Todos os anos, neste mês de Junho, as comemorações da batalha de Waterloo na Bélgica constituem um acontecimento internacional com pessoas provenientes de muitas partes do mundo, até mesmo de Portugal, pois já lá encontrei figurantes vindos de Almeida.


Na planície de Waterloo, a Bélgica celebra a batalha histórica onde o pano de fundo caiu definitivamente para Napoleão, no dia 18 de Junho de 1815, obrigando-o a retirar-se da cena, após ter sido o herói superstar personificado nas numerosas campanhas que o imortalizaram. Em menos de quinze anos, o General Bonaparte, que galgou até ao cimo da glória com o estatuto de Imperador Napoleão I, coleccionou vitórias atrás de vitórias nos campos de batalha em Itália, Egipto, Alemanha, Prússia, Polónia, Espanha e Portugal, tendo subjugado quase toda a Europa.
Portugal sofreu, de 1807 a 1811, três terríveis campanhas e talvez a terceira tenha sido a mais temível e a de maior sofrimento para a população portuguesa.
Tal como na campanha de Waterloo, também a terceira invasão serviu de lição fatal para as tropas francesas. Wellington, o Duque de Ferro, tinha adquirido uma áurea inigualável em Talavera, no Buçaco e, sobretudo, com a sua estratégia de defesa quase inexpugnável de Lisboa. Quando os franceses compreenderam que era impossível conquistar Portugal, não tiveram outra solução senão ir recuando, à medida que as tropas anglo-lusas, comandadas por Wellington, lhes iam apontando a necessidade de abandonar rapidamente Portugal. E entre batalhas, combates e escaramuças, o General inglês foi implacável para fazer compreender aos franceses que deveriam pôr de lado a ideia megalómana de Napoleão conquistar Portugal e, através deste, obter as riquezas do Brasil e das outras possessões ultramarinas.
Em Waterloo e no Sabugal, Wellington pôs termo ao sonho de Napoleão. O Sabugal foi a última batalha travada pelas tropas de Napoleão, em Portugal. Com esta batalha, ficámos livres do jugo dos franceses. Tal como em Waterloo, Wellington, no Sabugal, quis também pôr termo à cobiça do imperador francês.
Wellington chegou a Waterloo com a experiência adquirida nas batalhas travadas em Portugal. Muitos generais ingleses combateram nesta grande batalha com a experiência adquirida nas campanhas de Portugal e de Espanha.
Depois do seu exílio na pequena ilha d’Elba, Napoleão chegou a Waterloo tendo acumulado o ódio de todas as cabeças coroadas da Europa. Como alguns historiadores diziam, já não era a nação francesa a inimiga; era o próprio Napoleão que deveria ser isolado para não fazer mais danos à Europa, com o seu desejo insaciável de a colocar a seus pés.
Tal como em tantas outras batalhas, Napoleão acreditou na sua boa estrela em Waterloo. Tinha a seu lado generais com a grande experiência adquirida na campanha de Portugal, mas, infelizmente não revelaram grande eficácia nesta batalha. Por exemplo, o insubmisso e excepcional estratega Michel Ney mostrou mais incompetência do que habilidade militar naquele dia do mês de Junho, ao dar cabo de pelo menos cinco cavalos. Também o general Soult, o comandante da segunda invasão francesa, que ocupava um posto de grande importância, estatelou-se desordenadamente. Se talvez os oficiais intermédios acreditaram e combateram renhidamente a favor de Napoleão, muitos dos seus generais e marechais pretenderam fazer-lhe ver que era tempo de pôr termo à loucura de um homem sem limites, mesmo depois de o terem acompanhado por toda a parte e também por Portugal e Espanha. Os dois chefes de guerra tinham consciência de jogar a última cartada das suas vidas. Embora jovens, ambos de 46 anos de idade, tinham uma experiência inigualável, mas nunca se tinham enfrentado, e a batalha de Waterloo foi o horror absoluto pelo número dos seus mortos, num total de 43.000; 23.000 do lado francês e 20.000 dos aliados. Sem máquinas de filmar ou de fotografar, as cenas da batalha de Waterloo, as mais horríveis, foram imortalizadas por numerosas pinturas. Também os escritores apoderaram-se deste tema, criando quase um clima romântico acerca da batalha de Waterloo. Walter Scott, Alexandre Dumas, Chateaubriand, Stendhal, Balzac, Verlaine, Rimbaud e sobretudo Victor Hugo recriaram a batalha de Waterloo num imaginário literário, sem relação com a realidade a ponto de se terem esquecido do horror vivido naquelas 24 horas. Não admira, pois, que, apesar de Napoleão ter sido derrotado em Waterloo, tenha sido posteriormente sacralizado como um herói, fascinando um meio popular ainda vivo actualmente.