Entrevista: Manuel José Fernandes Gomes, Presidente da Freguesia de Vilar Formoso

Manuel José Fernandes Gomes é natural de França, com raízes em Arrifana do Côa, concelho de Sabugal. Estudou e viveu, até ao 12º ano, na Guarda e, posteriormente, licenciou-se em Engenharia Mecânica pela Universidade de Coimbra. Actualmente é Professor de Matemática na Escola Básica e Secundária de Vilar Formoso, residindo em Vilar formoso desde o ano 2000. É Presidente da Junta de Freguesia de Vilar Formoso desde 2013.Manuel José Fernandes Gomes é natural de França, com raízes em Arrifana do Côa, concelho de Sabugal. Estudou e viveu, até ao 12º ano, na Guarda e, posteriormente, licenciou-se em Engenharia Mecânica pela Universidade de Coimbra. Actualmente é Professor de Matemática na Escola Básica e Secundária de Vilar Formoso, residindo em Vilar formoso desde o ano 2000. É Presidente da Junta de Freguesia de Vilar Formoso desde 2013.Dedica os tempos livres à família, desporto e horticultura.
A GUARDA: Como Presidente da Freguesia de Vilar Formoso, mesmo na linha Fronteira com Espanha, quais as principais preocupações que houve neste tempo de isolamento social, provocado pelo estado de emergência, devido ao covid-19?
Manuel Gomes: As nossas principais preocupações são partilhadas por qualquer Presidente de Junta, são as questões de saúde da nossa população, como proteger, como ajudar, como precaver situações de risco.
A GUARDA: Como é que as pessoas têm encarado e vivido esta situação tão específica de isolamento social, numa zona de convívio entre pessoas de um e outro lado da Fronteira? 
Manuel Gomes: No entanto no nosso caso acresce o facto da nossa povoação ser contigua com Fuentes de Oñoro e existem laços de amizade, comércio e cultura que nos unem e que foram quebrados com esta pandemia. Tal tem sido difícil de aceitar por parte da população, atendendo a que mesmo em tempos idos, em que a Guarda Fiscal guardava a fronteira estes dois povos coabitavam. Saliente-se ainda que, ultimamente, a colaboração entre as duas povoações era cada vez mais forte compartindo ginásios, piscinas e outras actividades lúdicas, o que permitiu cimentar amizades.
A GUARDA: Que impacto teve o fecho da Fronteira, devido ao Covid-19, na economia local? 
Manuel Gomes: Vilar Formoso e Fuentes de Oñoro vivem fundamentalmente do comércio e serviços. Vilar Formoso vocacionado para o cliente Espanhol e Fuentes de Oñoro para o cliente Português, ao que se somam os turistas que passam diariamente nesta fronteira. No momento em que as fronteiras fecham, dum lado e do outro deixamos de ter clientes, o que bloqueia a nossa actividade económica.
A GUARDA: Quais os sectores que foram mais afectados com esta medida? 
Manuel Gomes: A restauração e o comércio são os mais afectados. Ao nível da restauração, três de entre os quinze restaurantes existentes em Vilar Formoso permanecem abertos em regime de Take Away,  para poder apoiar principalmente as centenas de camionistas que diariamente passam  a fronteira e que vêm do centro da Europa, sem ter ao longo da viagem acesso a uma refeição quente. Relativamente à venda de atoalhados, outro dos nossos pontos fortes ao nível do comércio, teve de fechar como em todo o país. No entanto esta situação é muito preocupante, pois este tipo de comércio já estava a passar por algumas dificuldades e a crise gerada por esta pandemia será mais uma pedra num caminho que já não era fácil. De referir ainda que a indústria de transformação de pedra também teve de diminuir a sua produção, atendendo a que os seus principais clientes são de Espanha, onde a construção civil esteve parada.
A GUARDA: Como presidente da Freguesia de Vilar Formoso quais as principais dificuldades com que se tem debatido ao longo do mandato?
Manuel Gomes: A principal dificuldade passa por reverter o despovoamento da nossa vila, criando oportunidades de trabalho, que permitam que os nossos jovens permaneçam em Vilar Formoso. Desde o início do nosso mandato focamo-nos em publicitar o nosso comércio e as nossas potencialidades turísticas atendendo ao forte dinamismo existente ao nível da restauração e hotelaria. Também temos trabalhado no sentido deque seja reabilitado o Parque TIR, permitindo que os camionistas que por ali passam diariamente possam ter condições dignas, pois a Vila tem ao seu dispor restauração de qualidade e serviços que não encontram em mais nenhum local de paragem. Infelizmente o Estado Central que tem a tutela do local, até hoje não fez nada para o requalificar. Recentemente iniciámos conversações para reverter esta situação, esperemos que os momentos difíceis que se avizinham não façam cair por terra os compromissos assumidos pelo Governo.
A GUARDA: Quais as principais desafios com que enfrenta a sua freguesia a curto e médio prazo, nomeadamente com a ligação da auto-estrada entre Portugal e Espanha?
Manuel Gomes: A ligação das auto-estradas A25 e A62 entre Portugal e Espanha é mais uma das consequências negativas que a Europa nos impõe e que vai afectar negativamente Vilar Formoso, pois vai tirar milhares de veículos/pessoas que diariamente atravessavam esta vila contribuindo para que pudéssemos continuar a ter mais de uma centena de pequenos empresários. A forma de minorar este impacto, como disse anteriormente passa pela recuperação do Parque TIR e em conjugação a criação de uma plataforma logística junto a este.

A GUARDA: Como olha para o actual estado de despovoamento de tantas povoações do interior do País, nomeadamente da linha de Fronteira?
Manuel Gomes: O despovoamento deve-se em parte ao facto dos nossos jovens estudarem e atingirem níveis de formação académica, para os quais as empresas localizadas na nossa região não têm capacidade de oferecer trabalho compatível com essa formação. No entanto aproveito a oportunidade para relembrar que qualquer pessoa tem melhor qualidade de vida em Vilar Formoso, mesmo que ganhe um ordenado menor que em Lisboa, facto que é muitas vezes esquecido. Vilar Formoso continua a ser uma das maiores vilas do Distrito da Guarda com dois mil habitantes, ao que se somam do outro lado da Fronteira mil e quinhentos habitantes de Fuentes de Oñoro, criando um núcleo populacional de três mil e quinhentas pessoas, que nos permitem ter uma grande oferta de serviços e equipamentos, que em nada inveja algumas cidades do país. Um factor que veio prejudicar o interior foram as portagens, pois todos aqueles que partem para o litoral e que, anteriormente, vinham ver a família e amigos semanalmente, são impedidos de o fazer pelos elevados custos das portagens. Graças a isso perdem-se laços de amizade e o nosso comércio fica fortemente penalizado, pois essa juventude era um bom consumidor e um bom divulgador das potencialidades da nossa terra.Desejo a todos votos de saúde.