Os “Retornados” de Angola

Os Retornados que Chegavam (II)Alguns países estrangeiros também decidiram dar o seu contributo na questão dos ‘’retornados”. O governo sueco, por exemplo, propôs ‘’doar 3 milhões de coroas”, com vista à ‘’compra de cobertores”, à aquisição de medicamentos e ‘’outras coisas necessárias aos refugiados”. Já a Venezuela, mostrou-se disponível para receber alguns regressados de Angola, numa operação composta por três fases: numa primeira, viajariam ‘’trabalhadores não especializados”, na segunda, ‘’operários especializados de construção civil”, e por último, ‘’trabalhadores agrícolas”.Tal como em Angola, também em Portugal os ‘’retornados” utilizaram as manifestações para demonstrar desagrado perante todo o processo. O sentimento de injustiça social, aliado às dificuldades de integração e desapoio por parte do governo levaram a que, por várias vezes, saíssem à rua em protesto, uns com ânimos mais exaltados do que outros. Numa das manifestações, ‘’reunida no Marquês de Pombal”, defendia-se que as pessoas precisavam de trabalho, habitação e ‘’vida organizada”. Noutra, manifestaram-se contra o MPLA e Agostinho Neto. Num movimento com cerca de duzentos ‘’retornados”, partiram do Rossio até à ‘’Casa de Angola com o intuito de assaltar”. Após furtarem muito material, incendiaram no exterior ‘’todo o recheio trazido da Casa de Angola, principalmente uma bandeira do MPLA”. Contudo, a manifestação com maior aparato aconteceu quando 200 ‘’retornados” ocuparam o Banco de Angola, conseguindo entrar em contacto com o Ministro das Finanças. Como pedido, exigiam a troca imediata ‘’da moeda de Angola e de outras províncias ultramarinas pela moeda portuguesa emitida pelo governo português”. No dia seguinte, as forças militares acabariam por entrar no banco, sendo que, segundo um ‘’retornado”, a força policial ‘’entrou no edifício com a máxima correção”. Uma entrevista concedida ao Diário de Notícias demonstrava o desespero que tinha levado um ‘’homem calvo e de olhos cavados” a cometer aquele ato: ‘’Andei 24 anos a trabalhar para não ter agora que comer. Valeu a pena cavar terra em Angola?”.Por último, os Plenários foram também uma forma de juntar ‘’retornados” para debater ideias. No Plenário dos desalojados de Angola e Moçambique, no Pavilhão dos Desportos, estiveram presentes duas mil pessoas, e impediram a comunicação social de entrar, tendo havido ânimos exaltados. O objetivo era ‘’discutir e procurar soluções para os deslocados” de ambos os países. Para além disso, exigiam o regresso dos que ‘’ainda se encontravam em Angola”. Posteriormente ocorreu o Plenário de desalojados de Angola, desta vez na Feira das Indústrias, que serviu para apresentar um caderno de reivindicações e colher assinaturas para apresentar ao governo. Num comunicado, afirmaram: ‘’sentimos a discriminação com que temos sido tratados. Nós não tivemos o apoio, nem dos partidos nem da Informação”. Ainda assim, foi depositada confiança no governo para resolver os problemas dos retornados (‘’confiamos que o Governo encontrará a fórmula certa”).Deste modo, os ‘’retornados” tiveram capacidade para se unir na luta contra os problemas que consideravam afetar todos aqueles que chegavam de Angola. Um dos exemplos dessa união aconteceu num Comício, realizado no dia 29 de dezembro, no Pavilhão dos Desportos de Lisboa, a que milhares de pessoas acorreram e onde houve várias intervenções aplaudidas. Segundo o Jornal O Retornado, este acontecimento foi uma ‘’sessão de fraternidade ultramarina”, e uma demonstração de coesão por parte dos ‘’retornados”.