O Galo voltou a arder depois de ter sido acusado e julgado perante milhares de pessoas na Praça Velha, na Guarda.
Não há voltas a dar, o malfadado bicho ainda não foi desta que escapou à sentença de morte.
Há vários dias que o Galo esperava o final de um desfile, com gente de quase todas as freguesias do concelho, a que se juntou uma multidão de residentes e forasteiros que lotou a Praça Maior da cidade.
Pelo caminho ficaram muitas venturas e desventuras que marcaram e marcam os dias de um povo cada vez mais esquecido e defraudado na saúde, nos transportes, na habitação, nos salários. Se para uns, a falta de esgotos e de água ainda é uma necessidade primeira, outros há que já sonham com passadiços de última geração. Da roda da sorte que até distribuía dinheiro do ‘governo’, aos milhões gastos com as operações de recuperação da TAP, sem esquecer um Hotel de Turismo Fantasma, as críticas foram mais que muitas.
Na Praça Velha, os defensores do Galo, na “Taberna da Ti Defesa”, e os acusadores os “Jovens da Acusação”, esgrimiram argumentos a favor e contra o Galo. Os testemunhos, nesta edição surgiram em formato de música, teatro e dança no palco deste tribunal encenado e onde o réu, o Galo, continuou a ser a figura central. O espectáculo da Praça Velha voltou a incidir sobre tantos males que ainda afligem as pessoas da Guarda, com destaque para a maternidade que não sai da corda bamba. O Porto Seco, a Avenida da ‘T Jaquina’, o Palco da JMJ, e o relatório da Comissão Independente sobre os casos de abuso sexual na Igreja, também não passaram impunes.
Pegando numa tradição ancestral de muitas aldeias do concelho, a Guarda voltou a celebrar o Entrudo e, para não variar, atirou as culpas todas para cima do Galo. E, para não destoar, foi queimado na praça pública sem nó nem piedade.