Entrevista: Pedro Figueiredo – Escultor que criou as esculturas do Anjo da Guarda e de Eduardo Lourenço


Pedro Figueiredo nasceu em 1974, na cidade da Guarda. Concluiu o curso profissional de Cerâmica na Escola Artística de Coimbra – ARCA – E.A.C., a licenciatura em Escultura, a pós-graduação em Comunicação Estética e o Mestrado em Artes Plásticas na Escola Universitária das Artes de Coimbra – ARCA – E.U.A.C. Expõe regularmente em Bienais de Arte desde 2003. Tem feito várias exposições individuais e colectivas desde 2000. Está representado em diversas colecções públicas e privadas quer nacionais quer estrangeiras. Actualmente, vive e trabalha em Coimbra. Nos tempos livres gosta de viajar e fazer desporto.
A GUARDA: Quem é Pedro Figueiredo e como se define como escultor?

Pedro Figueiredo: Sou um Escultor de natureza figurativa, julgo que a minha obra se pode enquadrar numa tendência Neossurrealista, da semiótica do sonho e da imaginação. Construo formas que apesar de algo realistas, transportam-nos para mundos/outros, apelando ao nosso imaginário poético e espiritual.

A GUARDA: O que o inspira nas obras de escultura que cria?

Pedro Figueiredo: Qualquer artista tem fontes onde vai “beber” e artistas que com quem mais se identifica, no meu caso o artista com quem mais me identifico é com Wilhelm Lehmbruck, depois também há Henry Moore, Degas e sobretudo Rodin, também gosto de Alberto Giacometti sobretudo dos desenhos. No que diz respeito ao meu trabalho em si inspiro-me muito nas Sombras de Platão e na Torre de Babel. Se estiverem atentos as minhas esculturas estão muito relacionadas com as sombras, porque são formas alongadas e exageradas, parecendo sombras. As cabeças das minhas figuras olham quase sempre para o Céu numa procura de ligar a Terra a Deus, como se tentou fazer na construção de Babel.

A GUARDA: Quais os trabalhos com que mais se identifica?

Pedro Figueiredo: Na realidade identifico-me com todos os meus trabalhos, não consigo mencionar um que me agrade mais. Quando faço um trabalho está lá tudo de mim, é como um filho, em que não consigo dizer abertamente de qual gosto mais. Todos foram feitos no seu tempo e foram/são importantes para mim. Tenho um carinho muito especial por todos.

A GUARDA: O Anjo que se encontra numa das rotundas da Guarda é uma peça icónica ou é só mais uma peça?

Pedro Figueiredo: O “Anjo da Guarda” foi criado por mim para ser uma peça icónica, não apenas da cidade mas do País. Hoje parece fácil e lógico criar essa Escultura para a cidade da Guarda, dado o título que tem, mas ainda agora muitas pessoas me falam da analogia entre o nome da cidade e o título da peça. Para mim esta peça nunca podia ser apenas mais uma obra, porque ela na minha opinião veio fazer uma ruptura entre a ideia Pré concebida que se tem de um Anjo idealizado, e a imagem que eu criei, que tenho a certeza que ninguém esperava. Este Anjo é fruto do meu imaginário de criança, até porque a Guarda é a cidade onde nasci, e ao nascer todas as pessoas têm o seu “Anjo da Guarda”. Esta obra de certo modo também apresenta a minha linguagem artística à cidade que me viu nascer.
A GUARDA: Foi gratificante trabalhar a escultura em homenagem a Eduardo Lourenço?
Pedro Figueiredo: Foi muito gratificante fazer a Escultura de homenagem a Eduardo Lourenço. Quando se retrata alguém é sempre um trabalho de certo modo ingrato e complicado, as pessoas querem sempre ver se está parecido ou não, isso é normal. No entanto para mim não chega estar parecido, é preciso também que ele transmita a sua essência, o homem excepcional que foi Eduardo Lourenço e depois disto tudo que a cidade se reveja na escultura e que sinta a pessoa que ele foi. Em termos de conceito podemos ver nesta escultura, um Pensador, um Filósofo muito à frente do seu tempo, que segura os livros com a mão direita, livros esses, que tinha quase sempre desarrumados no seu escritório contrariando o seu pensamento lógico e brilhante de razão.

A GUARDA: Podemos dizer que é uma peça emblemática para a Guarda?

Pedro Figueiredo: Sim na minha opinião a Escultura de Eduardo Lourenço é uma obra emblemática para a Guarda, até porque o eterniza no centro da cidade e que faz justiça a um homem que merece sempre ser lembrado pelas pessoas mais velhas e dado a conhecer aos mais jovens como exemplo de um homem sábio e profundamente distinto que nasceu no nosso distrito. Na minha opinião Eduardo Lourenço não é conhecido como devia, não só na cidade como no País, espero que as coisas mudem a esse respeito. Homens como ele só nascem de cem em cem anos, infelizmente.

A GUARDA: Considera que as suas peças são polémicas?

Pedro Figueiredo: Sim, as minhas peças são muitas vezes polémicas, é fundamental para um artista que assim seja. A arte serve para despertar consciências, para inquietar, para nos tirar da zona de conforto e fazer-nos reflectir. Para fazer formas que já existem, que o público esteja à espera e de gosto fácil, não vale a pena, para isso não contem comigo. A Arte é uma promessa de felicidade e de Liberdade, uma fuga para outros mundos que pertencem ao imaginário das pessoas mas também do artista que a concebe. Para mim toda a Arte deve ser polémica para ser o suficientemente forte para perdurar no tempo.
A GUARDA: Como avalia a política cultural da Câmara Municipal da Guarda?
Pedro Figueiredo: A política Cultural da Guarda, na minha opinião tem sido positiva, os agentes políticos têm feito o que podem para oferecer um bom cartaz cultural à cidade. Não nos podemos esquecer que a Guarda é uma cidade que está situada no interior e como não bastasse temos agora uma conjuntura social pouco favorável a grandes investimentos. No entanto considero o trabalho que tem sido feito nos últimos anos bastante positivo, vamos acreditar que ainda pode ser melhor, mas para isso é necessário que todos/as puxem para o mesmo lado.