A culpa é sempre do outro...


Foi desta forma que terminei a crónica em que analisei os resultados do PISA 2015. Passados cerca de três anos, em 2018, houve efetivamente mais PISA, mas piores resultados.
O PISA é assim, tanto dá para mais, como pode dar para menos! E foi o que aconteceu em 2018.
Diz o documento que “Os alunos portugueses pioraram na leitura e nas ciências e não evoluíram na matemática, segundo os dados do PISA 2018 - o exame que avalia o conhecimento dos alunos de 15 anos nas áreas da matemática, ciências e leitura.
Os valores dos alunos portugueses baixaram desde 2015.
Um em cada cinco alunos não consegue identificar a ideia principal de um texto.
Na área da leitura, as raparigas são melhores que os rapazes, mas nas ciências e na matemática são elas que têm mais dificuldade.
O PISA (Programme for International Students Assessment) é um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), elaborado de três em três anos. Neste teste participaram 600 mil alunos (dos quais 5.900 são portugueses) de 79 países.”
Ora, os resultados do PISA em 2015 diziam-nos que os alunos portugueses tinham ficado, pela primeira vez, acima da média dos resultados da OCDE, acrescentando ainda o estudo que Portugal era dos poucos países membros da OCDE onde se tinha observado uma tendência de melhoria contínua nos resultados.
Acrescenta o estudo agora publicado que “As dificuldades económicas continuam a ter efeitos negativos nos resultados escolares dos alunos portugueses, mas também nas suas expectativas, com 25% dos estudantes desfavorecidos e bons desempenhos sem perspetivas de concluir um curso superior, revela a OCDE.
A origem socioeconómica dos alunos é um “forte indicador” dos resultados dos alunos portugueses na leitura, matemática e ciências, defende a OCDE no relatório PISA de 2018.”
Perante os resultados do PISA 2018, que agora foram divulgados, o máximo responsável pela Educação no nosso país não perdeu tempo em atirar as culpas para o anterior titular da pasta, Nuno Crato. Tentou associar os piores resultados agora obtidos aos anos da TROIKA, não se recordando que foi o executivo socialista de José Sócrates, do qual faziam parte alguns ministros seus colegas, o responsável pelas dificuldades económicas e financeiras que todos vivemos e ainda estamos a viver. Não se recorda que foram José Sócrates e Teixeira dos Santos que chamaram os credores internacionais e os trouxeram para Portugal para nos imporem a austeridade a que estivemos sujeitos.
O atual ministro da Educação revela pouca memória e gosta de dar tiros nos próprios pés.
Evidentemente que todos percebemos a razão porque prefere ocultar a verdade. É que com isso pensa que disfarça a responsabilidade, a dos outros e a dele próprio em todo este processo. Com o artifício de que a culpa é do outro, tenta também ocultar as reais dificuldades que a maioria dos portugueses continua a passar, nomeadamente aqueles que trabalham, para sustentar um Estado totalmente ineficiente na gestão dos recursos do país e incapaz de combater a corrupção que se alimenta dos impostos que todos pagamos.
Perante este alijar de responsabilidades, veio-me à memória uma famosa expressão de Galileu Galilei que assenta na perfeição na forma de atuar do ministro Tiago Brandão Rodrigues “Não consigo acreditar que o mesmo Deus que nos deu a inteligência, razão e bom senso nos proíba de usá-los.”
Antes de aceitarmos uma responsabilidade, devemos humildemente ponderar se estamos preparados para a assumir e para corresponder aquilo que se espera de nós, o que não me parece que deve ter ocorrido com o senhor ministro da Educação, que apenas se deve ter envaidecido com a possibilidade de ser ministro e que por aí se ficou.
A este propósito, Esopo, a quem é atribuída a autoria de muitas fábulas que perduraram ao longo dos séculos, considerava que “É mais fácil entrar em um problema do que sair dele; o bom senso recomenda procurar a saída antes de entrar.” Ora, parece que o atual titular da pasta da Educação aceitou resolver um problema não tendo solução para ele e quando assim acontece, ao problema inicial, apenas se somam outros problemas.
É o que tem vindo a acontecer e os resultados do PISA aí estão a prová-lo.
Se nos recordarmos, uma das primeiras medidas tomadas pela esquerda no anterior parlamento foi de dar por finda a cultura de exigência que estava instalada no ensino em Portugal, acabando com os exames do quarto ano do ensino básico.
Este foi o primeiro passo para a implementação da cultura de facilitismo no sistema de ensino português, com graves prejuízos para os nossos jovens e para a sociedade. Os danos podem ser irreversíveis, o laisser faire, laisser passer está em roda livre e a pressão do Ministério da Educação, através das direções das escolas, para que não haja reprovações, tornou-se uma forma de atuar que apenas pretende mascarar a realidade e compor a estatística.
Não contente com os danos já causados, o governo pretende agora transformar a ESCOLA numa espécie de bypass por onde os alunos apenas têm que circular, sem nada terem que provar, se se vier a concretizar a intenção de acabar com os chumbos no ensino básico. Será uma espécie de canal aberto entre o berço e a universidade.
Se isso se vier a concretizar, em vez de formarmos cidadãos, estaremos apenas a diplomar o analfabetismo, com todos os perigos que daí podem decorrer. Não há nada pior do que um analfabeto com diploma.
Depois, a culpa será sempre do outro...