Vila Nova de Foz Côa


“O Resto e o Gesto: Desenhos para o século XXI” é o tema da exposição da autoria de Alexandre Farto, Catarina Patrício e Paulo Lisboa, que está patente na Fundação Côa Parque até 25 de Janeiro de 2015. Trata-se de um projecto de criação artística contemporânea, que procura reforçar o entrosamento da Arte Rupestre do Côa, classificada como Património Mundial da Humanidade, através de três abordagens plásticas. Alexandre Farto, Catarina Patrício e Paulo Lisboa, propõem-se refigurar esta arte única do Paleolítico superior e sua paisagem por meio de outros riscadores e superfície de inscrição, mas sempre inscrevendo, desenhando e designando.
A técnica é a primeira etapa onde começa o humano. Em certos momentos, técnica e natureza cruzam-se – e as zonas de fronteira são sempre faixas de miscigenação, e não de oposição – tal como em outros tantos momentos, a ideia de técnica entrecruzar-se-á com a noção de humano. Essa zona indefinida é o território da arte.
As primeiras pedras talhadas, os primeiros utensílios produzidos, as primeiras paredes gravadas, poderão não ser absolutamente inteligíveis, mas logram ser lidos na sua tecnicidade e imensa plasticidade originária. São testemunhos pétreos que cristalizaram para a eternidade narrativas, movimentos, anatomias.
Nem puramente instrumental, nem absolutamente subjectiva, a criação artística resulta da acção de um corpo sobre uma superfície inscrição - de um corpo que aprendeu a ver para poder inscrever. As Artes-Plásticas revelam-se assim na dupla mediação de ser ainda técnica e já discurso. É essa a lição ancestral gravada nas paredes do Vale do Côa.