Entrevista: Jorge Craveiro - Coordenador Geral dos Servos Externos da Liga dos Servos de Jesus

Jorge Craveiro foi eleito e tomou posse como novo Coordenador Geral dos Servos Externos da Liga dos Servos de Jesus. É natural de Valverde, concelho Fundão. Concluiu a licenciatura em Serviço Social na Escola Superior de Educação de Castelo Branco.Nos tempos livres gosta de correr, ler e assistir a programas televisivos de comentário sobre a actualidade. Também ocupa parte dos meus tempos livres nas associações em que está envolvido.A GUARDA: Foi eleito, recentemente, como novo Coordenador Geral dos Servos Externos da Liga dos Servos de Jesus. Como se processa esta escolha?  
Jorge Craveiro: De três em três anos os Servos Externos da Liga dos Servos de Jesus reúnem ordinariamente em Assembleia Geral onde, entre outros assuntos de interesse, é feita a eleição do seu Coordenador Geral e do respectivo Conselho. Na última Assembleia, realizada a 13 de Junho, fui eleito Coordenador Geral. Para composição do restante Conselho, foi eleita Secretária a Isabel Almeida e para Vogais a Madalena Silva e a Lígia Borges.
A GUARDA: O que é e qual a missão de um Servo Externo da Liga dos Servos de Jesus?   
Jorge Craveiro: O Servo Externo é um fiel cristão e que vive o espírito da Liga. Deve viver, segundo a sua vocação e condição, os conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência; praticar as virtudes, dando primazia à caridade; cumprir os deveres próprios do seu estado; e praticar as obras de misericórdia, em especial cuidado dos doentes e necessitados. A missão da Liga dos Servos de Jesus, que é transversal aos Servos Internos e Externos, insere-se na missão da Igreja, comtemplando a acção evangelizadora, a acção santificadora e a acção sócio caritativa. No fundo, o Servo Externo é alguém que vive o carisma dentro do seu contexto, tal como em família, catequese, trabalho, etc. O Carisma da Liga leva a que se viva mais intensamente a caridade de Cristo, tornando-se fermento activo de renovação de fé, e especifica-se no ideal de perfeição espiritual, na reparação e desagravo das ofensas feitas a Deus, na oração pela Igreja, no cumprimento dos deveres de estado e na dedicação ao apostolado.A GUARDA: Há muitos Servos Externos? 
Jorge Craveiro: Não. Dos registos existentes, somos cerca de cinquenta. Este é um assunto sobre o qual o Conselho se deve debruçar, pois aumentar o número de Servos Externos é essencial para o futuro da Liga. Apesar de devermos dar sempre preferência à qualidade do que à quantidade, este é um tema incontornável para o futuro da Liga. Quando o Venerável D. João fundou a Liga não pensou em comunidades religiosas. Contudo, a grande vontade de algumas pessoas viverem em comunidade, para viverem com maior perfeição os Conselhos Evangélicos, obediência, castidade e pobreza, levou à constituição de comunidades, mesmo não sendo esta a ideia inicial do Fundador. À morte do Fundador, a 29 de Agosto de 1962, existiam mais de novecentos Servos Externos. Uma discrepância tão grande de números, de 1962 aos dias de hoje, é revelador da necessidade de um maior cuidado no acompanhamento dos Servos Externos, como referido já nas Constituições de 2004.
A GUARDA: Parece ser necessário divulgar mais o carisma do antigo Bispo Auxiliar da Guarda, D. João Oliveira Matos?Jorge Craveiro: É imperioso divulgar o carisma do Venerável D. João, assim como a sua vida, obra e o próprio processo de beatificação, pois nota-se um grande desconhecimento na própria Diocese. Entendo que essa divulgação cabe primeiro a nós, membros da Liga dos Servos de Jesus. Há que encontrar formas concertadas de o fazer, passando pela colaboração do Clero Diocesano. Mais tarde, olhando de forma mais ampla e se as condições se reunirem, seria bom que pudéssemos chegar também a outros pontos fora da nossa Diocese. Um dos meios de que não nos podemos esquecer é o digital, porque permite chegar a muitas pessoas, estejam elas onde estiverem. Hoje as novas tecnologias têm uma importância fulcral pelo que será necessária uma presença diferente neste meio, afinal é onde estão hoje a maioria das pessoas e é ao encontro delas que queremos ir. 
