à pandemia. Considera que já estão reunidas as condições para que o Festival decorra dentro da normalidade?

Jorge Maximino: Sim, penso que a esse título é consenso neste momento por todo o país, já com a vacinação generalizada, poderá mesmo vir a ser o primeiro evento sem de uso da máscara em espaços fechados se a obrigatoriedade terminar no próximo dia 19.

A GUARDA: Juntar poesia e música é natural ou é um desafio?

Jorge Maximino: Juntar a poesia à música é de certo modo natural e direi mesmo também um desafio. Desafio tanto ao nível do trabalho de programação, no que diz respeito aos objectivos, como em termos de equilíbrio da dinâmica programática, das suas linguagens estéticas enquanto expectativa dos públicos. Observo ainda que dada a importância desde o início à área musical, passou depois a designar-se Festival de Poesia e Música.

A GUARDA: De que maneira é que os espaços e as ruas vão ser palco de uma ode contra a violência?

Jorge Maximino: Está relacionado com o facto desta edição de 2022 ter “ A arte contra a violência” como temática genérica do programa. Temática que foi escolhida em 2020 e que transita para este ano uma vez que o Festival não se realizou durante dois anos em virtude da situação pandémica. A violência, que já era uma realidade preocupante tornou-se agora de uma actualidade imprevista com mais esta guerra com implicações no mundo inteiro e que está a transformar a vida dos europeus.

A GUARDA: Homenagear Maria Teresa Horta, porquê?

Jorge Maximino: A primeira razão desta homenagem deve-se à importância da obra literária da autora no quadro nacional, pois trata-se de uma das mais representativas da segunda metade do século XX e início deste século; em segundo lugar, porque precisamente enquadra-se na temática geral desta edição, sendo a esse título uma das mais significativas, uma vez que não podemos desligá-la das circunstâncias sociais e políticas em que a obra desta autora surgiu, tendo sido, como outras da mesma geração, uma forma de contestação ao regime de ditadura, além da sua qualidade estritamente literária. A própria autora foi perseguida e a sua obra censurada, incluindo um processo em tribunal, muito exposto pelos media em 1972, como todos sabemos.

A GUARDA: Quais os grandes destaques da edição deste ano do Festival? É uma iniciativa para continuar?

Jorge Maximino: Os destaques deste ano são, por um lado, o Colóquio-Homenagem a Maria Teresa Horta, que coloca em foco especialmente a sua poesia, os espectáculos de poesia e, por outro, além das leituras com poetas e músicos convidados, o concerto muito orientado para o público jovem, precedido de uma conversa com estudantes, do artista de rap MAZE, que terá a participação de Francesco Valente.
O Festival de Poesia e Música de Vila Nova de Foz Côa, que decorre de 21 a 23 de Abril, em Vila Nova de Foz Côa.