Tendo em linha de conta que a duração da monarquia portuguesa teve a duração exata de setecentos e sessenta e sete anos,

que é o espaço que vai desde a conferência de Zamora no dia cinco de outubro do ano de mil cento e quarenta e três, até ao mesmo dia cinco de outubro do ano de mil novecentos e dez, em que Machado dos Santos considerado o herói da República anunciou a sua vitória, resolvi aqui focar os últimos eventos, em que a monarquia, ou falando melhor, os elementos da Família Real receberam aplausos ou manifestações de carinho do Povo Português.
Segundo dados que julgo serem corretos, a última cerimónia pública levada a efeito pela monarquia, coube ao desventurado Rei D. Manuel II, em vinte sete de setembro de mil novecentos e dez, estando presente na inauguração do museu militar do Buçaco, no dia em que se comemorava o primeiro centenário da batalha que se ali travou durante as invasões napoleónicas. Este evento coincidiu com uma terça-feira, tendo em linha de conta que na segunda-feira seguinte o movimento republicano já estava na rua, considerando ainda a mobilidade e os meios de transporte à época leva-me a crer que este foi o último ato avalizado pela monarquia. Também não tenho dúvidas que a presença de Sua Majestade por aquelas bandas, ainda em reconstrução, devido à contenda ali havida cem anos antes, o povo e acima de tudo as autoridades da região ali tenham comparecido para elevar a dignidade da abertura desta instituição que ficou ao serviço da História de Portugal.
A partir de então houve mais três acontecimentos em que Portugal se vergou em memória da monarquia. O primeiro deles aconteceu em dois de agosto de mil novecentos e trinta e dois, no funeral de D. Manuel II, que com honras de Estado, o seu corpo foi depositado no Panteão Real da Dinastia de Bragança, no mosteiro de São Vicente de Fora. O falecimento aconteceu um mês antes, em Twickenham, bem perto de Londres, que por coincidência, ou não, foi onde sua mãe nasceu. Este espaço entre o óbito e o funeral, ficou a dever-se claramente à transladação. Os escritos que me chegam, levam-me a afirmar que em Lisboa houve uma enorme manifestação de pesar.
Segue-se a visita da rainha Dona Amélia a Portugal no ano de mil novecentos e quarenta e cinco. Veio do exílio com a verdadeira autorização de Salazar, que até lhe franqueou uma total permanência, estando entre nós nesse ano entre os dias dezanove de maio a trinta de junho. A sua vinda aconteceu pelo comboio, tendo sido saudada com o maior entusiasmo na estação da Guarda e também em Celorico. O motivo principal que a trouxe a Portugal foi o fenómeno de Fátima, que só aconteceu sete anos depois da sua partida, visitou os túmulos do seu marido e filhos e visitou todos os locais que lhe eram queridos e que por ventura ajudou. Tinha Vila Viçosa no coração, mas não chegou a ir lá, penso eu que foi por uma questão sentimental, pois foi aí que passou a última noite com o marido “EL-REI D. CARLOS”, de trinta e um de janeiro para um de fevereiro de mil novecentos e oito, que ficou marcado pelo regicídio.
Esta viagem aconteceu trinta e cinco anos depois de a Rainha Dona Amélia ter embarcado na Ericeira e quando já contava a bonita idade de oitenta anos. Amava Portugal, mas não quis ficar. Regressou à sua residência em Versalhes onde acabou os seus dias.
Partiu na manhã de vinte e cinco de outubro de mil novecentos e cinquenta e um, o seu corpo, por sua vontade que deixou expressa, veio para Portugal a bordo da fragata Bartolomeu Dias, tendo o cortejo fúnebre, também com Honras de Estado, acontecido em vinte e nove de novembro desse ano, ficando em eterno repouso junto do seu marido e filhos que era a quem mais queria.
Pode-se afirmar sem qualquer receio de engano, que Salazar perante a última rainha de Portugal teve um comportamento a todos os títulos dignificante, bem como o Povo português, mas permitam-me como remate, que cite apenas duas frases da RAINHA DONA AMÉLIA: - “Quero bem a todos os portugueses, mesmo aos que me fizeram mal” e “Deixem-me adormecer em França, mas quero ficar a dormir para sempre em Portugal”.