Todos os meses têm o seu encanto.
Este novembro que começa enche-nos de saudades. São os crisântemos que colocamos sobre a campa dos nossos pais ou dos nossos entes queridos, é a romagem individual ou coletiva até ao cemitério para os lembrar nas nossas orações, é o encontro com os familiares para recordarmos momentos inesquecíveis da nossa infância.
O cemitério, que neste momento visitamos, não deixa de ser um lugar mágico. Disso me apercebi quando visitei o da minha aldeia com o meu netinho, de oito anos de idade. Era certamente a primeira vez que se encontrava num cemitério. Depois de rezarmos ao lado da tumba dos meus pais, que ainda conheceu, mas de muito pequenino, pediu para lhe mostrar aqueles que ele pensava que eram meus amigos. Passámos em dezenas campas, cada uma com a sua fotografia, cada pessoa com a sua história de vida que eu lhe ia contando. Ali passámos uma tarde inesquecível, a recordar os nossos fiéis defuntos que tantas saudades nos deixam.
Os que se ausentaram definitivamente deixam-nos sempre saudades que, por vezes recordamos à nossa maneira: com lágrimas, flores, velas, romagens, orações, palavras de carinho. Também por mim perpassou um momento de ternura para com os meus antepassados a quem dediquei um momento poético para os recordar nesta singela crónica do mês de novembro. Aqui se inserem dois sonetos que nos remetem a este mundo da saudade.
Carta do meu pai
Recebi carta. Meu pai me lembrou:
Sino está a tocar às trindades!
Coisas bem do passado e que saudades!
Choveu, nevou, o rio transbordou!
Mingo morreu, o rebanho passou.
Aldeia calorosa, não cidades,
Por haver mais afinidades!
Assim a natureza a dotou!
As cartas do meu pai são alegria!
Leio, releio (mas que prazer!), todas!
Como, seu amor, estivesse a ver!
Admirarei sempre sua mestria
Escrita dele não segue as modas!
Por mais que viva, não vou esquecer!
Para a minha avó
Na memória, os doces da minha avó!
O forno do Rossio que os cozia!
O cheiro que água na boca crescia!
Grande mulher, maior gratidão, só!
Locais da minha vida de criança!
Bilha na mão, com ela ao chafariz!
Avó, rosto de verdadeira atriz!
Neto com avó, assim não se cansa!
Mantilha preta para ir à missa!
Verão, inverno, mesma cor vestida!
Lenço preto cabelos escondia!
Lembrar-te assim é a maior justiça!
Tua bela imagem guardo toda a vida!
Lembrarei o teu nome sempre: Maria!