“Operamos em três áreas: comércio electrónico e economia circular, inovação e impacto social e desenvolvimento de soluções tecnológicas”


Ricardo Morgado, co-fundador da empresa “The Loop Co”. É natural de Gouveia. Estudou Engenharia Biomédica, na Universidade de Coimbra.Gosta de ler, fazer desporto e ouvir um bom podcast. Quando tem mais tempo, nada melhor do que um passeio pela Serra da Estrela.
A GUARDA: O que é e como surgiu a startup ‘The Loop Co’? 
Ricardo Morgado: A The Loop Co. é uma empresa multiproduto que opera a partir de Coimbra, terra da maioria dos fundadores e onde todos nós estudámos. Criámos a startup em 2016 com a Book in Loop, uma plataforma destinada à compra e venda de manuais escolares em segunda mão. O nosso objectivo era criar um sistema organizado que permitisse a todas as famílias a venda de manuais escolares, em condições de reutilização, assim como a sua compra. Entretanto, a empresa foi crescendo, acompanhámos as tendências do mercado, as necessidades dos consumidores e dos nossos clientes e, actualmente, operamos em três áreas: comércio electrónico e economia circular, inovação e impacto social e desenvolvimento de soluções tecnológicas. 
A GUARDA: O que define por economia circular e inovação social e tecnológica? 
Ricardo Morgado: Acreditamos que o tempo de vida útil de alguns produtos é muito superior àquele durante o qual habitualmente os utilizamos. Por isso, vemos a economia circular como uma área de negócio que permite prolongar a utilização dos produtos, promovendo a sustentabilidade ambiental, e que, ao mesmo tempo, traz vantagens económicas para quem opta pela via do consumo sustentável – além das questões ambientais, claro. Na The Loop Co. desenvolvemos esta vertente através de dois produtos distintos: a Book in Loop, para a reutilização de livros escolares, e a BabyLoop, uma plataforma que permite às famílias portuguesas comprar e vender produtos de puericultura, desde carrinhos, berços e outros acessórios de bebé, em segunda-mão, com garantia de qualidade e segurança. Relativamente à inovação social estamos a desenvolver na Universidade de Coimbra, com o apoio da Fundação Gulbenkian, o UniLoop, um programa de economia comportamental pioneiro no país, cujo objectivo é promover comportamentos sustentáveis e saudáveis junto dos estudantes e avaliar a reacção das novas gerações a programas de incentivo. Por fim, na área do desenvolvimento de tecnologia, dedicamo-nos desde o software à Internet Of Things (IOT), desenvolvemos produtos e outos projectos para empresas nacionais como a TicketLine, a Sonae ou a Mota-Engil. Já na área da data science e business analytics prestamos consultoria a empresas internacionais como a Carlsberg ou a Exxon Mobil. A GUARDA: Quantas pessoas integram a startup ‘The Loop Co’? 
Ricardo Morgado: A nossa equipa actual tem mais de 50 elementos e preparamo-nos para receber, em breve, 20 jovens estudantes ou recém graduados, ao abrigo de um programa de estágios remunerados que desenvolvemos em parceria com a Universidade de Coimbra. No final desse estágio, ambicionamos que alguns deles fiquem connosco, continuando a reter talento que alimenta este passo de inovação. 
A GUARDA: Quais os objectivos da criação, na Guarda, do primeiro centro de logística inversa e economia circular da Península Ibérica? 
Ricardo Morgado: Neste trimestre, vamos lançar em Espanha o nosso primeiro produto, a Book in Loop e planeamos que mais projectos sigam o mesmo rumo nos próximos meses. Os nossos serviços de recuperação e revenda de livros passarão a estar disponíveis em centenas de supermercados, em todas as províncias de Espanha. Este centro de logística inversa e economia circular vem complementar a nossa estratégia de internacionalização, sendo um ponto de contacto entre as diversas frentes do projecto, quer em Portugal, quer em Espanha. O conceito de logística inversa refere-se à gestão dos processos necessários para movimentar produtos desde o consumidor até a um entreposto, com o objectivo de recuperar o seu valor, seja através da revenda, reparação, reaproveitamento ou reciclagem. Ou seja, será um novo conceito de fábrica da economia circular, em que a matéria-prima são artigos em segunda mão, e o produto final são artigos recuperados, limpos e embalados e com garantia de qualidade certificada, prontos a seguirem para os seus novos donos. Os nossos objectivos para este centro são posicionar Portugal na proa da Europa, na transição para uma economia circular. Através deste centro no distrito da Guarda, conseguiremos servir as necessidades de recuperação de produto e sua revenda nos canais de comércio electrónico, não só do território nacional mas de todo o espaço ibérico, pela posição central que esta região tem na península. 
A GUARDA: Como e onde vai funcionar este centro, na Guarda? 
Ricardo Morgado: Escolhemos o distrito da Guarda por ser, geograficamente, um local estratégico que nos permite facilmente fazer a gestão entre Portugal e Espanha. Acreditamos também que este tipo de iniciativas tem um impacto importante nas regiões do interior, trazendo mais movimento, cativando a atenção de investidores e promovendo emprego. E tendo todos os quatro fundadores da empresa raízes nesta região conhecemos bem o engenho e dedicação que os guardenses podem empregar numa rápida transição para uma economia mais circular.Estamos já em diálogo com alguns municípios para identificar o local concreto para a nossa instalação, sendo que gostaríamos de falar com todos. Acreditamos que este pode ser um investimento que posicione a região como uma referência na área economia circular e da sustentabilidade. Além do centro de logística inversa, onde receberemos bens e equipamentos de todo o país e do país vizinho para que sejam recuperados, limpos, fotografados e preparados para envio, o centro de economia circular da The Loop Company contará também com um data center, onde a identificação de todos os produtos que passam pelas nossas plataformas será armazenada e um contact center, onde faremos a catalogação e avaliação dos produtos e estaremos em permanente contacto com os nossos clientes e parceiros. A GUARDA: A pensar na internacionalização, que projectos pretendem implementar em Espanha? Ricardo Morgado: Neste momento, estamos a trabalhar com parceiros locais para que a Book in Loop chegue a Espanha já no final deste ano lectivo, permitindo, assim, também às famílias espanholas pouparem cerca de 80% da despesa em manuais escolares. Este caminho será seguido também pela BabyLoop muito em breve. Este tipo de projectos, com fortes benefícios para as famílias e para o ambiente, fazem sentido em qualquer país, pelo que, agora que já temos o modelo bem definido e testado, estamos em condições de o multiplicar, quer em áreas de serviço, quer em localizações.