Histórias que a Vida Conta


Na minha última crónica elogiei a (com)postura do treinador Bruno Lage, o grande obreiro do trinfo do SLB na Liga de2018-2019, designadamente na hora da vitória. Esse texto, datado de 21 de Maio, foi escrito alguns dias antes da disputa da final da Taça de Portugal.
Como sportinguista confesso e sofredor, vivi essa final com natural ansiedade. Tratou-se de um jogo emocionante, não muito bem jogado, até em virtude das deficientes condições do relvado do Estádio do Jamor, mas foi uma final vibrante, imprópria para cardíacos. Não me custa reconhecer que o SCP terá sido, em jogo jogado, inferior ao FCP, que teve mais posse de bola e se aproximou mais vezes e com mais perigo da baliza adversária, sempre muito bem defendida pelo guardião Renan Ribeiro. Mas quantos e quantos são os jogos que, todas as semanas, acabam com a vitória da equipa que atacou menos, que jogou pior ou que teve mais sorte?
Comentadores portistas e jornalistas conhecidos pelo seu histórico anti sportinguismo salientaram a injusta derrota dos azuis e brancos. Especialistas em arbitragem com óculos avermelhados até encontraram matéria para a marcação de um ou, até, de dois penaltis a favor do FCP, que não foram assinalados pela equipa de arbitragem. Já no que se refere ao primeiro golo dos portistas, antecedido por um aconchego claro da bola pelo braço de Herrera, deram, claro está, o benefício da dúvida ao árbitro. Mas o que é que se pode esperar de um especialista que, anos atrás, enquanto árbitro de campo, confundiu a cabeça de um jogador com o seu braço?
Enfim, não falemos agora de coisas tristes que, infelizmente, vamos ter de continuar a suportar ao longo da próxima época…
Quanto ao meu SCP, que se viu forçado a abdicar dos dois laterais da sua formação principal – Ristovski e Borja, ambos castigados (justamente, diga-se de passagem) -, saliento a exibição superlativa de Jerome Mathieu, o central francês que forma, com Sebastian Coates, uma das melhores duplas que, nas suas posições, jogam no nosso campeonato. Marcámos dois golos limpos, um, com alguma felicidade, de Bruno Fernandes e o outro, já no prolongamento, à ponta de lança, de Bas Dost.
No último suspiro do jogo, o FCP empatou, forçando o desempate por grandes penalidades. Aí, apesar do primeiro remate falhado por parte do meu SCP (Bas Dost rematou à trave), conseguimos reverter o resultado e, à semelhança do que tem sido habitual, ganhámos a Taça ao sexto penalty.
Foi, na verdade, uma final com final de “suspense à Hitchcock”. Para nós, sportinguistas, tratou-se de uma justa “reparação”. Mais do que uma final vencida, mais do que uma Taça (de Portugal) para o Museu tratou-se da redenção de uma época. Depois do Inferno que vivemos há um ano, depois de o SCP ter sido dado como um clube à beira do fim, eis que a época realizada, sob a batuta de uma direcção “à Sporting”, que se rege por valores e princípios, bem exemplificados no comportamento do seu Presidente Dr. Frederico Varandas e do seu treinador, o holandês Marcel Keiser, eis que esta época fez renascer o Clube das cinzas e da terra queimada. Mas não nos iludamos. Vamos continuar a enfrentar a hostilidade de muitos poderosos neste mundo-cão do futebol em Portugal, desde dirigentes de clubes grandes a escribas de jornais pequenos.
Voltemos à final da Taça. Quando, após uma grande defesa de Renan ao pontapé de grande penalidade do jogador portista Fernando, o atacante do SCP Luiz Phelyppe consegue converter imaculadamente o seu penalty, deu-se a explosão nas hostes leoninas, a par do natural desgosto da falange vinda do Norte. Nada mais natural e compreensível. Foi o extravasar das emoções, depois de uma montanha russa de sentimentos, ao longo de quase duas horas e meia.
E depois foi a festa verde/branca. Os vencidos subiram à tribuna. Nesse momento, o treinador Sérgio Conceição haveria de protagonizar mais uma triste cena do seu “mau perder”, recusando-se apertar a mão que o presidente do SCP lhe estendia. E, como se isso não bastasse, quando lhe passou por detrás, sussurrou-lhe algumas palavras, felizmente não desvendadas.
Sujeitou-se assim Sérgio Conceição a ouvir de Frederico Varandas a resposta que mereceu: “É tudo uma questão de formação e educação”. Como escreveu o insuspeito Miguel Sousa Tavares, adepto entusiasta do FCP, “o treinador de FC Porto confunde o não gostar de perder (que é uma qualidade) com o não saber perder (que é uma falta de educação” – in A BOLA, de 29 de Maio, pág.38.
Mais um exemplo, tantas vezes repetido, de falta de maneiras ou, para ser mais claro, de maneiras grosseiras. Oxalá não faça escola neste meio abrutalhado do futebol(zinho) português, onde a justiça federativa ou não se aplica ou acaba por se aplicar muitos meses mais tarde, quando, tantas vezes, os protagonistas já partiram para o estrangeiro. Mas temo que o meu voto não se concretize, quando assisto, assombrado, ao total e repetido descontrolo emocional de outro dos treinadores de topo da nossa Liga: o bracarense Abel Ferreira.

Entretanto, realizaram-se, sem surpresas de maior, as eleições europeias. Em Portugal, descontando o resultado inesperado do PAN, tudo ocorreu em conformidade com as sondagens: a vitória clara do PS – não tanto pelo resultado alcançado (33%), mas mais pela diferença em relação ao PSD (mais de 11%) – a subida do BE, com a simpatia da sua candidata e com a melhor campanha eleitoral, a descida da oposição de direita a níveis quase humilhantes e a derrota da CDU, isto é, do PCP e do seu apêndice da eterna Heloísa Apolónia.
A nível europeu, os movimentos nacionalistas subiram como se previa mas não tanto quanto se temia. Valha-nos isso, a par dos bons resultados dos liberais e dos ambientalistas (ou seja, dos verdes), uns e outros pró-europeus. Mas não se iludam: a ameaça populista está “na engorda”!
Quanto ao Brexit, é outra história, bem intrincada mas para ser contada mais tarde e com outro detalhe.
Entretanto, não espero nada de bom para o PSD. Com uma direcção incapaz de admitir o óbvio – e era óbvio o erro da estratégia do Partido (bem como aliás do CDS) em face da crise gerada pela “pretensa recuperação” do tempo dos professores –, com um partido em frangalhos e sem uma voz credível que se faça ouvir, não me parece provável, em tais condições, esperar nada de positivo para as legislativas. O próprio Presidente Marcelo já veio anunciar a grave e longa crise da Direita no nosso País. Mas, mais uma vez, o líder do PSD não quer ouvir o óbvio, pretendendo alargar a crise a todo o sistema partidário…
Ora, não admitir o óbvio quando se perde é a forma clássica de “não saber perder” – no futebol como na política. Rui Rio não sabe perder. E Assunção Cristas parece que também não! Dois estilos afirmativos que, pelos vistos, não se conseguiram (a)firmar. Por favor, revejam a técnica e a táctica!
Lisboa, 4 de Junho de 2019