Há dias, ouvi alguém dizer, a propósito de mandar ou não mandar emigrar os portugueses, que a Estrada da Beira não é o mesmo que a beira da estrada.


Não podia eu estar mais de acordo. Nem o exemplo podia vir tão a propósito.
Efetivamente, a Estrada da Beira é uma vergonha e um calvário para os automobilistas que por ali têm que circular, agora “a toque de caixa”, impelidos pelas portagens da A25, uma das famosas SCUT´s, integrante de um modelo que proliferou pelo país, anunciado e defendido pelo engenheiro João Cravinho, ministro de António Guterres, como não tendo qualquer custo para os utilizadores. VIU-SE!
Ora, a beira da estrada já pode ter outro tipo de conotações. Tanto pode significar o itinerário para uma saudável e relaxante caminhada, como pode identificar um local desprezível, mais próprio de uma situação de fim de linha, de crime e de abandono.
Mas a Estrada da Beira e a beira da estrada, por irónico que se afigure, podem ser uma e quase a mesma coisa.
A Estrada da Beira representa bem o fim de linha para onde se tem estado a empurrar o interior de Portugal; a beira da estrada é a linha de fim da retórica com que todos os dias vamos sendo surpreendidos, como forma de desviar a atenção dos reais problemas e dificuldades das pessoas e do país.
Puxando o discurso para outra realidade que também importa, serei eu também a dizer que “o toque da caixa” não tem o mesmo significado que “a toque de caixa”, apesar de um e outro conceito acabarem por se fundir numa simbiose quase perfeita. Quase perfeita apenas, porque nunca há crimes perfeitos, como é uso dizer-se. E os crimes são sempre imperfeições e devem ser investigados, para não nos tornarmos cúmplices deles.
“O toque da caixa” podia remeter-nos para o som emitido pelo corpo oco de um tambor, que mais não seria do que uma caixa-de-ressonância. Porém, apesar de toda a ressonância que o tema tem tido, não estou a referir-me a este tipo de caixa.
A caixa que agora ressoa é um banco, não do género, com ou sem costas, onde relaxamos das nossas canseiras ao fim do dia, mas uma instituição intermediária entre agentes superavitários e agentes deficitários. E o ressoamento é um ressoar escandaloso para quem, como eu, olha para esta banqueta e se questiona sobre quem se terá banqueteado dos milhões de milhões, cerca de quatro no passado, e dos outros tantos que agora nos acenam como imperiosos, para suportarem o fim de festim de interesses opacos e inviáveis, em que muitos se têm copiosamente servido à custa da interferência política na instituição pública. Talvez seja por essa razão que algumas forças políticas ainda, hoje, defendem o controlo público da banca! Deste banco e dos outros. Assim, teríamos festa mais rija e os comensais seriam muitos mais!
É nesta Caixa e neste cenário que entra a expressão “a toque de caixa”, o mesmo é dizer que houve quem ali fosse colocado para fazer alguma coisa depressa e a mando de alguém, sem vontade própria e que deu origem ao atual ” toque da caixa”.
E o “toque da caixa” diz-nos que no topo da lista de maiores devedores da Caixa Geral de Depósitos (CGD), porque é a ela que me estou a referir, está o Grupo Artlant, que pretendia construir um megaprojeto em Sines, do qual José Sócrates lançou a primeira pedra, depois de o classificar como PIN (Projeto de Interesse Nacional), com um calote de 476 milhões de euros; vem logo de imediato a Efacec, de Isabel dos Santos, com um crédito de 303 milhões de euros; segue-se a Auto-Estradas do Litoral, com 271 milhões por 79Km, adjudicados em 2007, em que cada milímetro de alcatrão deve 3,50€ (!!!) à CGD; na quarta posição temos o famoso Resort de Vale de Lobo, que dispensa apresentações, com 283 milhões de euros, seguindo-se um projeto imobiliário espanhol da Reyal Urbis, o grupo Espírito Santo, o Grupo Lena e a Soares da Costa, de António Mosquito, todos com dívidas acima dos 200 milhões de euros.
Segundo o semanário “Expresso”, os piores erros de gestão na Caixa Geral de Depósitos foram cometidos no período entre 2005 e 2010. Mas houve muitos mais, não se ficam por aqui.
É imperativo apurar responsabilidades e levá-las até às últimas consequências, seja através de Comissão de Inquérito Parlamentar, seja através de investigação criminal ou seja por via de auditoria forense. A solteira não tem que ser a mesma de sempre. É tempo de casar a culpa, nem que seja a “toque de caixa”.
Afinal, qual é o banco que está sempre contigo? A Caixa, com certeza! Vai ficar a entrar-te nos bolsos todos os dias, nos próximos anos.
É mesmo de dizer: por favor, não toquem mais na Caixa!