“O COVID-19 veio dar-nos uma possibilidade de reinventar um pouco a forma tradicional de se fazer ensino”

A GUARDA: Como é que a Escola Regional Dr. José Dinis da Fonseca – Outeiro de S. Miguel está a lidar com a actual situação de saúde em Portugal, relacionada com a infecção por COVID-19?
Ângelo Martins: Desde o início do agravamento da situação, no nosso país, fomos adaptando a realidade escolar ao que se ia ouvindo nas notícias, ao que o Ministério da Educação foi delineando, como medidas a tomar e cuidados a ter. A 4 de Março, foi elaborado o Plano de Contingência, sendo dado a conhecer, de forma imediata, nas plataformas electrónicas da Escola, aos docentes e aos colaboradores. Desde esse dia, foi sempre pedido aos docentes e colaboradores que houvesse uma insistência e particular atenção, para que os alunos cumprissem as normas de higiene (ex: lavar as mãos antes de entrar na sala de aula), se desinfectassem, etc. Foi criado um livro de registos, sobre situações que fossem do conhecimento de todos e que pudessem pôr em risco o bem da comunidade escolar. Após o anúncio da proibição dos alunos se deslocarem à escola, a partir do dia 16 de Março (notícia que recebemos em Reunião Geral de docentes), desde o primeiro minuto, a nossa preocupação foi o bem dos alunos, das suas famílias e de toda a comunidade escolar, delineando-se, desde logo, estratégias para o acompanhamento/leccionação à distância, até ao fim do 2.º período (neste momento, já preparando o início do 3.º período). A GUARDA: Na sequência da decisão governamental de suspender todas as actividades lectivas e não lectivas presenciais nas escolas de todos os níveis de ensino, por tempo indeterminado, como é que a vossa Escola acompanha os alunos à distância?Ângelo Martins: Foram formuladas três estratégias distintas: 1. Foi criado um e-mail, para professores e alunos do 9.º ano e secundário poderem usar, para as tarefas propostas, mediante os tempos lectivos existentes ao longo da semana; 2. Os alunos do 2.º ciclo, 7.º e 8.º anos foram recebendo as tarefas, através dos seus encarregados de educação, a partir do programa que a escola utiliza, como forma de comunicação directa, na relação escola-família (eCommunity); 3. Para os alunos do 1.º ciclo, os professores titulares criaram um plano semanal de actividades lectivas e lúdicas, indicando tarefas diárias a serem realizadas, nestas duas semanas, até ao fim do período. Finda a primeira semana deste sistema, o Conselho Pedagógico reuniu, em videoconferência, tendo avaliado a primeira Semana, através do feedback recebido pela comunidade educativa (aspectos positivos e negativos). Foram, assim, delineadas mais e novas estratégias para a segunda semana, tentando melhorar e, acrescentar qualidade, ao que já foi sendo feito: 1. Aulas em videoconferência, nos tempos lectivos do horário, para os alunos do 9.º ano e secundário, visto terem pela frente exames nacionais; 2. duas aulas em videoconferência, para os alunos de 2.º ciclo, 7.º e 8.º anos; 3. no 1.º ciclo, os professores estão a preparar cinco vídeos, para serem facultados aos encarregados de educação (um para cada dia da semana), de modo a que quem se encontre com o aluno em casa partilhe uma aula em família, à hora mais conveniente e que as crianças, tão ligadas afectivamente aos seus professores, possam ter um contacto mais aproximado com o mesmo e matar saudades da sua imagem e voz. A tudo isto, ainda se acrescenta a actividade física que, de segunda à sexta-feira, os encarregados de educação recebem, por parte dos nossos professores de educação física, para fazerem em casa e assim poderem usufruir de mais um momento de união e descontracção familiar.
A GUARDA: A Escola e os alunos estão preparados para este tipo de situação?
Ângelo Martins: Seria demasiado ilusório dizer que se estava/está preparado. Não se estava preparado, mas preparámo-nos em tempo recorde e, penso, que neste momento, podemos estar à altura do desafio (que se começa a prever, infelizmente, que se poderá prolongar). O COVID-19 veio dar-nos uma possibilidade de reinventar um pouco a forma tradicional de se fazer ensino e, consequentemente, inovar na maneira de ensinar. Também as videoconferências, entre os docentes, têm permitido mostrar que podemos ser mais eficientes e que continuamos sempre em aprendizagem. A GUARDA: Perante situações como as que estamos a viver, é ou não necessário repensar o actual sistema de ensino ainda muito dependente do presencial?
Ângelo Martins: Pessoalmente, parece-me claro que se deve continuar a repensar a forma de ensino, tal como esta se configura, actualmente. Diante da situação vivida, somos “forçados” a fazê-lo e a tornar este momento, um tempo de introspecção, sobre o que se faz e como podemos encontrar formas de conceber novas metodologias e que, até porventura, possam ser mais eficazes. Temos de nos reinventar. A rentabilização do tempo e dos recursos para a aquisição de conhecimentos encontra-se à distância de um “clique”, mas este clique terá de ser bem orientado e ensinado, pois é necessário direccionar as novas tecnologias, utilizadas por muitos apenas como lazer, como ferramentas imprescindíveis para a aprendizagem, conduzindo, assim, mais facilmente os alunos para a autonomia dos seus métodos de estudo. Agora, somos “forçados” a agir como tal, mas é algo de decisivo e a pensar na formação integral, que a escola deverá proporcionar, a curto prazo, aos alunos.
 A GUARDA: O que está a acontecer em Portugal e no Mundo exige uma convergência de esforços. Quais as práticas de prevenção e controlo de infecção que a escola pôs em prática?
Ângela Martins: Além do Plano de Contingência para o COVID-19, que foi elaborado, a Escola já possuía desinfectantes, nas áreas de acesso ao edifício e na zona de refeições. Os produtos de higienização são todos certificados, para uma efectiva eliminação de bactérias. Após o dia 16, todo o edifício foi limpo e desinfectado, de modo a estar preparado para (quando acontecer) receber os alunos de volta. Todas as áreas foram desinfectadas e vedadas à passagem. Neste momento, o acesso à Escola encontra-se interdito e, para contactos com a Secretaria da Escola, estes só deverão ser feitos, telefonicamente ou por e-mail, entre as 09h30m e as 16h30m, reduzindo, desta forma, todos os contactos presenciais desnecessários.
A GUARDA: Foi sensato declarar o Estado de Emergência?Ângelo Martins: Pessoalmente, acho que foi muito sensato. Não posso avaliar, nem me compete fazê-lo, se esta decisão terá pecado por ser tomada tardiamente ou, se foi o momento actual, o ideal. Aquilo que prevalece, no nosso pensamento, é que este estado de emergência deverá ser prolongado, enquanto for necessário, para o bem de todos e que será de vital importância o respeito mútuo, começando pelo pedido de ficar em casa, não ter comportamentos de risco, para que mais vidas se possam salvar e o bem-estar de todos seja o bem maior. Não poderia terminar, sem deixar algumas palavras de imensa gratidão e fé, por todos aqueles profissionais que permanecem, heroicamente, em instituições, hospitais, comércios, farmácias e serviços, cuidando para que nada falte aos que os rodeiam, fazendo da sua profissão a verdadeira missão da sua vida.