Entrevista: Padre Joaquim Pires Sequeira, ordenado sacerdote há 60 anos


Joaquim Pires Sequeira nasceu em Avelãs de Ambom, em 18 de Outubro de 1938. Frequentou a Escola Primária de Avelãs de Ambom e mais tarde os seminários do Fundão e Guarda. Foi ordenado sacerdote a 19 de Agosto de 1962. Actualmente é pároco de Lagarinhos, Lages, Rio Torto e Vila Nova de Tazem.
Gosta de passear ao ar livre (se o tempo o permite) e contemplar a natureza.
 A GUARDA: Este ano está a celebrar 60 anos de ordenação sacerdotal. O que recorda desse acontecimento tão importante da sua vida?

Joaquim Sequeira: Tanta coisa (!), começando pelos sonhos e projectos com que esperei e vivi o dia 19 de Agosto de 1962, data de ordenação sacerdotal em Trancoso e a primeira missa celebrada na Igreja Paroquial da minha aldeia, no dia 20, rodeado dos familiares, conterrâneos e amigos. E depois tantos acontecimentos e situações que me falam da misericordiosa presença de Deus e são motivo de acção de graças.

A GUARDA: É natural de uma aldeia de onde saíram vários sacerdotes. Tem alguma explicação para o florescer de tantas vocações em Avelãs de Ambom?

Joaquim Sequeira: Vendo os acontecimentos apenas com olhos humanos não encontramos explicação fácil.
Sabemos, que a vocação, qualquer que seja, tem a iniciativa em Deus, que chama quem quer. Mas conta com a nossa colaboração e, concretamente, com a das famílias. E o ambiente de vida cristã, existente na maior parte das famílias, fomentado pela acção de vários párocos e com manifestações concretas, era o campo propício. E a oração frequente, o amor à Eucaristia e a devoção verdadeira a Nossa Senhora, tudo isso atraía a graça de Deus e a força para corresponder.

A GUARDA: Foi ordenado sacerdote no ano em que teve início o Concílio Vaticano II. Como é que viveu essa reunião magna da Igreja?
Joaquim Sequeira: Com expectativa perante algo que era novidade e acompanhando, como era possível nesse tempo, o desenrolar dos trabalhos. Depois a alegria e o esforço de aplicações das orientações conciliares, sobretudo os que se referiam à Liturgia. Abriram-se horizontes novos. Mas sabemos que nem tudo tem sido positivo, nem interpretado correctamente. Julgo que ainda temos muito caminho a percorrer no conhecimento e aplicação da mensagem contida nos diversos documentos do Vaticano II.

A GUARDA: Quais os lugares por onde passou ao longo destes 60 anos de sacerdócio?

Joaquim Sequeira: Pouco tempo depois da ordenação sacerdotal fui nomeado pároco de Avelãs da Ribeira e Vila Franca do Deão, onde permaneci desde Outubro de 1962 a Dezembro de 1967. Guardo boas recordações desse tempo, apesar das dificuldades e limitações, pois com os sacerdotes vizinhos e quem os acompanhava, vivíamos um ambiente de família e equipa de trabalho pastoral.
Em princípios de 1968 segui para Moçambique, onde estive até 1970, como Capelão militar, no distrito de Tete.
Os últimos meses, já na cidade de Tete, também colaborei com os padres combonianos, no trabalho com jovens.
Regressado em Junho, tomei conta das paróquias de Girabolhos e Lages, em Outubro de 1970. Em 1981 fui encarregado, também, de Vila Nova de Tazem e, mais tarde, de Cativelos, após a morte do pároco, Padre José Roque. Alguns anos mais tarde deixei Girabolhos e Cativelos para me ocupar de Rio Torto e Lagarinhos, continuando com as quatro paróquias, já algumas dezenas de anos.

A GUARDA: Continua a publicar o jornal “Voz das Paróquias”. É importante manter este meio de comunicação e evangelização?

Joaquim Sequeira: O Jornal “Voz das Paróquias” deixou de publicar-se em Abril de 2020, depois de quase quarenta anos de existência.

A GUARDA: O que é que mais o marcou como sacerdote?

Joaquim Sequeira: O dar-me conta de poder ser instrumento de Deus para ajudar as pessoas, sobretudo no sacramento da confissão.

 A GUARDA: Como olha para o futuro da Igreja na Diocese da Guarda perante a actual escassez de vocações?
Joaquim Sequeira: Com esperança e optimismo realista, porque a Igreja é de Jesus Cristo e Ele não perde batalhas e está sempre presente. Mas conta com a nossa colaboração e esta pode faltar. A actual situação julgo ser um sinal através do qual Deus nos está a falar. Estaremos atentos e com vontade de O escutar?