 A GUARDA: Qual a ligação dos Servos Externos com as ‘irmãs’ da Liga dos Servos de Jesus? 
Jorge Craveiro: Os Servos Internos e Externos, tendo o mesmo Fundador, vivem a mesma espiritualidade, cada um segundo o seu estado, e formam uma família, criando laços de verdadeira comunhão. Um dos assuntos abordados na Assembleia foi precisamente a relação entre Servos Externos e Servas Internas (a que muitos chamamos “irmãs”), onde se chegou à conclusão que o previsto nas Constituições sobre este tema, em parte, não está a acontecer, devendo-se procurar formas de reverter a situação. Uma das questões que pensamos que leva a esta situação é a idade avançada da maior parte das “irmãs” e o tempo e esforço gasto com as respostas sociais do Instituto de São Miguel, deixando muitas vezes de haver o tempo e forças necessárias para outros trabalhos como o apostolado e para que sejam fornalhas onde os Servos Externos se vão iluminar e aquecer, como pretendia o Venerável D. João. Neste momento existem cerca de oitenta “irmãs” e poucas são as que têm menos de sessenta anos, sem se vislumbrar novas vocações, o que leva a que tenhamos comunidades muito envelhecidas. Os Servos Externos podem e devem ter um contributo na mitigação dos problemas relacionados com este facto. Esperemos que, em conjunto, com o Conselho dos Servos Internos possamos contribuir para dar respostas a estes problemas.
A GUARDA: Em Valverde existe um Museu dedicado a D. João Oliveira Matos pouco divulgado mesmo na Diocese. De que maneira é que este espaço poderia ser valorizado? Jorge Craveiro: A “Casa-museu D. João de Oliveira Matos” corresponde à musealização da casa onde nasceu o Venerável D. João. Nela existe um espólio respeitante a cada etapa da sua vida. No passado estiveram programadas visitas temáticas a Valverde, onde se incluía a passagem pela “Casa-museu”. Contudo, essas mesmas visitas foram canceladas devido à pandemia que temos vindo a viver. Esperemos poder voltar a programá-las em breve.Concordo quando diz que a “Casa-museu” está pouco divulgada, mesmo na Diocese. O convite a grupos para visitar o Museu e a marcação de horários para visitas guiadas para o público serão boas formas de o espaço ser valorizado, assim como para dar a conhecer a Liga e os seus fins e a Obra, vida e carisma do Fundador. Esta, também, é uma questão que terá de ser abordada no Conselho dos Servos Externos e com o Conselho dos Servos Internos. Para Valverde a existência deste Museu é uma mais valia em muitos aspectos, sendo que, de momento, o auditório é utilizado por um grupo de catequese.A GUARDA: Como olha para o futuro da Liga dos Servos de Jesus?
Jorge Craveiro: Com preocupação, mas também com esperança. A Liga vai, em breve, comemorar o seu Centenário, para o qual vai procurar preparar-se devidamente. Este marco enche a todos os membros da Liga de alegria e dá alento para o futuro, sentimos que todos os diocesanos deveriam também de ter. Todos sabemos que não é fácil o surgimento de vocações para Servos Internos, o que leva a que muitas vezes se oiça vaticinar o fim da Liga, com o qual não concordo. Tudo faremos para que essas vocações surjam, mas se não acontecer, enquanto houver Servos Externos há Liga. Por isso, sem tirar relevância a ninguém, considero que é tempo de ser dada a importância devida aos Servos Externos, mas também de assumirmos o nosso papel no seu todo. É crucial encontrarmos formas de nos reinventarmos para responderemos aos problemas da actualidade e para que as intenções do Fundador se cumpram. Faço votos que toda a Igreja Diocesana seja sensível às questões aqui abordadas e a outras relacionadas com a Liga. Ao responder a esta entrevista reflicto no seguinte: a Liga dos Servos de Jesus alimenta a Diocese e vice-versa, basta pensarmos no passado e no quanto a Liga foi importante para a dinâmica da Diocese quando ambas conheciam um maior vigor do que os nos dias de hoje. Hoje a Liga continua a dar o seu contributo, mas este poderá ser maior. Quanto melhor for a vitalidade da Liga, maior será o seu contributo para a Igreja em todos os sentidos.