Entrevista: António Filipe Morgado, Pároco de Vila do Touro, Baraçal, Lomba, Pega, Penalobo, Pousafoles e Quintas de São Bartolomeu

António Filipe Morgado é natural de Quinta de Gonçalo Martins, freguesia do Marmeleiro, concelho da Guarda. Frequentou os Seminários do Fundão e Guarda, sendo ordenado sacerdote a 30 de Julho de 1961, na Sé da Guarda, por D. Policarpo da Costa Vaz. Como Pároco já passou por Vila do Touro, Pega, Carvalhal Meão, Rapoula do Côa, Lomba, Aldeia do Bispo, Aldeia Velha e Lageosa, Baraçal, Malcata, Pousafoles e Penalobo. Gosta de ler, ouvir música e desporto. É adepto do Benfica.A GUARDA: O Padre António Morgado assinala, este ano, 60 anos de ordenação sacerdotal. Passado todo este tempo considera que foi uma escolha acertada?  António Morgado: Sim, com toda a certeza. Não me sinto arrependido, antes pelo contrário sinto-me completamente alegre com o sacerdócio, com aquilo que escolhi. Ainda hoje sinto o entusiasmo com que abracei a vocação. 
A GUARDA: Ao longo destes 60 anos, quais os momentos mais marcantes e que o sensibilizaram como padre? 
António Morgado: Momentos muito marcantes, não sei muito bem. Quando vim para as paróquias, nos primeiros dois anos andei de motoreta. Recordo-me que só havia um ou dois padres que tinham automóvel. Eram tempos mais complicados, sem estradas. Demorávamos muito mais tempo a fazer os percursos de umas terras para as outras.Nos primeiros anos de sacerdócio havia muita juventude e muitas crianças com quem podíamos trabalhar. Agora não temos ninguém nas paróquias.Posso dizer que os funerais, bem como as confissões na Quaresma, nos marcavam bastante. Nos aniversários e funerais eramos sempre seis padres. O Sabugal era uma zona em que quase todas as pessoas pediam o Ofício de Defuntos. De há vinte anos para cá é que deixámos de fazer os funerais com Ofícios, devido à escassez de sacerdotes. No meio do cansaço sentíamos sempre a alegria do convívio. Posso dizer que terminávamos sempre com uma partida de cartas. 
A GUARDA: Como olha para a vivência da fé nas suas paróquias?
António Morgado: Aquilo que é popular continua a ter muita adesão embora a juventude se afaste um pouquinho da Igreja. Em dias de festa, nos momentos importantes das aldeias, as pessoas costumam participar.O número de paroquianos diminuiu drasticamente ao longo dos últimos anos. São terras com muitos emigrantes que costumam ter muita gente nos meses de Verão e isso também se nota na frequência das igrejas. Em Pousafoles e nas Quintas de São Bartolomeu muitos emigrantes até contribuem com a sua côngrua para o sustento do pároco. 
A GUARDA: Vila do Touro foi sempre o seu porto de abrigo?
António Morgado: Sim, foi aqui que sempre vivi como pároco. Depois de sessenta anos de pároco, na Vila do Touro, sinto-me como se fosse na minha terra. Sinto a alegria que sentia como se estivesse na minha aldeia. Posso dizer que a Vila do Touro é como se fosse a minha terra.Presentemente também sou pároco em Baraçal, Quintas de São Bartolomeu, Pega, Pousafoles, Lomba e Penalobo. Também estive em Rapoula do Côa e enquanto arcipreste também fui pároco em Malcata e Rendo. Quando cheguei a Vila do Touro havia muita alegria, muito convívio. Agora não se vê ninguém.
A GUARDA: O ensino também faz parte do seu percurso. Como avalia essa experiência? 
António Morgado: Comecei a minha experiência no ensino, na Telescola, no Marmeleiro, Guarda. O padre José Oliveira Martins pediu-me para o ajudar e estive seis anos a ensinar na Telescola. Depois continuei como professor de Religião e Moral na Escola Preparatória do Sabugal. No Marmeleiro, onde havia um bom grupinho de alunos, ajudámos muitos jovens a triunfar e a vingar na vida.  A GUARDA: Os alunos aceitavam bem a presença do Padre na escola? 
António Morgado: Posso dizer que muitos sentiam alegria da presença do padre e de terem a aula de Educação Religiosa Moral. Nós conhecíamos as famílias e os que eram de boas famílias mantinham-se firmes e gostavam da disciplina, mas havia outros que estavam lá por estar, porque os pais quase os obrigavam. De maneira geral até gostavam da disciplina.
A GUARDA: Como olha para o definhar das zonas rurais da envolvente do Côa, no concelho do Sabugal, com as aldeias cada vez mais despovoadas?
António Morgado: Conheço muito bem o concelho do Sabugal. É um concelho muito diferente, em todos os aspectos, daquele que encontrei quando para aqui vim. Agora é um concelho com pouca população, desertificado completamente. Hoje passa-se pelas ruas das povoações e não se vê ninguém. Quando vim para estas terras, tinha mais jovens e mais crianças só em Vila do Touro, do que tenho agora em todas as paróquias. Agora há paróquias em que não há uma criança sequer. Não se adivinha um futuro risonho para estas terras. Nas nossas aldeias as pessoas com menos de 50 anos são três ou quatro e as outras são todas de idade avançada. Temos de olhar para um futuro pouco risonho. A título de exemplo posso referir que enquanto se fazem seis ou sete funerais numa paróquia, não se faz nenhum baptizado, nem nenhum casamento. Há paróquias em que se passam dois ou três anos sem haver nenhum baptizado, nem nenhum casamento. Se comparar o concelho do Sabugal de agora com o da altura em que vim para cá, posso dizer que é um concelho completamente diferente.A GUARDA: Tem admiração pelo Papa Francisco?António Morgado: Sim, tenho muita admiração. É um homem actualizado para os tempos de hoje. É interessante a forma como ele lida com a sociedade, a maneira como ele olha para os jovens e para os que estão mais necessitados. As pessoas com quem tenho falado, todas admiram o Papa Francisco.