Eu compreendo que, face à vastidão dos problemas ambientais com que, nas mais diversas áreas, os meios de informação nos inundam, subjugam e quase esmagam, um qualquer de nós se sinta diminuído e um tanto dispensável. Afinal, poderemos perguntar-nos, que culpa é que eu tenho disto? E, por outro lado, o que eu fizer terá algum efeito?

Mas a questão não é esta, oh meus amigos. A pergunta certa é a que nos anos sessenta do século, e milénio, passado um Presidente norte-americano, John Kennedy, colocou aos seus contemporâneos. O que cada um deveria interrogar-se, explicou, não era o que a América poderia fazer por cada um deles – mas sim o que cada um deles poderia fazer pela América. Sábia lição!

O que eu hoje vos queria trazer era, apenas, o humilde testemunho de como os pequenos gestos que cada um de nós pode fazer não são inúteis. Apesar de aparentemente diminutos, mesquinhos ou sem valor, eles não deixam de ter a sua importância. No fundo contam e de muitos poucos, com persistência e engenho, se pode fazer muito.

Como decerto para tantos de vós há lá em casa tarefas que me estão atribuídas com regularidade. Uma delas é a de fazer algumas compras. Todos os dias, antes de sair de casa, vou à padaria. Todas as semanas, nas manhãs de sábado, vou ao supermercado. E, ao fazê-lo, comecei a sentir-me submergido por uma quantidade de sacos de plástico que nunca mais acabavam… Da padaria todos os dias trazia um, do supermercado calculo que a média seriam os sete ou oito. Chegava a casa, arrumava as coisas, e interrogava-me: o que é que eu faço a isto, aos sacos?

E então comecei a guardá-los. No dia seguinte, nada me custava, dobrava o que a padeira me dera no dia anterior – e surpreendia-a, estendendo-lho juntamente com o pedido:

– São duas integrais, D. Clotilde, se faz favor. E acrescentava, para explicar o saco – isto é preciso poupar no material.

Para o supermercado arranjava um maior, onde metia os outros – e igualmente dispensava os que a empregada da caixa me queria dar. Tinha algum cuidado, obviamente; não iria lá, por exemplo, com produtos da concorrência. Mas não deixava de ser curioso andar, às vezes em pleno Agosto, ainda com sacos do Natal precedente… Eu bem via, aliás, que as raparigas se admiravam com o meu comportamento. E na padaria rapidamente passei a ser conhecido como o senhor do saco.

Fosse como fosse, oh meus amigos, o facto é que dentro de algum tempo o supermercado começou a incentivar os seus clientes a reutilizarem os respectivos sacos. Isto é, começou a vendê-los, em vez de simplesmente os dar. Medida acertada, parece-me, para todos os intervenientes.

A quantidade desse derivado do petróleo que assim não vai poluir o nosso meio ambiente é capaz de ser considerável e pode mesmo ser calculada; o custo adicional do cliente ao pagá-los é desprezível, tão baratos eles são; o supermercado compromete-se a reflectir essa receita adicional na baixa do preço dos produtos, e assim como que a devolve aos clientes que primeiro a suportaram. Assim todos lucram – e não creio que alguém perca seja o que for.

E eu, às vezes, desculpem-me a pequena vaidade, aos meus botões interrogo sobre se não terá sido a minha maluquice a dar-lhes a ideia. A baixa dos preços que assim anunciam é difícil de ser verificada na prática, tantos são os factores que para ela simultaneamente concorrem. Mas a quantidade de matéria dificilmente biodegradável que, em cada ano, por esse gesto aparentemente gratuito e inútil, se pode poupar, essa é considerável, oh meus amigos.

Garanto-vos que cada um de vós ficará impressionado com esse cálculo – se, como eu, o fizer. Não é preciso ser um barra em matemática. Basta imaginar que cada saco é utilizado três vezes, por exemplo; que em cada semana se utilizam seis; que cada um deles pesa um grama; que em Portugal há, por hipótese, cinco milhões de consumidores regulares.

É com esse repto que vos deixo - e ainda com o desafio adicional de «inventarem» outros comportamentos em que o mesmo princípio de racionalidade e preocupação ambiental, de limpeza e saúde, possa ser seguido. O mundo, oh meus amigos, depende de cada um de nós – e dos muitos poucos que cada um de nós todos os dias por ele puder fazer. Os pequenos gestos contam mesmo, estejam certos disso; curtos passos, juntos, fazem uma longa caminhada.