Entrevista: Francisco Beirão - Presidente da Associação Casa de Cultura Prof. Dr. Pinto Peixoto

Francisco Beirão, Presidente da Associação Casa de Cultura Prof. Dr. Pinto Peixoto, é natural de Miuzela, no concelho de Almeida. Frequentou a Escola de Miuzela, Seminário do Fundão, Colégio de São José/Guarda, Colégio Tomás Ribeiro/Tondela e Faculdade de Letras da Universidade de LisboaGosta de ler e ir ao cinema, “bricolar”, caminhar e viajar.
A GUARDA: O que é e como apareceu a Associação Casa de Cultura Prof. Dr. Pinto Peixoto?
Francisco Beirão: A Casa de Cultura Professor Doutor José Pinto Peixoto é uma associação de direito privado com sede na freguesia de Miuzela, concelho de Almeida e tem como objectivo perpetuar a memória do Prof. Doutor José Pinto Peixoto enquanto cidadão, cientista e pedagogo. A constituição e localização da associação foram ideia do saudoso Major-General Augusto José Monteiro Valente, também filho da terra e membro da comissão nacional de homenagem a Pinto Peixoto, que a apresentou a um grupo de miuzelenses, de que faziam também parte os familiares mais próximos do saudoso professor, os presidentes e outros elementos da Junta de Freguesia de Miuzela e do Centro Social, Cultural e Desportivo Miuzelense. A sugestão foi acolhida sem reservas e a Associação Casa de Cultura Prof Dr José Pinto Peixoto seria constituída por escritura pública celebrada no Cartório Notarial de Almeida, no dia 2/11/1999. Por não ter sede própria, a Junta de Freguesia e o Centro Social disponibilizaram-lhe, entretanto, espaços próprios para que pudesse realizar os seus eventos, situação que se manteve até 12/8/2012, data de inauguração da sua sede. Aqui chegados, é oportuno lembrar outros factores que se conjugaram favoravelmente e que refiro: desde logo, o desafio em boa hora lançado pelo Prof. Doutor Carvalho Rodrigues para que se criasse uma comissão nacional de homenagem a José Pinto Peixoto, a qual, atingido o seu propósito, nos doou mais de metade dos custos da obra; em segundo lugar, as doações do imobiliário pela irmã de Pinto Peixoto, D. Judite C Pinto Peixoto (3/4) e pelo Dr Victor Morais Ladeiro e Esposa (1/4); em terceiro lugar, o apoio técnico e financeiro da Câmara Municipal de Almeida; e, por fim, as doações feitas por alguns sócios e amigos do homenageado.
 A GUARDA: A escolha da Miuzela, no concelho de Almeida, para sede da Associação, tem uma grande carga emocional e familiar?
Francisco Beirão: Bem mais do que esses factores, diria que foi uma opção assente no propósito de explorar a notoriedade universal de Pinto Peixoto e a grande empatia que a generalidade da população local lhe devotava. A escolha da Miuzela para sediar a associação visou, assim, homenageá-lo a nível local, na expectativa de que todos pudessem tirar partido desse seu enorme prestígio dentro e fora de Portugal.Por outro lado, consultando os estatutos, é possível constatar a tal carga emocional e familiar que refere, bem visível, aliás, na obrigatoriedade de a composição da lista para a direcção da associação reservar, ainda que facultativamente, um lugar para um representante da família de Pinto Peixoto; e, ainda, no caso de ameaça à sobrevivência da associação, é dada a possibilidade à família do patrono de se constituir em Comissão de Gestão até ser possível o regresso à normalidade associativa.
A GUARDA: É importante manter viva a memória de pessoas ilustres destas terras cada vez mais esquecidas?Francisco Beirão: Lembrar aqueles que, antes de nós, souberam afirmar-se pelo mérito e cuja conduta social e cívica constituiu exemplo que pode e deve ser emulado, é não só importante como moralmente obrigatório. Evocá-los e passar o seu testemunho de vida às gerações mais jovens ajuda a reforçar o sentido de pertença e o amor à terra, podendo contribuir para a sua fixação, mal grado as circunstâncias serem cada vez menos favoráveis a esse desiderato. Não o reconhecer é passar ao lado do presente. 
