Também a Pátria deve ser celebrada

O homem não pode nascer só, nem subsistir sem a ajuda de outrem. Da própria razão da existência, do crescimento, da formação deriva a necessidade  de uma vida em comum, a fim de, em união com outros seres humanos, se consolidar o seu viver, mutuamente se auxiliando com a assistência e apoio dos outros. Para o só o viver torna-se difícil quando não impossível, pois as carências pessoais não se ultrapassam nem os anseios próprios se realizam.

Por isso, a primeira necessidade do ser humano é a família. Quando estas se multiplicam, forçoso se torna formar sociedades, a entreajudarem-se com o recíproco apoio e amparo, auxílio e cooperação, esteio e sustentáculo. Nesta permuta, abranger-se-á: linguagem, costumes, tradições, partilha de bens quer materiais quer intelectivos ou artísticos, e tudo quanto seja auxílio nas calamidades; doenças, catástrofes, fomes e em todos os infortúnios que a maldade humana ou a natureza trouxer.

Quando estes aglomerados populacionais se tornarem numerosos e dispersos, conservando características comuns, serão necessárias leis que estabeleçam a ordem e o equilíbrio nas relações comunitárias. A formação de sociedades, como o vai atestando a história, surge sobretudo pela união e convivência própria, como se fora uma grande família. Desta feita, se engendram as nações, geralmente na mesma região as quais, por referência ao regime familiar, tomarão o nome de pátria.

Como nascemos numa progénie também viemos ao mundo num certo lugar cujas características se registavam já antes do nosso aparecimento na terra. Formámo-nos nesse ambiente, que, mercê de muitas circunstâncias onde não faltará o querer, o arbítrio e o ânimo de alguns homens ou classes, poderá ir mudando através dos tempos. Será a nossa pátria cujos modos de viver seguiremos, onde nos sentiremos à-vontade.

Naturalmente, como em casa e em família haverá chefes, também nos países existirão dirigentes selectos que irão comandar e reger o povo.

A maneira de se colocarem ou serem colocados em superintendência, irá variando, conforme os lugares e os tempos, pois a inteligência e a vontade humanas poderão dirigir a nação nem sempre da mesma forma.

Os anais antigos trazem-nos sinais e tradições, a explicarem como se formou o nosso país. Também se revelam nos seus testemunhos alguns desencontros ou mudanças realizados na paz ou na guerra, como também nas famílias encontramos exemplos.

Na realidade antiga do viver humano, aqui ou além bastante complexa, podem-se descortinar e reconhecer facto semelhantes aos actuais, segundo o subsistir de agora. Mas, para verdadeiramente se formar uma pátria hão-de participar os seus componentes de muitas características análogas, mesmo que diferenças mais ou menos consideráveis se possam também registar.

A fim de que as gentes coesas possam manter a harmonia e a paz, forçoso se torna conservar a equidade, o sentido comum do existir, a estima recíproca e a entreajuda mútua, procurando constituir uma unidade fundada num proceder honesto, repartido numa amizade que procure a concórdia e o bom entendimento que fomentem a ordem e o bem-estar.

Para tanto, será necessária estima alternativa eivada de paciência e generosidade, numa boa compreensão. E como, hoje em dia, no íntimo das almas, desponta um individualismo arreigado e um empenho demasiado interesseiro, precisamos todos de comprometer-nos numa tarefa que consiga continuamente a realização do bem comum.

A pátria necessita a compreensão e solicitude de cada um, numa postura de serviço à comunidade, a começar pelos chefes que são senhores para ministrar e não para se satisfazerem, como os pais servem os filhos, quando os ajudam a desenvolver-se, a prosperar, a progredir. Já o Sábio dos sábios ensinava  como regra de quem manda o servir os outros.

O ideal de uma sociedade justa. estável e harmoniosa pressente-se no comum actuar de todos Como tudo tem o seu preço, não deveremos empurrar tal obrigação para os outros, como a nós somente só coubesse colher os frutos dos trabalhos alheios.

Celebrar a pátria não poderá ficar por um dia de festa aproveitado talvez para levar a brasa à nossa fogueira, mas ser um dia de reflexão acerca dos nossos deveres para com a comunidade.

Poderíamos repetir hoje quanto o sábio Platão escreveu, já lá vão mais de dois mil anos, na sua Carta VII: “Compreendi que todos os Estados actuais estão mal governados, porque a sua legislação é quase incurável, a não ser que conte com medidas enérgicas e circunstâncias propícias”. E prosseguindo, nesse mesmo escrito: “Vi-me pois obrigado a louvar a verdadeira sabedoria e a proclamar que só à sua luz se pode conhecer onde está a justiça na vida pública e privada”. Terminará o seu pensar afirmando que os dirigentes dos Estados necessitam uma verdadeira e autêntica sabedoria.

Séculos depois, um escritor cristão dos primeiros tempos afirmava: “O bem comum interessa à vida de todos. exige prudência da parte de cada um, sobretudo da parte de quem exerce a autoridade”.

Ao celebrarmos o Dia de Portugal, cabe-nos conquistar a autêntica paz para a nação onde todos e cada um se sintam felizes e em paz.

“Celebrar a pátria não poderá ficar por um dia de festa aproveitado talvez para levar a brasa à nossa fogueira, mas ser um dia de reflexão acerca dos nossos deveres para com a comunidade”.