Opinião

Na Bula de proclamação do Ano Jubilar da Misericórdia que está em curso, o Papa Francisco convida a que a Quaresma deste Ano “seja vivida mais intensamente como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de Deus” (Misericordiae Vultus, 17). Para tal, o Papa propõe como grande exercício a escuta orante da Palavra de Deus, com sentido profético. A partir daí, a misericórdia acontecerá naturalmente na história humana, sobretudo, nas circunstâncias mais frágeis e mais dramáticas da vida. Neste processo, Jesus é o exemplo. Ele é o rosto da misericórdia divina encarnada. Ele é misericórdia. Mas o que significa isso realmente?

A misericórdia, neste Ano Jubilar que lhe é dedicado, tem sido alvo de atenção de inúmeras conferências, colóquios, livros, revistas, artigos, homilias, sermões, retiros, programas de rádio, televisão e redes sociais. Desde a sua descrição etimológica, passando pelas suas múltiplas ligações a situações e personagens até à sua leitura através das chamadas “obras de misericórdia”, ela tem sido, com certeza, das palavras mais repetidas neste Ano, afirmando-se, desde já, como uma das palavras candidatas a palavra do ano. No meio de tantas palavras sobre esta palavra, podemos correr o risco de ofuscar o seu verdadeiro significado que, mais do que ser discutido, há de ser vivido, mais do que ser dito há de ser feito, mais do que ser retórica há de ser práxis. Daí a oportunidade deste tempo de Quaresma para a tal escuta orante proposta pelo Papa, voltada para o essencial e traduzida em gestos concretos. Como nos diz o Papa Francisco na sua mensagem para esta Quaresma, “a misericórdia de Deus transforma o coração do homem e faz-lhe experimentar um amor fiel, tornando-o assim, por sua vez, capaz de misericórdia”. A esta transformação pessoal traduzida em transformação social, o Papa chama “milagre”, o milagre das obras de misericórdia corporais e espirituais, que nos recordam que “a nossa fé se traduz em atos concretos e quotidianos, destinados a ajudar o nosso próximo no corpo e no espírito e sobre os quais havemos de ser julgados”. E esse próximo onde Cristo se torna visível domo “corpo martirizado, chagado, flagelado, desnutrido, em fuga... a fim de ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosamente por nós” (Misericordiae Vultus, 15), tem nome, existe, desafia, torna credível, evangeliza, converte, aproxima, dá sentido, enfim, é misericórdia. “Com efeito - remata o Papa, é precisamente tocando, no miserável, a carne de Jesus crucificado que o pecador pode receber, em dom, a consciência de ser ele próprio um pobre mendigo”.

As pessoas privadas de liberdade são “corpo martirizado, chagado, flagelado” do próprio Cristo, como Ele próprio disse (Mt 25, 31-46). Nesta Quaresma, de um modo especial, somos chamados, também aí, a escutá-lo ativamente, a reconhecê-lo, a tocá-lo e a assisti-lo cuidadosamente.

A obra de misericórdia “visitar os presos” é, assim, um convite para todos os que se dizem cristãos, seja através da participação nas atividades de visita aos estabelecimentos prisionais associados aos serviços de assistência espiritual e religiosa que existem em todas as prisões do país, seja colaborando na prevenção e na reinserção de pessoas privadas de liberdade.

Perante o conforto dos nossos espaços e discussões filosóficas e religiosas, na “periferia” de uma prisão continua a gritar o clamor de tantos irmãos nossos que apelam ao exercício do nosso património humano e religioso. Mais do que teorizações, o nosso Deus implica ações. Mais do que discursos sublimes sobre a misericórdia, o nosso Deus implica gestos de misericórdia.

Só através de gestos de misericórdia como estes em favor das pessoas privadas de liberdade se aproveitará a Quaresma como tempo favorável e só assim a Páscoa acontecerá, não apenas no calendário mas na vida de cada um, tanto dos visitados como dos visitantes.

Paulo, voluntário prisional

Um homem com uma biografia impressionante – e não menos impressionantes exemplaridade, dignidade – usando a nua e crua linguagem da verdade, Henrique Neto, em entrevista ao Weekend, suplemento do Jornal de Negócios (5-XI-2010), declarou que se utilizam”técnicas da maçonaria” para dominar a verdade.

Voltando a falar da Europa, que me desagrada quanto ao seu modo de agir perante circunstâncias análogas. Cedo se começou a perceber que a parte rica da Europa queria através do seu poderio monetário pôr os pobres mais pobres, os dos países periféricos, à meia-ração.

José Augusto Sacadura Garcia Marques
Juiz Conselheiro do STJ (Jubilado)

Li recentemente o último livro publicado do escritor espanhol Javier Cercas, “O Impostor”, editado em Portugal pela Assírio & Alvim (1ª edição, Outubro de 2015), autor há dias premiado no 17º Festival Corrente d’Escritas.

Viagens ao reino de Clio

O CISNE NEGRO

O que é espantoso – e não é, já agora – é que nenhum dos candidatos que se apresentou à liça para Presidente da república

A memória das palavras

Pontos de Vista