Paulo Jorge Lourenço, Coordenador Educativo da Plataforma de Ciência Aberta

 

Paulo Jorge Lourenço é natural da cidade da Guarda, onde residiu, durante a juventude, no Bairro da Luz. Enquanto estudante na cidade da Guarda, passou pelas escolas: Adães Bermudes, Preparatória da Guarda (actual Escola Básica de Santa Clara) e Secundária da Sé. Durante a formação superior (Matemática) estudou na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e na Faculdade de Ciências da Universidade da Beira Interior. Gosta de viajar, conhecer locais de interesse histórico, locais por onde passaram as antigas civilizações. Também gosta muito de observar e fotografar as belezas que a natureza proporciona (em especial na região centro e norte – tanto o céu nocturno, como paisagens arrebatadoras). Desde muito novo que é apreciador de música e gosta de assistir a concertos musicais.

A GUARDA: O que é e como surgiu a Plataforma de Ciência Aberta?
Paulo Lourenço: A Plataforma de Ciência Aberta - Município de Figueira de Castelo Rodrigo começou a dar os primeiros passos em Fevereiro de 2017, no entanto a inauguração do nosso edifício sede, situado na aldeia de Barca D’Alva, aconteceu no dia 7 de Julho de 2017 (que ficou associado como ponto de partida deste projecto). Surgindo assim como o primeiro centro da rede internacional Open Science Hub, numa parceria entre o Município de Figueira de Castelo Rodrigo e a Universidade de Leiden (Holanda). Temos como missão, aproximar a ciência, a tecnologia e a inovação do quotidiano das comunidades locais e regionais, promovendo o desempenho escolar e impulsionando o empreendedorismo e a inovação social na região, através de colaborações entre a escola, sociedade civil, empresas, universidades e a comunidade em geral. Apesar de pouco mais de dois anos e meio de actividade, temos vindo sempre a expandir as nossas valências e impacto de actuação, tendo despertado interesse a nível nacional e até internacional. Proporcionando um conjunto de eventos e iniciativas em ciência e tecnologia, com formatos participativos e inovadores.
Aproveito para referir que a Plataforma de Ciência Aberta - Município de Figueira de Castelo Rodrigo está a ser o modelo de boas práticas/conceito para o estabelecimento de uma rede internacional formada por diversos parceiros europeus (Áustria, França, Grécia, Itália, Irlanda, Portugal, Holanda, Republica Checa e Suíça) designada por OSHub_NET (contando com o financiamento da União Europeia – H2020). Esta rede europeia, no início deste mês, foi formalmente lançada (em Leiden – Holanda) sob a coordenação do astrofísico português e figueirense de renome internacional Pedro Russo. Actualmente Pedro Russo é docente na Universidade de Leiden (Holanda) e coordena diversos projectos internacionais de comunicação de ciência.
A GUARDA: Onde funciona e de que meios dispõe esta Plataforma?
Paulo Lourenço: Como referi o nosso edifício foi inaugurado no dia 7 de Julho de 2017 e está situado na aldeia de Barca D’Alva (concelho de Figueira de Castelo Rodrigo) num edifício que foi adaptado, pelo Município de Figueira de Castelo Rodrigo, para o efeito e onde funcionou inicialmente e durante muitos anos a Escola Primária de Barca D’Alva, trazendo de novo a ciência àquele espaço. Do nosso terraço conseguimos avistar várias fronteiras territoriais delimitadas pelo cruzamento natural de dois rios, refiro-me aos rios Douro e Águeda que dividem aquele território entre o distrito de Bragança, o distrito da Guarda e a província de Salamanca. Barca D’Alva foi durante muitos anos um ponto de importante actividade aduaneira uma vez que tinha a última estação ferroviária da linha do Douro (actualmente só activa até à estação do Pocinho). Neste momento a importância desta pequena aldeia, situada na margem do rio Douro, tem vindo novamente a crescer divido ao grande fluxo de navios de cruzeiro que têm como última paragem nacional o cais fluvial de Barca D’Alva.
O nosso edifício tem várias salas multiuso que se adaptam consoante as necessidades dos diversos eventos e actividades. Na nossa sala de exposições, acolhemos exposições temporárias. Actualmente temos patente a exposição “Conversas com o Planeta Terra: Comunidades Locais e Alterações Climáticas”, que se trata de uma iniciativa multimédia desenhada para amplificar as vozes das comunidades locais acerca dos desafios ecológicos e culturais que o planeta enfrenta, nomeadamente as alterações climáticas. Em que, através de retractos poderosos, narrativas na primeira pessoa e vídeos participativos, o participante poderá partilhar de um conjunto de histórias sobre o impacto real das alterações climáticas no quotidiano de comunidades locais espalhados por todo o mundo.
A temática da exposição temporária serve de mote para o desenvolvimento de cada um dos nossos Programas Educativos de forma transdisciplinar, pensado para o público escolar, mas também disponível para o público geral. Em cada um dos nossos Programas Educativos disponibilizamos diversos tipos de actividades, como visitas dinâmicas à exposição, oficinas de ciência, saídas de campo e observações astronómicas. Todas as actividades são adaptadas e orientadas segundo critérios diferenciadores, mediante os níveis de ensino e áreas disciplinares a que se dirigem. Para além disso temos algumas destas actividades, integrantes dos nossos Programas Educativos, disponíveis em regime de itinerância. No nosso site (plataforma.edu.pt) poderão encontrar todas as informações sobre os nossos espaços, bem como relativamente à marcação de actividades.

