O Concelho do Sabugal, em 2015, tinha 512 idosos por cada 100 jovens, numa população total que já não chegava aos 12 000 habitantes,

registando, nesse mesmo ano, apenas 42 nascimentos. Em Almeida, também no distrito da Guarda, num território com 518 km2, residem 7483 pessoas com 552 idosos por cada 100 jovens.
Estes são apenas dois dos muitos exemplos da realidade demográfica do distrito da Guarda que aqui poderiam ser usados.
Perante uma população tão fragilizada pelo envelhecimento, como podemos continuar a conformar-nos com um SNS incapaz de colocar profissionais médicos no Interior e ter uma ULS da Guarda com muitas das suas valências à beira da rotura final?
Não se trata de ficção quando afirmo que muitos dos serviços e especialidades médicas estão à beira da falência por falta de médicos. É a pura realidade. Algumas só funcionam ainda pelo empenhamento e elevado sentido de responsabilidade dos profissionais que aí desempenham funções.
Há alguns anos atrás, defendeu-se, e bem, a maternidade do Hospital da Guarda, o que evitou que as parturientes estivessem hoje a ser encaminhadas para maternidades de outras localidades para darem à luz os seus filhos.
Porém, ganha essa batalha, outras se têm vindo a desenhar no horizonte. Estou a referir-me concretamente aos serviços de cardiologia e de ortopedia do Hospital da Guarda.
É deveras preocupante que, enquanto em hospitais vizinhos se vão criando novas valências, se deixem morrer as que funcionavam, e funcionavam bem, na nossa Unidade Local de Saúde.
Tanto a cardiologia como a ortopedia são dois serviços em quase fim de linha na Guarda, ou prestes a serem descontinuados, (como se diz agora em relação à tecnologia) e não é pelo facto de não terem profissionais competentes ou por falta de atualização destes mesmos profissionais. É só por escassez de recursos humanos.
A falta de médicos nestas duas especialidades, a par de outras, tem um impacto de tal ordem que as respetivas urgências já não conseguem ser mantidas operacionais 24 horas por dia, 7 dias por semana e, perante um cenário destes, se alguém tiver um problema grave de coração corre o risco de ser encaminhado para a cardiologia do Hospital da Guarda e morrer, por falta de médico especialista, ou, de outra forma, e com outra gravidade, quem parta um dedo e resida na área de influência da ULS da Guarda está sujeito a ser reencaminhado para o Hospital de Viseu porque aqui não há ortopedista de serviço.
Isto não é aceitável numa unidade de saúde que cobre cerca de 150 000 utentes, que são pessoas que fazem parte de um universo populacional muito envelhecido e fragilizado, a necessitar cuidados de saúde urgentes e permanentes.
O Estado tem que encontrar mecanismos no regime de colocação de profissionais de saúde para que esta realidade se inverta. É ao Estado Central que compete esta tarefa e não a uma qualquer outra entidade de administração local, do setor social ou privado. No Interior ainda vivem pessoas e elas são legítimas credoras dos deveres constitucionais, inscritos na nossa lei fundamental. E a prestação de cuidados de saúde é uma delas.
Terá sido pelo facto de os problemas na ULS serem tantos e tão graves que o Senhor Ministro da Saúde ainda não veio à Guarda?
Tudo é possível pensarmos quando percebemos que, também na saúde, o Interior está pouco saudável!