Entrevista: Joaquim Cardoso Pinheiro, presidente do Centro Paroquial de Seia


Joaquim Cardoso Pinheiro nasceu, em 1966, na cidade da Guarda e passou a infância numa aldeia próxima, Avelãs de Ambom. Frequentou os seminários diocesanos do Fundão e da Guarda. Ordenado sacerdote em 1992, agregou ao exercício do ministério sacerdotal o estudo da Filosofia na Universidade Pontifícia de Salamanca, onde se licenciou em 1995.Foi professor de Filosofia no Seminário Maior da Guarda e no Instituto Superior de Teologia, em Viseu, do qual foi também director. Fez mestrado em Filosofia Geral na Universidade Nova de Lisboa e doutorou-se em Filosofia na Universidade do Porto.Actualmente é pároco de Seia, S. Romão e Sabugueiro e arcipreste do Arciprestado de Seia/ Gouveia. A GUARDA: O Centro Paroquial de Seia assinalou, esta quarta-feira, o 68º aniversário. Como é que a cidade e o concelho de Seia olham para a instituição? 
Joaquim Pinheiro: A cidade de Seia tem boas razões para ver o Centro Paroquial de Seia como uma instituição de referência no âmbito do apoio às crianças, adolescentes e idosos, tanto mais que, no concelho de Seia, é uma única instituição do género com Certificação do Sistema de Gestão Qualidade, desde 2015. De facto, ao longo da sua história, tem estado na vanguarda do apoio às famílias, sobretudo às mais carenciadas. Quanto às freguesias mais distantes da sede do concelho, ainda que saibam da existência do Centro Paroquial de Seia, é provável que lhes seja um pouco indiferente. 
A GUARDA: De forma sucinta, fale-nos um pouco da criação e evolução do Centro Paroquial de Seia em quase sete décadas? 
Joaquim Pinheiro: O Centro Paroquial de Seia foi criado oficialmente no ano de 1953, ainda que sua actividade remontasse já à década de 40. O Padre José Quelhas Bigottte, pároco de Seia, e o Dr. Alberto Marques da Silva, que doou o terreno para a implantação dos edifícios, conhecido como a Quinta da Carvalha, foram as figuras mais proeminentes da sua criação. Depois, década após década, a Instituição foi crescendo e organizando os seus serviços de forma cada vez mais profissional. A partir do ano de 1983, uma vez determinada a sua natureza jurídica e assinados os primeiros protocolos com a Segurança Social, a Instituição começou a ganhar escala. Na década de 90, o novo pároco de Seia, Padre Joaquim Teixeira, passou a presidir às sucessivas Direcções, que continuaram a perseguir esse objectivo de escala e qualidade. A actual Direcção tem já em fase de licenciamento um projecto de requalificação de todo existente e que inclui também alguma ampliação. Esta obra de construção permitirá aumentar a capacidade e a qualidade das instalações; e criará mais serviços e postos de trabalho.  
A GUARDA: Quais as respostas sociais que são oferecidas, actualmente, pelo Centro Paroquial de Seia? 
Joaquim Pinheiro: O Centro Paroquial de Seia tem em funcionamento três respostas sociais para a infância: Creche, Pré-Escolar e Centro de Actividades de Tempos Livres; e uma resposta para a terceira idade, a Estrutura Residencial para Pessoas Idosas. Não sendo propriamente uma resposta social, a Instituição coopera na distribuição de alimentos a várias dezenas de famílias do concelho de Seia, sinalizadas pela Segurança Social, tendo para isso de afectar logística e recursos humanos. Este é um serviço solidário em sentido forte. Por fim, dizer que tem ainda um edifício equipado para acolher grupos de “Colónias de Férias” e outro género de grupos, e que inclusivamente tem sido requisitado em situações de emergência humanitária, como foi o caso dos incêndios no ano de 2017 e que poderá voltar a ser requisitado durante a pandemia ainda sem fim à vista. 
A GUARDA: Quantas pessoas estão envolvidas no funcionamento de toda esta estrutura? 
Joaquim Pinheiro: A Instituição tem actualmente cerca de 70 colaboradores, sem contar os prestadores de serviços e os estagiários. No geral, os colaboradores têm contractos que lhes garantem estabilidade no emprego. As rescisões por iniciativa da Instituição quase não existem. Estes são também alguns dos pontos em que o Centro Paroquial de Seia faz a diferença. 
A GUARDA: Como é que a instituição se adaptou a tantas contingências provocadas pela pandemia? 
Joaquim Pinheiro: A primeira medida foi aplicar com rigor os planos de contingência, em todas as respostas sociais e, de modo particular, na Estrutura Residencial, onde, por uma questão de protecção dos utentes, adoptou os chamados horários em espelho. No primeiro confinamento, procurou dar trabalho na valência que não encerrou, não tendo recorrido assim ao lay off. Depois, procurou reduzir custos onde foi possível, pois, os proveitos tiveram uma diminuição acentuada. Em terceiro lugar, mostrou-se sensível às dificuldades de muitas famílias com crianças na Instituição e procurou dar-lhes outras boas razões para continuarem a preferi-la, nomeadamente aceitando ser a Creche de Referência a nível local, recebendo assim crianças de outras instituições enquanto se mantiver o estado de emergência. Por último, reinventou formas de manter os familiares em contacto com os idosos.  
A GUARDA: Quais as principais dificuldades com que se debate o Centro Paroquial de Seia? 
Joaquim Pinheiro: O Centro Paroquial debate-se com dificuldades na contratação de recursos humanos para a resposta social destinada aos idosos; num certo abstencionismo de alguns colaboradores provocado pela pandemia; na diminuição da frequência nas respostas sociais para a infância, também por causa da pandemia; nos serviços administrativos por causa do caudal de nova legislação, de baixas acrescidas por isolamentos profilácticos de alguns colaboradores e também por apoio aos seus filhos menores de 12 anos, e de mais exigências das entidades públicas; nas burocracias inerentes a projectos, candidaturas e apoios. 
A GUARDA: Como olha para o futuro não só do Centro Paroquial a que preside, mas também de todas as Instituições de solidariedade Social? Joaquim Pinheiro: A situação destas instituições não é, no geral, financeiramente folgada. Algumas poderão não resistir à quebra de procura dos seus serviços, em virtude de a população no interior estar a diminuir, particularmente a população juvenil. E, claro, a pandemia agravou em muito a situação que já era difícil. Todavia, como Direcção do Centro Paroquial de Seia está empenhada em dar mais qualidade e escala à Instituição que dirige, augura-se um futuro pautado pela sustentabilidade.