Foi notícia, recentemente, que o eixo ferroviário Aveiro/Vilar Formoso irá receber 376 milhões de euros

de apoios da União Europeia, para um total de investimento de 547,7 milhões de euros, o que corresponde a uma taxa de financiamento de 68,62%. Nada me poderia deixar mais satisfeito. Será desta que a Guarda vai, finalmente, tirar partido da sua localização geoestratégica?
É uma forte possibilidade, conquanto que, atempadamente, se saibam mexer os cordelinhos das influências políticas e, dessa forma, se impeça que a Guarda fique, mais uma vez, a ver passar o comboio. Sim, porque ver passar o comboio é seguramente diferente de ter o comboio a passar e, na notícia saída num jornal nacional, é referido que “A nova linha ferroviária entre Aveiro e Vilar Formoso é o projeto nacional de maior dimensão da lista de 195 projetos de investimento em transportes aprovados por Bruxelas e divulgado na passada sexta-feira.”
Depois de interiorizar melhor a informação contida na notícia lida, a minha satisfação arrefeceu e foi assolada por um misto de apreensão.
Afinal de que estamos a falar?
De uma nova linha, no traçado e na bitola, ou de uma modernização que transforme a Linha da Beira Alta numa linha nova, moderna e compatível com as exigências mais recentes do grande projeto transeuropeu de ferrovia?
São dúvidas legítimas, as minhas, e as respetivas respostas são de natureza urgente para a Guarda e para a região. Ou não fosse a nossa cidade o polo populacional e económico mais importante do distrito que adota o mesmo nome da urbe.
A manter-se o atual traçado da Linha da Beira Alta, na intervenção que irá ser feita, penso que teremos todas, ou quase todas, as dúvidas respondidas, já que a cidade mais alta do país terá as condições necessárias para exigir que aqui se situe um terminal intermodal de passageiros e mercadorias, que se articule com o sector do transporte rodoviário, dadas as condições já existentes atualmente e que apenas necessitam de atualização e redimensionamento.
Caso se trate de uma nova linha, com traçado alternativo à existente, as preocupações já serão outras.
Qual vai ser o traçado?
O novo traçado contempla a cidade da Guarda, permitindo a potenciação das infraestruturas já existentes? Porque razão se fala sempre no eixo Aveiro/Vilar Formoso e não no eixo Aveiro/Guarda/Vilar Formoso? Será isso significativo de alguma coisa?
A propósito deste assunto, o da ferrovia, cito a Resolução do Conselho de Ministros n.º 3/2016, de 22 de janeiro, que afirma que “O Programa do XXI Governo Constitucional assume entre os seus objetivos prioritários a afirmação do «interior» como um aspeto central do desenvolvimento económico e da coesão territorial, promovendo uma nova abordagem de aproveitamento e valorização dos recursos e das condições próprias do território e das regiões fronteiriças, enquanto fatores de desenvolvimento e competitividade”.
Por via da própria natureza, a supracitada “Resolução” tem a força que tem. Pode ter muita, pode ter pouca ou não ter nenhuma, ou seja, pode assumir-se como um importante instrumento de gestão e valorização do território, se efetivamente o desenvolvimento do interior for um assunto do efetivo interesse do governo, ou tratar-se apenas de um mero expediente para distrair os mais e os menos atentos, sem nada acrescentar àquilo que esse mesmo interior é hoje. Este ato administrativo do Executivo tem a bonomia das boas intenções, o que só por si não basta.
O financiamento ao investimento agora anunciado como aprovado será uma espécie de “teste do algodão” quanto às intenções do governo no que se refere à “...valorização dos recursos e das condições próprias do território e das regiões fronteiriças, enquanto fatores de desenvolvimento e competitividade.”, e no que à Guarda diz respeito de forma particular.
Vale sempre a pena lembrar que a Guarda está localizada na confluência de duas das mais importantes rodovias do nosso país, A 23 e A 25, da mesma forma que para aqui convergem a Linha da Beira Alta e a Linha da Beira Baixa, pelo que o eixo ferroviário Aveiro/Guarda/Vilar Formoso será sempre um projeto-chave para o desenvolvimento não apenas do nosso concelho, mas de todo o território adjacente que corresponde à Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela.
As potencialidades da Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial determinam que a Guarda não poderá ficar fora desta oportunidade e assim valorizar a sua posição e as condições criadas para operadores de logística e instalação de atividades produtivas industriais. Mas a potenciação desta localização, única no país, carece do apoio e da solidariedade da administração central. O algodão não engana. Aguardemos pelo teste.