“Ainda me sinto com forças para ajudar os paroquianos, que é para mim um prazer espiritual ser servo para servir”

José Martins Registo é natural da Paróquia de Santa Maria, concelho de Manteigas. Estudou no seminário Menor do Fundão e no seminário Maior de Guarda, em Coimbra para os exames ‘ad hoc’ necessários ao Curso Teológico para o Ensino Público e Privado (Colégio Diocesano de São José). Tem licenciatura (antes da reforma de Bolonha) em Estudos Clássicos e Portugueses na Universidade Clássica de Lisboa.Gosta de ler e ouvir bons programas de música clássica, fados de Coimbra e música religiosa, especialmente os salmos. Também gosta de participar nos acontecimentos Diocesanos não só para proveito próprio mas também para incentivar os paroquianos. A Guarda: O padre José Martins Registo celebra, este ano, 60 anos de ordenação sacerdotal. Podemos afirmar que é uma vida dedicada a Deus e à Igreja?
José Registo: Faltaria à verdade se disse-se que 60 anos de vida sacerdotal foram dedicados a Deus e a Igreja pois é dito comum que “as aparências iludem”. Quem dera que o fossem, pois a Igreja e o mundo seriam melhores porque “uma alma que se eleva, eleva o mundo”. Porque a santidade será como um perfume que delicia tudo à sua volta.
A Guarda: Ao longo destes 60 anos, quais os momentos mais marcantes e que mais o sensibilizaram como padre?
José Registo: Os momentos mais marcantes foram o primeiro e o último. Explico:Ainda me lembro dos pensamentos que tive na ordenação sacerdotal por Dom Policarpo nosso venerando Bispo, prostrado no lajedo da Sé da Guarda, num dia sem data assinalável, 30 de Julho de 1961, o que seria se fosse no dia 31, dia do primeiro Jesuíta, Santo Inácio de Loyola, dos Exercícios Espirituais, mas em contrapartida, já  foi o da Missa Nova, como então se dizia, no dia 6 de Agosto, Transfiguração do Senhor, festa muito apelativa.O último momento foi o dia 1 de Abril de 2021, Quinta Feira Santa, com a vivacidade e a eloquência do Senhor Dom Manuel da Rocha Felício, nosso venerando Bispo. Dia marcante pela gratidão ao Senhor pelos 60 anos de sacerdócio e pelo dom da vida mais que octogenária e olhando para o álbum de fotografias das pessoas que passaram na minha vida familiar, padre e amigo.
A Guarda: Apesar da idade, podemos dizer que o seu trabalho junto dos jovens ainda continua a dar frutos?
José Registo: Quem me dera! Nem eu, nem os jovens, nem as circunstâncias são as mesmas. Tinha-os na Escola Secundária e na Paróquia.Os acampamentos e passeios ao rio com comes e bebes cativava-os; hoje, são cativos do ciberespaço.
 A Guarda: O Colmeal da Torre é a “menina “ dos seus olhos?
José Registo: O Colmeal da Torre é uma das “meninas dos meus olhos” pois deu à Igreja Diocesana o Padre Helder Lopes e o Padre João Marçalo e uma religiosa da Congregação das Irmãs Hospitaleiras de São Bento Meni, Irmã Teresa de Jesus. Mas tudo isto é fruto da oração da graça de Deus, das famílias dos bons colaboradores e do ambiente favorável, pois só assim se explica que juntasse onze seminaristas no seminário do Fundão e da Guarda. Aliás, pelas paróquias por onde passei sempre tive seminaristas nos seminários. Mas isso já vinha de trás, Manteigas, Roma da Diocese, com mais de trinta seminaristas, orientados em férias pela santidade e sabedoria de Dom Albino Mamede Cleto que já goza a glória de Deus. Tenho outras “ meninas dos olhos” que são as comunidades cristãs por onde passei, graças ao Pai do Céu e ao seu filho Jesus Cristo.
A Guarda: Ainda se sente com forças para ajudar os paroquianos?
José Registo: Por vontade de Deus ainda me sinto com forças para ajudar os paroquianos, que é para mim um prazer espiritual ser servo para servir com o meu sacerdócio, apesar da minha indignidade e pobreza.
A Guarda: Como vê o futuro das aldeias rurais da Diocese da Guarda, em termos humanos e na vivência da Fé?
José Registo: Pelo que conheço da diocese, exactamente, é nos meios rurais que encontro os melhores substratos humanos e cristãos. A diocese teve muitos e bons padres, que até o foram noutras dioceses e congregações religiosas e de vez em quando aparecem pessoas a dizer que têm padres ou religiosos(as) na família. Grande sementeira e o terreno não era avaro! Bendito seja o Senhor que ama o seu povo. Um Padre muito culto e simpatiquíssimo que eu conheci dizia com a sua graça própria: “Para o meu tempo de vida ainda há muita fé”.
A Guarda: Tem admiração pelo Papa Francisco? Qual o Papa que mais o marcou?
José Registo: Desculpe, mas acho que é uma pergunta descabida. Era preciso ser estulto para não o admirar, basta ser Jesuíta e Franciscano para quem o Amor não é amado. Papa Francisco não procura o que é fácil é preciso ser corajoso para visitar o Iraque e outros povos feridos. Todos os Papas marcaram, cada um com seus carismas próprios pois o Espírito Santo dá a sua Igreja os Papas que o povo de Deus e o mundo precisam em cada momento. Mas um dos Papas que mais marcaram, por várias circunstâncias conhecidas do seu Pontificado foi São João Paulo II e até porque não houve nenhum assunto que ele não tocasse.