Colhidas que estão as uvas, em dia de São Simão e São Judas quem vive a agricultura sabe que tem de se partir para outras colheitas.

Como já nada é como outrora, a produção do vinho passou a ser mais industrial, daí que a maioria dos produtores de uva a canalizem para áreas que apenas vivem do fabrico e da venda. Outros em muito menor parte vivem a cultura da vinha e do vinho do plantio do bacelo à garrafa, partindo daí para as cadeias de distribuição. Sendo que toda esta operação é sempre acompanhada por técnicos nomeadamente a partir do mosto, onde sobressai o saber dos enólogos.Aqui por as minhas bandas já pouco se pode beber um tinto caseiro, já não se encontra. Também começou a ser apreciado outro tipo de vinho mais graduado, ao ponto de se cair no ridículo, em se valorizar o vinho mais pelo rótulo da garrafa, do que pelo sabor. Eu próprio já comprei garrafas de certa valia na origem sem rótulo, propositadamente para oferecer a quem se dizia perito na arte e nem sequer a região da sua proveniência me era apontada.Uma bebida caseira que quase toda gente gosta e que por aqui se faz e ainda aparece à venda é jeropiga, um tipo de vinho fortificado feita com sumo de uvas de melhor gosto e que a aguardente lhe dá uma graduação elevada.Como estamos na época da colheita das castanhas, é a jeropiga que acompanha nos magustos que se vão fazendo aqui por esta região do interior, onde o crescimento cadenciado das noites faz com que o clima frio seja mais temporão.Como é uma bebida doce e de elevado teor alcoólico espalha alegria por todos. Dos mais novos aos mais velhos todos provam e saboreiam. Leva até mesmo ao pecado aqueles a quem a saúde não deixa tocar em bebidas espirituosas.Costumo ouvir que se não houvesse castanhas, não havia jeropiga. Eu entendo que não é assim, pois vejo a castanha a enriquecer vários pratos da culinária portuguesa onde nem sequer apetece a dita jeropiga.Por outro lado esta bebida fortificada e na devida conta serve muito bem para acompanhar certos frutos secos e até queijos, isto no meu entender.Como vem a talhe de foice, passo a descrever-vos a alegria vivida num evento na Casa das Beiras e que teve lugar em catorze de outubro de dois mil e quinze. Fui convidado, na qualidade de sócio que sou, de ali apresentar o meu livro “Cem Sonetos”. Toda a organização ficou a cargo de uma amiga que tenho e que que assina os quadros que pinta, por “Bé Cabrita”. Para o acerto do beberete no final do evento, disse-me que levasse daqui um queijo que identificasse Celorico da Beira, pois quanto ao resto arranjava-se em Lisboa.Aceitando de bom grado esta informação, eu não fiquei por aqui. Levei dois queijos, dois garrafões de jeropiga e um saco com figos secos devidamente cuidados e enfarinhados que comprei no mercado de Trancoso e ao que soube eram da região de Foz Coa. Não levei castanhas, pois não havia a possibilidade de se poderem assar. No dia combinado e à hora mais conveniente eu e o meu convidado Eng.º José Gomes Monteiro, ao tempo presidente do Município de Celorico da Beira, lá seguimos o nosso destino. Acontece que para a Casa das Beiras é sempre gratificante receber um autarca da região, tanto mais quando não era esperado e que nesta circunstância aproveitei para me apresentar como cidadão. As outras vertentes estariam a cargo de outros componentes da mesa.Tudo decorreu dentro da normalidade, falaram uns ouviram outros e houve aplausos. Pelas dezanove horas e trinta minutos apenas fiquei eu a assinar uns livros, enquanto que os convidados passaram a uma instalação contígua para comerem os doce e os salgados que ali lhes eram franqueados. Nas bebidas havia águas, sumos e vinho, mas também a jeropiga que eu tinha levado, o queijo e os figos secos.Como sabemos a jeropiga gulosa e saborosa começou a ser apaladada nomeadamente pelas senhoras. Como não havia cálices na mesa começaram a bebê-la pelos copos dos sumos e da água pensando que se tratava de um refresco, talvez a “sangria”, resultando daí certos excessos que redundaram numa alegria contagiante. Nós, os dois celoricenses achávamos piada pois apenas nos gabavam o queijo e os figos.Éramos os dois maiores da festa, mas como tínhamos que regressar a Celorico, pelas vinte horas e trinta minutos entre beijos e abraços fizemos a nossa despedida. Algumas das convidadas pediram-me que anunciasse a chegada o que veio a acontecer por volta da meia-noite. Eu ligar, liguei, só que nenhuma me atendeu, vindo todas no dia seguinte a invocarem cansaço.Foi um final de tarde bem passado, bem comentado durante a viagem de regresso e recordado por nós em certas ocasiões propícias à boa disposição. Por aqui fico, até dia de São Martinho com castanhas e vinho. Se não tiver um pipinho para abrir, faça da jeropiga a bebida rainha. Haja saúde!
Correcção:Na minha crónica de 14-10-2021, publicada na página 7 do n.º 5804 do jornal “A GUARDA”, no quarto parágrafo onde se lê século dezoito, deve ler-se século dezanove. Por sua vez no penúltimo parágrafo a expressão “a resposta” aparece duas vezes escrita, quando deve ser apenas uma. Peço desculpa por estes dois lapsos.