Entrevista: Rita Almeida, Fundadora e Treinadora da Escola de Futebol Feminino da Guarda
Rita Almeida, uma das fundadoras e treinadora da Escola de Futebol Feminino da Guarda, é natural da Guarda. Estudou na Escola Superior de Desporto de Rio Maior.
Nos tempos livres gosta de estar rodeada dos amigos e da Família e, claro, o futebol.
A GUARDA: Como e com que objectivos apareceu a Escola de Futebol Feminino da Guarda? 
 
Rita Almeida: Numa conversa de café, passado um mês do nosso primeiro treinador ter falecido, decidimos fazer um jogo para o homenagear. Na altura tinha voltado para a Guarda e fui convidada a ficar com as meninas da selecção sub-16 do distrito. Qual não foi o meu espanto quando, no primeiro treino, aparecem apenas 5 atletas. Em conversa com a Diana (presidente do clube), decidimos fazer um treino aberto para ver realmente se havia meninas a gostar de futebol no nosso distrito, e assim foi. Apareceram cerca de 30 atletas nesse treino, o que me levou a pensar que se poderia fazer uma coisa “engraçada”. Daí surgiu a ideia de criarmos um Torneio Feminino, no qual levávamos logo uma equipa com essas atletas que tinham aparecido, fazendo também o jogo para homenagear aquele que para mim foi um “Pai” no mundo do futebol, professor Segura Fernandes. Depois do torneio decidi ficar pela Guarda e em conjunto com as outras duas fundadoras criarmos um clube do zero só para meninas dos 4 aos 18 anos.
 
A GUARDA: É mesmo um clube feito de mulheres para mulheres (muitas delas ainda meninas)? 
 
Rita Almeida: Sim, este clube mostra um pouco a força da mulher no desporto neste caso do futebol, a força em saber que somos capazes de criar algo do zero e trabalhar para que tudo dê certo e, acima de tudo, formar futuras mulheres. 
 
A GUARDA: A história da Escola de Futebol Feminino da Guarda começou em Agosto de 2019 e poucos meses depois apareceram os primeiros casos da pandemia de Covid19. Como é que foi lidar com este desafio? 
 
Rita Almeida: Dia 6 de agosto de 2019 é a data da nossa fundação e passado meio ano parámos os treinos e jogos. Ao início foi complicado e, enquanto treinadora, reparei depois mais tarde que o que tínhamos aprendido nos primeiros meses se tinha “perdido”, a nível táctico principalmente. Contudo temos um grupo muito jovem e durante a pandemia criámos formas de estarmos sempre em contacto com todas. Treinos online, quiz de perguntas entre atletas de forma também online, conferências com pessoas convidadas que abordaram temas do desporto, tais como nutrição, fisioterapia, atletas profissionais, etc... Tentámos, acima de tudo, continuar ligadas e em “Família”, a Família do Futebol.
A GUARDA: Quantas atletas já estão inscritas na Escola de Futebol Feminino da Guarda? 
 
Rita Almeida: Até ao dia de hoje temos 74 atletas inscritas.
 
A GUARDA: Onde está localizada a sede da Escola de Futebol Feminino da Guarda e que instalações desportivas que utiliza nos treinos das atletas? 
 
Rita Almeida: A Sede está localizada no centro da Cidade, na avenida Cidade Safed. É o local onde tratamos também as atletas e onde temos um ginásio para os sócios e para as nossas atletas. O estádio municipal é onde treinam e competem as nossas sub.19. O campo do Zâmbito é o local de jogos das sub.15 e o pavilhão de São Miguel é onde treinam as nossas escolinhas.
 
A GUARDA: O Clube organiza o Torneio 5 F’s Cup. O que é este evento?
 
Rita Almeida: Como já referi esse torneio foi criado depois do treino aberto, onde apareceram aquelas miúdas todas, e como iriamos fazer também o jogo de homenagem para o professor Segura, decidimos assim trazer um torneio de sub.19 feminino à nossa cidade.
 
A GUARDA: Que outras actividades estão programadas pelo Clube? 
 
Rita Almeida: Em todos os jogos e torneios tentamos sempre fazer um bar juntamente com os nossos sócios e familiares e criar um convívio. Conseguimos este ano ter um protocolo com o Sporting Clube de Portugal. Para este verão já temos alguns torneios onde vamos participar e outras actividades para as nossas atletas, mas ainda é “segredo” e estamos a organizar ainda tudo.
 
A GUARDA: Quem é que pode fazer parte da Escola de Futebol Feminino da Guarda? 
 
Rita Almeida: Todas as meninas dos 4 aos 18 anos.
 
A GUARDA: De forma geral como olha para a prática desportiva no concelho da Guarda?
 
Rita Almeida: Existem muitos clubes na nossa cidade, o que por um lado dificulta sempre os campos de treino e jogos. Poucos campos e pavilhões. Trabalhei fora e treinava pelo menos 3 vezes por semana e aqui não me é de todo permitido. As nossas escolinhas, na época passada, eram cerca de 30 e apenas nos foi dado 1 hora de pavilhão por semana, contudo, aos domingos, o clube pagava o pavilhão de um clube aqui perto da cidade e levávamos as miúdas para outro pavilhão para que elas tivessem mais um treino semanal. As nossas sub.19 competem no campeonato nacional, jogam apenas contra meninas e a competição é desafiante. Nos outros escalões mais jovens é diferente, estamos no interior e não há competição para elas, as nossas meninas que estão agora nesta fase a disputar a taça nacional de sub.15, durante o campeonato jogam nos Infantis, campeonato distrital, o que para elas não é tão motivante em termos de jogo e que para mim, enquanto coordenadora técnica do clube e treinadora, se torna difícil de organizar, pois os jogos são alterados todas as semanas e nunca temos um planeamento anual ou pelo menos mensal, coisas que não acontecem no campeonato nacional de sub.19 e taça sub.15, pois sabemos as datas de todo campeonato, antes de começar a competir. O que facilita o nosso planeamento e gestão. No geral, e a meu ver, com mais recursos materiais, neste caso campos de futebol e pavilhões desportivos para todas as modalidades, a prática desportiva poderia aumentar e ter ainda mais qualidade no nosso concelho. Acredito que com mais e melhores condições no nosso concelho e principalmente na nossa cidade, os egitanienses que vão estudar para fora, possam voltar “a casa” e contribuírem com a sua formação a criar futuros projectos, tal como nós fizemos, pois o importante é fazer as crianças felizes, formando-as como futuros cidadãos com valores que o desporto sempre incutiu.