A GUARDA: Quem integra a Plataforma de Ciência Aberta?

Paulo Lourenço: Trata-se de uma equipa pequena, constituída por mim (Coordenador Educativo com formação em Matemática), Maria Inês Vicente (Coordenadora Científica, com formação em Bioquímica e Neurociências), Ana Faustino (Gestora de Projectos e com formação em Biologia e Neurociências), Ana Peso (Gestora de Projectos e com formação em Biologia) e por José Varela (Técnico Superior de Informática do Município de Figueira de Castelo Rodrigo). De referir que, na grande maioria do que temos desenvolvido, contamos com a colaboração e importante contributo de parceiros que, sempre que possível, chamamos à participação activa.

A GUARDA: Quais as principais actividades que são promovidas através da Plataforma de Ciência Aberta?

Paulo Lourenço: Temos imensas actividades (em contexto não formal) disponíveis aquando da visita do nosso edifício que podem ser solicitadas por grupos escolares, famílias e que facilmente são adaptáveis para públicos diversificados dos 3 aos 99 anos. Refiro-me à nossa oferta educativa (que convido a consultar nos nossos Programas Educativos – tanto no actualmente em vigor como nos anteriores). Em termos de contexto formal, temos vindo a aumentar a nossa actuação em contexto escolar, e em particular no Agrupamento de Escolas de Figueira de Castelo Rodrigo em estreita ligação à perspectiva da “Escola Aberta” (Open Schools for Open Societies). Recentemente integramos como parceiros do Clube Ciência Viva na Escola do Agrupamento de Escolas de Figueira de Castelo Rodrigo o que nos está a permitir alargar esta nossa actuação em contexto escolar e em colaboração com os docentes deste agrupamento.
Promovemos diversos encontros de âmbito nacional e também internacional (tais como StixCamp – encontro internacional bienal, Fóruns intermunicipais, …), Festivais de Ciência, cafés com ciência, ciclos de eventos, observações astronómicas, …) e somos, com muita regularidade, convidados a participar e até co-organizar como parceiros em eventos promovidos por outras entidades.

A GUARDA: Em que consiste e a quem se dirige o Festival Ciência Viva do Vale do Côa em Figueira de Castelo Rodrigo?

