Professores da Guarda percorrem


A ideia de fazer o Caminho de Santiago surgiu numa visita de estudo de alunos da Escola Secundária Afonso de Albuquerque a Santiago de Compostela. Durante a viagem, no autocarro, foi “projetado” o filme “The Way” que retrata uma história sobre peregrinos no Caminho de Santiago. Umas das professoras que acompanhavam a visita lançou o repto: já que, na escola, fazemos caminhadas de vez em quando porque não fazermos o Caminho? O grupo de EF (Educação Física) agarrou a ideia e o desafio lançado aos professores da Escola Afonso de Albuquerque. Houve recetividade e desde então um grupo de professores, seus familiares e amigos tem, todos os anos, realizado uma atividade nos Caminhos de Santiago. No 1.º ano, 2013, organizámos a peregrinação no denominado Caminho Português. Caminhámos de Valença até Santiago de Compostela (+/- 150 kms). Gostámos tanto que no final decidimos que em 2014 iríamos de Santiago de Compostela até Finisterra (+/- 125 Kms).  Aqui chegados e quando fazíamos o balanço do Caminho desse ano questionámo-nos: e agora? O grupo respondeu: agora vamos fazer o Caminho Francês (o mais “emblemático” dos caminhos). Dado que só podemos dedicar uma semana por ano ao Caminho e que este Caminho tem à volta de 800 kms, decidimos que o faríamos em etapas de vários anos para chegar a Santiago de Compostela em 2021. E porquê 2021? Porque 2021 será o próximo ano Jacobeu, ou seja, o próximo ano em que o dia de S. Tiago, 25 de julho, coincide com um domingo. Face a esta decisão em 2015 fizemos o percurso entre S. Jean Pied du Port e Logroño e em 2016 entre Logroño e Burgos. Em 2017 caminharemos entre Burgos e um local ainda a definir. Por vezes perguntam-nos: É mais aventura ou mais devoção? Uma das “máximas” do Caminho é que cada um faz o seu Caminho. O trajeto, sozinho ou acompanhado, etapas mais longas ou mais curtas, por razões religiosas, culturais ou lúdicas, a pé, de bicicleta ou de cavalo… cada UM faz o seu caminho. No nosso grupo todos gostamos de caminhar. Quanto às razões, para uns são mais religiosas e culturais, enquanto para outros serão mais culturais e lúdicas. Somos um grupo homogéneo no propósito, mas heterogéneo, e tolerante, nas motivações… E como nos organizamos? Documentamo-nos sobre o percurso, as suas dificuldades e possibilidades de alojamento. Face aos nossos objetivos elaboramos um programa com as jornadas a realizar. Programamos as viagens, com as respetivas merendas, até ao local de partida e da chegada até às nossas casas. Ou seja, levamos tudo planeado, mas sempre com a perspetiva de que, face às circunstâncias, pode haver alterações. O nosso propósito é sempre dormir em albergues. Até hoje isso foi sempre conseguido, mas já aconteceu não pernoitarmos, por já estar com a ocupação plena, naquele que era a nossa 1.ª opção. No Caminho Francês, principalmente, quase todas as localidades que atravessámos têm um ou vários albergues. A comida pode ser em restaurantes, comprada e comida nos albergues ou confecionada, por nós ou pelo albergue, nas cozinhas dos albergues. Quase todos eles têm cozinha e refeitório. Claro que nas mochilas se leva, por norma, alguma comida e principalmente água, para comer e beber durante a caminhada. E há paragens para café e o que aprouver a cada um… E quais são as dificuldades? A principal, para alguns, são os kms finais de cada jornada… e então se ela for longa… Por norma o grupo faz jornadas entre os 20 e os 30 kms. Claro que as condições meteorológicas (frio, calor, neve, chuva, vento…) podem dificultar e complicar a vida aos caminheiros. Mas as dificuldades e os imprevistos são também aliciantes do caminho. Pode haver pequenas mazelas, como por exemplo “bolhas” nos pés, mas nada que não se supere… O ambiente é fantástico. Permite momentos de silêncio e reflexão, permite longas conversas com os elementos do grupo e permite contactos com as populações locais, a sua cultura e os seus patrimónios. As trocas de experiências com peregrinos de várias nacionalidades são muito gratificantes. Encontram-se muitos franceses, americanos, japoneses, sul-coreanos, espanhóis… As recordações destes dias são inesquecíveis. As paisagens, as pessoas, os monumentos, as peripécias que acontecem sempre… o que faz com que haja sempre vontade de mais.
(Fernando Cabral - professor)