Hélder Pires – autor do livro “Casas Abandonadas”


A GUARDA: Vai lançar um livro ligado a Pousade. Pode dizer-nos o que o levou a escrevê-lo, o que trata e quando sairá?

Hélder Pires: Tenho um arquivo com muita informação sobre os últimos 300 nos da freguesia de Pousade. Muito desse material tem vindo a ser publicado, nos últimos anos, no blogue “As couves do Vizinho” bem como na página “Pousadenses” do Facebook. No período do Covid, em que não se podia sair de casa, resolvi escrever uma espécie de romance histórico aproveitamento a informação de que disponho.

A GUARDA: E o que foca?

Hélder Pires: O livro tem o título “Casas abandonadas” aborda o abandono das aldeias e o conjunto de casas abandonadas que esse despovoamento provoca. Descreve a vivência de uma casa, hoje abandonada, entre meados do Sec XVIII e XIX. Simultaneamente, descreve a vida da aldeia bem como os seus usos e costumes. Aborda também os principais acontecimentos no reino, como o terramoto de 1755, as invasões francesas, a revolta da Maria da Fonte, etc.

A GUARDA: Mas não disse tratar-se de um romance?

Hélder Pires: Sim, tem enredo que passa pelo mistério de um assassinato sem autor, ou por uma paixão improvável que deu em casamento e cujos descendentes ainda existem na aldeia.

A GUARDA: Então as personagens existiram?

Hélder Pires: Sim, a maioria das personagens existiram na realidade, nasceram e morreram nas datas mencionada bem como são reais os cônjuges, filhos, etc. Dada a importância e a influência que a Igreja Católica tinha na altura, são também referidos todos os párocos da aldeia entre 1750 e 1850, bem como algumas das suas características pessoais.

A GUARDA: É o seu primeiro livro? Será para venda?

Hélder Pires: Sim, é o meu primeiro livro e provavelmente o último. Foi uma experiência, só isso.
Sim, será para venda, terá o custo e 10 euros e os lucros da venda serão canalizados para uma IPSS, mais concretamente para Liga de Amigos de Pousade que gere o Centro de Dia local.

A GUARDA: Quando será a apresentação?

Hélder Pires: O livro será apresentado esta quinta-feira, dia 1 de Dezembro, pelas 16.00 horas, precisamente no Centro de Dia e Pousade e ficam desde já convidados para estar presentes.

A GUARDA: Em 8 de Fevereiro de 2022 O Semanário “A Guarda” noticiou em primeira página que a população de Pousade exigia a reposição do nome ”Pousade” ao invés de “Pousada”. Na altura, deu-nos conta de diversas ações que estavam a ser tomadas tendentes a alterar definitivamente o erro. Qual é o ponto da situação?

Hélder Pires: Conseguimos alguma coisa. A confusão terá tido origem na criação dos Códigos Postais. Nessa altura foi criado o Código 6300-175 e atribuíram-lhe à localidade o nome de Pousada. Foi a partir dessa base que as principais empresas se “alimentaram” pelo que o erro se propagou exponencialmente.
Posso dizer que houve melhorias. A primeira grande vitória foi os CTT terem retificado o nome, o que, só por si, garante que as instituições que acederem à base, no futuro, não copiarão o erro. Contactámos as grandes empresas como as de telecomunicações, bancos, companhias de seguros etc. Quase todas aceitaram corrigir o erro e passaram a endereçar a correspondência corretamente.
Paralelamente, sempre que contactamos alguém para emendar o erro, além do DL da Assembleia da República 29/2011 aconselhamos a consulta no site dos CTT da lista dos Códigos Postais.
A GUARDA: Então o que falta fazer, ou o que falhou?
Hélder Pires: Curiosamente, quem tinha mais obrigação de cumprir a lei, é precisamente quem não a cumpre, ou seja, o Estado, que através da Assembleia da República, criou o DL 29/2011, que obriga as instituições e demais organismos a usarem a palavra “Pousade”, mas é o próprio estado que não o faz. Os diferentes ministérios são quase impenetráveis e as diligências que fizemos, não só não tiveram acolhimento o que nos levou mesmo a fazer uma queixa formal ao Provedor de Justiça.
A queixa não resultou em nada, mas foi muito interessante. Nós queixámo-nos à Provedoria que os ministérios não cumpriam a lei nem atendiam os nossos pedidos nesse sentido e a Provedoria respondeu-nos nestes termos: “ pretendendo V. Exas que os organismos públicos utilizem o Código Postal 6300-175-POUSADE, e não POUSADA, pondero que — sempre que o não fizerem — deverão ser formalmente instados a fazê-lo. Apenas na eventualidade de reiterarem o seu comportamento (depois de lhes ser explicado que não o devem fazer) poderemos intervir”.

A GUARDA: Foi mesmo assim?

Hélder Pires: Precisamente! Achámos a resposta patética de tal forma que nem reagimos

A GUARDA: E a Câmara Municipal da Guarda ajudou nessa causa?

Hélder Pires: Falámos com a anterior vereação que, pelo menos, alterou o processo internamente e hoje, a conta da água, por exemplo já vem com a direção certa. Contactaram também os Serviços Cartográficos do Exército que aceitaram de imediato corrigir as futuras cartas topográficas militares. À atual câmara não colocámos ainda a questão.

A GUARDA: Saindo agora dessa questão do Código Postal e sabendo que reside em Pousade, como está, na sua opinião, a aldeia neste momento?

Hélder Pires: Está, como a generalidade das aldeias do interior, num acelerado processo de despovoamento. Antigamente havia pessoas e não havia infraestruturas, agora há infraestruturas, mas não há pessoas.

A GUARDA: Sabendo que a aldeia tem uma forte tradição no teatro, como está agora essa relação?

Hélder Pires: Já não há pessoas. Para não se perder a tradição seria importante que o teatro popular e religioso de Pousade entrasse num processo de adesão a património municipal, algo semelhante ao que a Câmara do Sabugal fez, com muito sucesso, com a Capeia Arraiana. Assim, não digo que não volte a existir teatro popular em Pousade, mas isso passará, na minha opinião, por incorporar pessoas de fora, oriundas, por exemplo, de grupo de teatro já existentes na região e com o apoio dos organismos públicos.