Paulo Lourenço: A segunda edição do Festival Ciência Viva do Vale do Côa aconteceu nos dias 17 e 18 de Outubro no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, com bancas de exposição, oficinas temáticas e momentos de partilha com cientistas esta edição é organizada pelo Museu do Côa – Centro Ciência Viva, a Agência Ciência Viva e a Plataforma de Ciência Aberta – Município de Figueira de Castelo Rodrigo.
Surge no seguimento da primeira edição do Festival Ciência Viva do Vale do Côa que aconteceu a 15 e 16 de Março de 2019 em Vila Nova de Foz Côa e apareceu no âmbito da entrada do Museu do Côa na rede de Centros Ciência Viva. Já nessa edição a Plataforma de Ciência Aberta – equipamento do Município de Figueira de Castelo Rodrigo, para além de participar com várias actividades, foi também um dos organizadores.
Nesta segunda edição disponibilizámos vários tipos de actividades: Feira com Bancas de Ciência; Oficinas de Ciência; Sessões “À Conversa com Cientistas”.
Com actividades dirigidas para todo o tipo de públicos, desde a impressão 3D, observação e libertação de aves, actividades de astronomia, e também actividades de fitness e de promoção de boas praticas de saúde, que aconteceram durante os dois dias (9h-17h) no Mercado Municipal e na Casa da Cultura de Figueira de Castelo Rodrigo.
Contámos com aproximadamente 600 alunos participantes (correspondentes a 40 turmas), oriundos de 5 agrupamentos escolares da região turmas), nomeadamente, Figueira de Castelo Rodrigo, Freixo de Espada À Cinta, Mêda, Vila Nova de Foz Côa e Torre de Moncorvo. Ainda recebemos um grupo de alunos do ensino superior em Erasmus e oriundos da Holanda assim como um grupo de alunos da Academia Sénior.

A GUARDA: Quais os parceiros que estiveram envolvidos neste Festival Ciência Viva do Vale do Côa?

As parcerias são fundamentais em tudo o que desenvolvemos e neste caso não foi excepção. Nesta segunda edição do Festival Ciência Viva do Vale do Côa contámos com um vasto grupo de parceiros que enumero de seguida: Agência Nacional Ciência Viva (Organizador); Academia Sénior Figueirense - Município de Figueira de Castelo Rodrigo; Agrupamento de Escolas de Figueira de Castelo Rodrigo / Clube Ciência Viva na Escola (Organizador); Associação Geopark Estrela; Associação Transumância e Natureza; Centro de Ciência Viva de Vila do Conde Centro de Investigação da Terra e do Espaço - Universidade de Coimbra; CERVAS - Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens; Escola Superior de Educação, Comunicação e Desporto - Instituto Politécnico da Guarda; Fab Lab - Instituto Politécnico da Guarda; Farmácia Bordalo; Farmácia Moderna; Fundação Côa Parque - Museu do Côa Centro Ciência Viva (Organizador); Gabinete de Ambiente - Município de Figueira de Castelo Rodrigo; Gabinete de Desporto e Educação Física - Município de Figueira de Castelo Rodrigo; Pavilhão do Conhecimento – Centro Ciência Viva; Plataforma de Ciência Aberta - Município de Figueira Castelo Rodrigo (Organizador); Reserva da Biosfera Transfronteiriça Meseta Ibérica; Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

A GUARDA: Os jovens estão despertos para a ciência, a tecnologia e a inovação?

Paulo Lourenço: Penso que não poderemos generalizar, no entanto, esse interesse em regiões de baixa densidade populacional e de maior distância aos grandes centros urbanos (centros de ciência a museus) acaba por ser muito reduzido. Esse foi um dos motivos que inspirou o nosso aparecimento neste território onde diversos relatórios e estudos evidenciavam o baixo interesse pelas áreas directamente relacionadas com ciência & tecnologia e o fraco desempenho escolar associado a um elevado número de jovens em situação de abandono escolar (tudo factores directamente relacionados com a baixa literacia científica).
Este é deveras um desafio que nos motiva. Gostaríamos que os jovens se interessassem, cada vez mais, pela ciência, tecnologia e a inovação. A eles está entregue o futuro e serão eles os responsáveis pelas próximas tecnologias inovadoras. Espero que a Plataforma de Ciência Aberta – Município de Figueira de Castelo Rodrigo venha, comprovadamente, a contribuir para despertar esse interesse na nossa região e mesmo a nível nacional e internacional.