Nunca estivemos à-vontade com o termo EMIGRANTE.

Nem os portugueses a viver em Portugal, que os colocavam numa classe à parte — eram os broncos, os fáceis de enganar, os que vinham de um outro lado, — nem os portugueses a viver no estrangeiro que tiveram sempre Portugal no coração e que pensavam que as saudades e o amor do país eram motivo para serem recebidos de braços abertos. Foram designados os brasileiros, os americanos, os franceses, enfim, os emigrantes!
Os portugueses a viver em Portugal olhavam-nos de longe, com curiosidade, talvez com inveja, às vezes com desdém. Eram os outros, não eram portugueses. Eram emigrantes, os outros portugueses.
Ainda não há muito tempo, um conhecedor da emigração portuguesa, José Rebelo Coelho, escreveu um livro a focar precisamente esta dualidade e que intitulou: A Pátria e os Outros Portugueses. É porque na pátria vivem os verdadeiros portugueses. Fora da pátria, vivem os outros.
Os outros vivem fora da fronteira de Portugal, portanto, não são da mesma natureza, são diferentes. Também não são estrangeiros. Bem...Não é isso que se quer dizer, sejamos comedidos, tenhamos educação! É certo que eles não são estrangeiros..., não quer dizer que não sejam verdadeiros, mas... são emigrantes!!!
Com a entrada de Portugal na União Europeia, esta designação atenuou-se para a eufemisar com a designação de cidadãos europeus. Mas os portugueses, a viver em Portugal, não são também cidadãos europeus?
Já ouvi outras palavras para designar a situação de emigrante: residentes no estrangeiro, cidadãos comunitários, expatriados, portugueses da diáspora...
Após a última crise que abalou o mundo inteiro e sobretudo os países periféricos, como Portugal, os filhos da classe média e até os da classe rica portuguesa, não encontrando empregos em Portugal, foram obrigados a procurá-los no estrangeiro. E foi uma autêntica debandada de jovens diplomados e de portugueses com qualificações a irem procurar trabalho nos países da Europa e em toda a parte do mundo. Também estes emigraram. Nas estatísticas nacionais são considerados emigrantes, mas fenómeno curioso, esta última leva de pessoas que abandonou o país não se considera emigrante. Ou melhor, quando se pergunta às famílias que têm os filhos a trabalhar fora de Portugal: “então o seu filho também é emigrante?”. “Aí que horror! O meu filho é enfermeiro na Inglaterra, é médico na Irlanda, é engenheiro na Bélgica, é informático na Alemanha!” O que pressupõe que não é emigrante. “Tirem essa palavra da boca para o meu filho!”
Não há dúvida nenhuma que a palavra emigrante está carregada de uma grande simbologia. Quando se era pobre e se emigrava, era-se emigrante. Agora as famílias da classe média e da classe rica não deixam que os seus filhos sejam tratados por emigrante. Este recente fenómeno leva-me a designar o termo emigrante como uma quase classe social, uma classe pobre que teve de abandonar o país. Os filhos das famílias da classe média-rica não emigravam.
É possível que o termo emigrante vá desaparecendo, mas vai levar tempo, e, entretanto, ainda não se encontrou outro.