O excerto apresentado no enunciado, relativo à carta de Dom João III ao seu embaixador de Roma,

Pedro Mascarenhas, data de 4 de Agosto de 1539. Nessa carta, para além de convidar os primeiros jesuítas a irem para Portugal e restantes territórios portugueses, fica demonstrada a enorme vontade do rei em conseguir para perto de si pessoas com créditos e qualidades demonstradas e reconhecidas. Como tal, pretendia que viessem para o país seis jesuítas aconselhados por Diogo Gouveia.No entanto, importa recuar um pouco cronologicamente para contextualizar a figura do ‘’mestre Diogo Gouveia”. Em 1527, ano em que também se reformou o Mosteiro de Santa Cruz, Dom João III decidiu promover bolsas de estudo para alunos portugueses para os alunos do Colégio de Santa Bárbara, em Paris. Apesar de inicialmente ter tentado apoio dos clérigos portugueses, a verdade é que foi devido à ‘’generosidade do rei poderem formar-se em Paris muitos dos futuros mestres da nossa Universidade” (Universidade de Coimbra, Esboço da Sua História, p.164). A ligação do rei a este colégio e a Diogo Gouveia, na altura o diretor, levaram a que acontecessem, nos anos seguintes, vários acontecimentos com consequências importantes para a história da universidade em Portugal e no Mundo.Deste modo, em 1538, Diogo Gouveia informou através de uma carta Dom João III de que estavam a formar-se naquele Colégio um grupo de pessoas de elevada qualidade, capazes de ‘’converter toda a Índia”. Daí, surgiam nomes como Inácio de Loyola, Francisco Xavier e Simão Rodrigues, personalidades que viriam a fundar os jesuítas e que frequentavam o Colégio de Santa Bárbara. Este grupo havia-se reunido em Veneza com o objetivo de peregrinar até à Terra Santa, mas a guerra com os turcos impediu que o plano fosse realizado. Gorada essa hipótese, colocaram-se à disposição do Papa para cumprirem tarefas nas quais pudessem ser úteis. Sabendo disto, o rei português decidiu contactar o grupo e o Papa para os associar às missões na Índia. Deste modo, enviou a referida carta do enunciado para o embaixador de Roma. Como resultado, Santo Inácio de Loyola enviou dois jesuítas: Simão Rodrigues e Francisco Xavier. Estes chegariam a Portugal em 1540 e causariam desde logo impacto na Corte e na Nobreza. Conseguiram recrutar rapidamente jovens para a sua causa e começou-se a discutir se não seria mais benéfica a sua presença no país. Resultado do debate, acabaria por partir para a Índia apenas Francisco Xavier, após consideração do Papa. Com Simão Rodrigues, em solo português, seria nomeado pelo rei em 1545 como perceptor do filho, príncipe Dom João, o que lhe permitiu ganhar ainda mais relevo na Corte.Após contactar com a realidade portuguesa, Francisco Xavier escreveu uma carta a Santo Inácio de Loyola defendendo a criação de um possível colégio em Coimbra. Como consequência, em 1542 partiram de Lisboa para a cidade conimbricense Simão Rodrigues e doze companheiros de diferentes nacionalidades, a saber: italianos, franceses, espanhóis e portugueses. Estes, por serem doze, e segundo a tradição católica, ficaram conhecidos como ‘’apóstolos”. Ficariam hospedados em Santa Cruz, com uma carta de recomendação do rei para que fossem bem tratados.Coimbra revelou-se um território bastante fértil de recrutamento. Chegavam jovens não só da cidade, como muitos da Alta Nobreza e outros enviados por Santo Inácio para posteriormente irem missionar no Brasil ou na Índia. Deste modo, em 1552, o número de jesuítas em Portugal era de 318, sendo que em 1579 já seriam cerca de 560. O sucesso dos jesuítas no país era grande quando comparado com outros europeus, como a Espanha ou a Alemanha.