A GUARDA: Quem é que pode fazer parte da Associação Casa de Cultura Prof. Dr. Pinto Peixoto?
Francisco Beirão: De acordo com os estatutos, qualquer pessoa que o deseje. Para o efeito, basta que nos contacte pessoalmente ou através do e-mail associacaojpinto Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar., preencha a ficha de inscrição, pague €5,00 de jóia e, anualmente, uma quota no valor de seis euros.
A GUARDA: O que é que a Associação tem para mostrar a quem passa pela sua sede?
Francisco Beirão: Desde logo, o edifício-sede, cujo historial honra a Miuzela e os miuzelenses. Aí funcionou a primeira botica de que há memória na aldeia; aí foram recebidas e tratadas vítimas das invasões francesas; aí habitaram operários e técnicos envolvidos na construção do caminho de ferro da Beira Alta. Quanto ao recheio, posso dizer que possuímos um pequeno acervo bibliográfico e algum mobiliário que pertenceu a José Pinto Peixoto e que nos foi legado pelos seus sobrinhos. Lembro que o mesmo integra alguns espécimes de sua autoria, como comunicações académicas, sebentas, monografias, obras sobre termodinâmica, o clima e a circulação da água na atmosfera, entre outras.  Para além disso, a Casa de Cultura tem os meios indispensáveis, ainda que modestos, à prossecução das suas finalidades, contando com um “salão nobre” onde pontua o retracto e alguns dos diplomas académicos de Pinto Peixoto. No piso inferior, temos um salão que permite acomodar até cinquenta pessoas.
A GUARDA: Quais as principais actividades que são desenvolvidas pela Associação?
Francisco Beirão: As actividades desenvolvidas distribuem-se por quatro programas, a saber: memória e futuro, que promove colóquios e conferências; memória e educação, que atribui, anualmente, prémios pecuniários aos alunos que mais se distinguiram nos ensinos básico (desde que naturais ou descendentes de nascidos na Miuzela) e secundário (este a nível nacional); memória e cultura, através do qual se tenta a recuperação e valorização da cultura tradicional e a criação de novas dinâmicas culturais em ordem a preservar a identidade e o sentido de pertença; memória e evocação, que visa editar ou patrocinar obras de homenagem a José Pinto Peixoto, bem como reunir e expor património pessoal e científico.Para acompanhar as actividades desenvolvidas, aconselho uma visita ao webb-site da associação, cujo endereço é www.casa culturapintopeixoto.org e do qual constam o Plano e a Agenda de Actividades para cada ano, assim como os regulamentos dos concursos aos prémios que referi, entre outras indicações. 
A GUARDA: Numa região cada vez mais despovoada, quais os grandes desafios que a Associação tem pela frente?
Francisco Beirão: O maior de todos é, sem dúvida, a sobrevivência da associação. Menos habitantes significa menos associados, menos apoios, menos receitas...menos iniciativas. Além disso, o perfil demográfico da Miuzela – e do concelho - mostra-nos a prevalência de uma população idosa, sendo o saldo fisiológico assustadoramente negativo desde há alguns anos. Ora, assentando o trabalho associativo no regime de voluntariado, e precisando os jovens de “fazer pela vida”, convenhamos que a perspectiva é pouco favorável.Apesar disso, esperamos realizar o sonho de editar as comunicações apresentadas nas homenagens promovidas pela “Comissão para as Comemorações Nacionais em Homenagem ao Professor J Pinto Peixoto”, cujos testemunhos ajudam a melhor compreender quem foi e o que esse grande homem fez enquanto cientista, pedagogo e cidadão.