No meu ponto de vista, o mês de dezembro é onde a ternura se mais faz sentir durante o ano.

Vários fatores colaboram para que a meiguice mais aconteça, entre as pessoas, nomeadamente no seio familiar. Antes de mais há o frio que nos atrai mais ao aconchego e nos puxa também para o lar, onde em reunião, vamos ouvindo a experiência dos que sabem e as dificuldades que os mais jovens têm que debelar.
Este reconhecimento que eu sinto pelo mês de dezembro vem de longe, para isso perdoem-me que recue seis décadas no tempo, para chegar à minha infância.
Começa logo por um feriado, em que a Mocidade Portuguesa fazia o seu dia grande e nós gostávamos, pois víamos o carinho com que eramos recebidos no desfile. No mesmo dia da semana seguinte, havia e continua a haver um dia santo em honra de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal e dos portugueses. Ao tempo também aqui se festejava o Dia da Mãe de quem tínhamos muito colo e carinho, a que respondíamos com o maior afeto.
Entre estes dois dias ainda se festejava a Santa Bárbara que tinha muitos devotos e a quem se rogava proteção das tragédias naturais. A treze, no dia de Santa Luzia também havia os romeiros que oravam para a conservação da sua visão.
Depois destas festas e a partir do meado do mês, se começavam a fazer os preparativos para o Natal. Começava a chegar a primeira geração de emigrantes da Europa Central que colocava mais dinheiro no mercado e começavam-se a comprar as roupas que no dia de vinte e cinco saíam à rua. Os que por cá estávamos, começávamos a selecionar a lenha que iria alimentar o madeiro na noite do nascimento de Jesus.
As atividades natalícias antes da meia-noite que vos apontei, apenas eram a formação do Presépio, o enfeite da árvore de Natal e a Ceia em família. À meia-noite tudo era acionado, ascendia-se o madeiro, começava a missa do galo e ouviam-se os primeiros cânticos alusivos ao nascimento de Jesus: - “Alegre-se o Céu e a Terra, cantemos com alegria, já nasceu o Deus-menino, Filho da Virgem Maria”.
Durante o dia assistia-se à missa natalícia onde era ponto de honra beijar o menino. Entretanto os mais pequenos, já tinham visitado a chaminé pela manhã, para se certificarem daquilo que o Menino Jesus ali tinha deixado como prenda.
Pode-se dizer que a noite e o dia eram bem festejados, logo a noite seguinte era dormida em descanso.
Hoje as cerimónias natalícias já não são assim. O poder comercial colocou o pai-natal a partir de finais de novembro que mais não faz do que o incentivo ao consumo, levando as crianças a acreditar que o Natal é só para elas, importando-se só com os presentes, pois o pai natal não manda ir ninguém a qualquer local de culto, nem tão sequer na intimidade proferir uma oração.
Vai cantando o que não entendemos muito bem e fazendo uma viagem bem pródiga, no espaço aproximado de mês e meio que por aqui passeia, pois só lá para o Dia de Reis do ano seguinte, é que agendará a sua partida.
É evidente que agora também todos esperam pela meia-noite, em especial as crianças, e, todas elas cheias de alegria, mas apenas com uma intenção, desembrulhar as encomendas que no entender deles o viajante da rena ali deixou, nunca pensando que tudo saiu da carteira das pessoas que são mais próximas.
Naturalmente que este consumismo exagerado, que muitas vezes vai para além das posses é prejudicial. O valor material vai deteriorando o valor sentimental e como o dinheiro tudo compra, também por esta via vai comprando a ternura.
Não me pesa a consciência em escrever este texto, pois além de dizer o que me vai na alma, sei através da comunicação social, Sua Santidade o Papa Francisco espalha a sua evangelização no mesmo sentido.
Por aqui vos deixo até dia de Santo Estevão.