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É um gosto e uma honra estar aqui convosco e a falar para vós. Eu sei: é canónico dizê-lo – mas ainda é mais verdade senti-lo.
O nosso compatriota Doutor (por extenso, tal é o seu mérito), Doutor Luís Francisco Alvarenga Varela, que nos veio lá de “baixo” dos trópicos para nos lembrar que o ideal da multi-racialidade, multi-continentalidade e multi-culturalidade é de um excelso intangível, este nosso compatriota que veio de uma terra que produziu gente da mais inteligente de África, donde saíram quadros superiores e destacados trabalhadores para o espiritual, territorial, diplomático, económico e grandiosamente desmedido Portugal, dignou-se, com a discrição própria dos grandes, honrar-me com o convite para falar sobre saúde, na apresentação pública desta ONG sobre saúde no distrito da Guarda.
Antes de avançar é imperativo lembrar que foi precisamente na ilha de Santiago que foi edificada a mais antiga igreja portuguesa nos trópicos, um notável monumento que, sabemo-lo há pouco, arrebata, assim, a primazia atribuída à catedral de S. Salvador do Congo.
Disse-lhe imediatamente que sim, claro. Primeiro, porque o inestimável valor da amizade se honra; e, depois, porque a saúde é “matéria” que percute em cheio em mim. Baste dizer que a minha carta astral regista que me interesso por “saúde, crescimento e dieta”, tal como por “Historia, Filosofia e Arte”, precisamente a minha matriz. Mais. Já estive na “Shelton’s Health School”, em San Antonio, Texas, há cerca de 40 anos; e não perco literatura de qualidade sobre estes assuntos. Há que “fazer o bem sempre que houver oportunidade”, como me ensinaram; e o meu amigo, Doutor Luís Francisco Alvarenga Varela pode contar sempre com os meus modestos préstimos.
A primeira condição para se ter saúde é querê-la. Querer é poder – e, todavia, não basta meramente querê-la. Querer implica esforço, é sinónimo de humildade, de uma permanente atenção ao nosso ser mais íntimo, ao que nos diz tanto o corpo como o espírito (é sem sentido a prioridade a dar a qualquer destes dois componentes, corpo e espírito, alma se quiserdes). Querer é, também, ser-se optimista, saber, como disse Hesíodo, que “ante o mérito, puseram os deuses o suor”. Querer é estarmos dispostos à luta – às vezes nada fácil –, querer, enfim, é crer, acreditar, termos fé, sabermos que só as vitórias nos esperam. O meu Professor de Filosofia Antiga, ademais um insigne poeta, escreveu que “ de tudo o que acabamos nasce um deus”; e Jacques Monod registou que, em Biologia, “o acaso existe pelo acaso; e o necessário pelo necessário”.
Quanto às dificuldades, um amigo, que é das mais insignes personalidades mundiais na sua área, escreve que “as dificuldades são oportunidades”. Mais diz ele: “Os eventos traumáticos são sempre penosos, mas têm um lado positivo. Podem tornar-nos mais sensatos e dar-nos profundidade sobre o nosso próprio carácter e o dos outros”, o que é a radical rejeição do coitadismo, a eloquente afirmação do agonismo, o “nós cá estamos”, a certeza de que nada nos está destinado excepto a vitória.
O esforço implícito ao querer e ao crer (acreditar) faz surgir e/ou exponenciar em nós a curiosidade, a busca pelo saber, o esforço para estarmos à altura, a exponenciação da auto-estima, o optimismo como regra de vida, a incoercível e sublime auto-disciplina como critério vital, perene. A Saúde “não é a feijões”, não é nenhuma brincadeira.
A curiosidade começa por saber quem somos e donde vimos, por desvelar o próprio mistério que nós próprios somos, por ter como lema uma indefectível constância. A nossa unicidade não pode transaccionar-se, é com ela que temos que viver – e, para vencê-la, enfrentá-la. É um lugar-comum da sabedoria elementar que numa casa de muitos filhos eles são todos diferentes – até no físico – e toda a gente deve, igualmente, saber que a idade é apenas um número (mesmo que seja corrente remeter-se para a idade e que “as superficiais e estereotipadas imagens mediáticas nos pretendam dizer como nos havemos de sentir, a nós próprios”, nas palavras desse mesmo amigo). Mais. Para virmos à Vida não fomos ouvidos nem achados, como se diz em linguagem popular. Um bom antídoto contra a idade reduzida a um número é gozar a vida – tanto apolínea como dionisiacamente. Mas, como em tudo, “nada em excesso”, como diziam os gregos antigos (os actuais, pelos vistos, querem honra e proveito mas com pouco esforço...).
Guarda
*Conferência “Sobre a Saúde” proferida por Alves Ambrósio, na apresentação do Núcleo da Associação Saúde em Português, no dia 29 de Fevereiro.