Com o Outono a meio, estamos a viver os sabores e os odores que esta época do ano nos oferece.

Em meu entender a castanha é rainha aqui pelas nossas bandas, bem como a jeropiga. Por seu lado os cogumelos silvestres também têm muita procura, bem como a gastronomia regional que arregimenta estes dois produtos e que vão desde o pão à sobremesa. Aqui pelas terras altas a jeropiga é onde se bebe mais, substituindo a água-pé das regiões mais amenas.São muito frequentes as feiras com a devida cobertura televisiva onde se dá o devido destaque à tradição também à inovação das ementas regionais bem como da doçaria.Por vezes observamos hábitos que pensávamos que já estavam esquecidos, nomeadamente receitas do passado, em que doces e compotas deliciam quem as prova onde se realça um manancial de recordações de recordações.Tudo isto vem a propósito de um doce que estava ao alcance de toda a gente, de fabrico caseiro e com durabilidade para ultrapassar o período invernoso. Estou a falar da marmelada que era feita nesta altura do ano e que nos dias solarengos, pelo Santos e pelo São Martinho, as tijelas desta guloseima perfilavam nos peitoris das janelas de várias casas como que a honrar a dona da cozinha.Pessoalmente, sou dos que posso dizer que cresci um pouco do que sou graças à marmelada, pois era dos melhores temperos que a minha mãe me colocava no farnel que eu levava para a Escola Primária, onde se comia sempre bem com o pão centeio, mesmo que tivesse uma semana. Esta situação não acontecia só comigo, sucedia com todos aqueles que tinham de palmilhar o caminho de quilómetros para alcançar o Ensino.É evidente que para haver um produto final de qualidade perfeita, tem de haver dois factores, boa matéria-prima e boa confecção. Se bem que eu aqui entendo que sem boa matéria-prima, não há boa confecção, embora com bom material nem sempre se confeccione na perfeição.Falemos então do marmelo, que é o que está na base de tudo de quanto vos disse. Estou a falar de um produto endógeno fruto do marmeleiro, que é uma árvore pequeno porte e que se desenvolve favoravelmente por aqui, junto de pequenas linhas de água ou em determinadas dobras de terreno, principalmente em divisões de propriedade. A sua cultura intensiva, se é que existe, por mim é totalmente desconhecida neste país. Todavia tenho que aceitar que há áreas em que o marmelo se colhe e comercializa para a indústria, pois a marmelada não falta nas superfícies comerciais.Por aqui o marmelo que já foi uma fonte de rendimento para os que vivem da terra, agora não tem procura, pelo que acabam por cair ao chão e adubar a mesma árvore para o ano seguinte. Pouco se olha para eleCausa-me certa admiração quando vejo em certos eventos a apresentação de pastelaria modernizada e não me ter ainda apercebido que alguém tenha visto no marmelo qualidade necessária para enriquecer o recheio de um pastel.Estou certo de que não salvaria toda a produção, mas era algo que de novo se criava e que teria a devida aceitação pois estas coisas de novidade são sempre apetecíveis e muito mais por quem conhece a sua origem.Sem ter dotes culinários, a mim não me parece difícil fazer um creme de marmelo e adocicá-lo com mel e com o mesmo rechear certos bolos enrolados ou mesmo de fabrico redondo e serem servidos à fatia.A conjugação de dois sabores diferentes permitiam ajustar o sabor a qualquer paladar.  E porque não rechear uma bola de Berlim com esta iguaria? Não sei se alguém já fez essa experiência, mas se por acaso aconteceu, gostaria de saber o resultado.É evidente que são dois produtos bem nossos e que poderíamos afinar para qualquer exposição.Deixo-vos por hoje. Haja saúde para todos nós.