No século XVI, aquando da expulsão dos mouros da Península Ibérica e da reconquista das terras espanholas e portuguesas pelos reis católicos e por D. Manuel I,  rei de Portugal (1495) foi instaurada uma lei que obrigava os judeus a converterem-se ao catolicismo ou, em alternativa, a abandonarem o país de forma compulsiva.


Por esse facto, muitos judeus acabaram por converter-se ao cristianismo (os criptojudeus) tornando-se “cristãos-novos ou conversos”.
Com a perseguição de que foram alvo,  muitos acabaram por abandonar Portugal  com medo das represálias. Anos mais tarde sob o espectro da Inquisição, nunca mais os cristãos-novos tiveram tranquilidade e continuaram a diáspora para os Países Baixos, Constantinopla, África, Salónica, Itália e Brasil, mantendo laços secretos e apoiando os cristãos-novos portugueses que por cá permaneceram.
Dos que ficaram, alguns mantiveram o culto e as tradições judaicas em família, de um modo muito recatado,  e outros optaram por uma situação extrema, decidindo isolar-se do mundo exterior, cortando o contacto com o resto do país e seguindo as suas tradições clandestinamente.
Eram conhecidos  pelo nome de  marranos, nome associado à proibição de comer carne de porco. Durante séculos os marranos de Belmonte e arredores, mantiveram as suas tradições em segredo, tornando-se um “case study” de resistência e perseverança. Só recentemente esta comunidade restabeleceu contacto com Israel e oficializou o judaísmo como a sua religião. Todo esse património pode ser visto em Belmonte, quer na Sinagoga, quer no Museu Judaico, que é o primeiro do género em Portugal.
Anos mais tarde, o próprio Marquês de Pombal moveu uma grande perseguição aos judeus, mas mudou de atitude, quando esteve colocado como embaixador na Aústria e conheceu Diogo de Aguilar, um judeu português que tinha fugido da Inquisição e que o ajudou quando ele próprio teve problemas financeiros.
Se formos suficientemente curiosos sobre este legado, que nos é tão caro, bastará percorrermos as aldeias, vilas e cidades beirãs, onde ainda podemos observar a presença judaica em muitas casas - evidenciada sobretudo, nas portas, nos sinais e marcações das respetivas fachadas, havendo ruas inteiras que mantêm o mesmo casario de outrora.
Volvidos séculos de repressão e sucessivas diásporas, os judeus conseguiram sobreviver, deixando um legado patrimonial considerável e um legado de saberes e tradições de grande relevância sociológica para o aprofundamento de estudos sobre a sua presença em terras beirãs e naturalmente, em toda a Península Ibérica.
Ainda hoje se podem observar em muitas das populações locais alguns traços fisionómicos característicos dos judeus.
Também é oportuno salientar o crescente incremento no turismo cultural, baseado na criação de rotas e visitas a locais onde a sua presença se mantêm visível, constituindo uma fonte de receita significativa para a região. Há agências que organizam roteiros específicos, destinados a estudiosos e curiosos que pretendem descobrir  as localidades onde viveram esses judeus - ou quiçà -  onde viveram os seus próprios antepassados!
Também ao nível do artesanato e da gastronomia inspirada nas tradições e nos conhecimentos ancestrais dos judeus, constata-se a confeção de uma série de produtos de elevada qualidade, que têm sido desenvolvidos na Beira Alta com enorme sucesso. Menção especial para o vinho “kosher” produzido desde 2003 e para as alheiras com carne de frango, em vez da carne de porco.
Curiosamente e segundo um estudo realizado pelo cientista Mark A. Jobling http://www.le.ac.uk/ge/maj4/, da Universidade de Leicester no Reino Unido, publicado no “American Journal of Human Genetics”, haverá fortes probabilidades de um número considerável de portugueses ter sangue “lefraim”.
Esses estudos demostraram que em média, os portugueses e os espanhóis  têm 19,8% de genes de  judeus sefarditas e 10,6% de ancestrais norte-africanos (dos mouros, como eram designados).
 Mark A. Jobling, ao pesquisar as mutações de genes no cromosssoma Y nos homens, e comparando os dos habitantes de ambos os lados do estreito de Gibraltar e os dos judeus do Médio Oriente, concluiu que muitos portugueses têm ancestrais judeus e mouros.
Sociologicamente trata-se de uma matéria que pode conduzir-nos a estudos demográficos e sociológicos extremamente oportunos, quer através do aprofundamento da genealogia portuguesa, quer através do recurso a testemunhos verbais e escritos, existentes nos múltiplos arquivos e bibliotecas quer nacionais quer estrangeiras.
P.S. Artigo baseado na leitura da revista “American Journal of Human Genetics”. “,  no artigo  de  Mark A. Jobling, da Universidade de Leicester, Reino Unido. O cromossoma Y foi estudado, porque de todas as partes que constituem o  genoma, é o que mostra a maior diferenciação geográfica entre populações,  permitindo ver os efeitos das migrações na Península Ibérica e, consequentemente, as origens do sangue que ainda corre nas veias de muitos  portugueses modernos!
Consultar: http://www.le.ac.uk/ge/maj4/project.html