No dia três do mês que decorre, um evento mobilizou a nossa vida social

, sem que no decorrer do mesmo ninguém manifestasse a sua discordância quanto ao aparato das cerimónias. Estou a falar da trasladação de Eusébio da Silva Ferreira para o Panteão Nacional, que toda a democracia representativa de Portugal, por unanimidade, aprovou em devido tempo. Como tal, a ninguém era reconhecido o direito de contestar, uma vez que tinha a certeza que aquele que foi eleito pelo seu voto, também anuiu, pelo menos, na votação de São Bento. Da casa-mãe da democracia saiu a decisão, que por sua vez a colocou em prática e a levou a efeito.
Falar de Eusébio é sempre um desenrolar de alegrias que as pessoas da minha geração e com mais idade viveram. Não tenho a menor dúvida em afirmar que no seu tempo áureo, era o português mais conhecido e famoso em todo o Mundo.
Internamente isso também foi reconhecido, foi o futebolista mais condecorado até aos dias de hoje e em diferentes épocas, a nível de desporto, segundo os dados que tenho, apenas foi ultrapassado, por uma grande mulher do atletismo, que é a Rosa Mota.
Chegados aqui permitam que fale de todo o cerimonial, pelo menos daquele que me foi possível observar. Em primeiro lugar começo por falar em quem esteve no terreno e que prestou todas as honras. Estou a falar de um prestigiado Corpo Militar, cujas fileiras agrupei, que é a Guarda Nacional Republicana. Esteve de uma forma soberba em todas as missões que lhe pertenceram. Fiquei feliz pelo aprumo que os seus militares de diferentes escalões hierárquicos, ali demonstraram. Gostei do discurso alusivo ao ato, proferido por António Simões, o seu “irmão branco” como carinhosamente Eusébio o tratava. E gostei porque falou de coisas que só eles tinham cultivado em amizade, porque durante onze anos foram eles os dois que formaram a asa esquerda atacante do Benfica, da Seleção Nacional, como ainda da esquecida Seleção Militar que muito nos alegrou na década de sessenta.
Quanto aos discursos das duas mais altas figuras da Nação, fiquei aborrecido com os assobios e apupos na intervenção do Presidente da República, apenas porque aconteceram em local apropriado. Já a senhora presidente da Assembleia da República, mostrou trabalho de casa e esteve a um nível muito elevado. Esta minha afirmação poderá ter por base o facto de a ouvir discursar poucas vezes, daí a minha surpresa.
Rui Veloso esteve muito bem, aproveitou a situação para dar voz a um encontro que ambos tinham vivido em tempos passados e que o próprio Rui prometeu não esquecer. Também lhe ficou muito bem a alusão a África, continente onde o Rei Eusébio nasceu.
Claro que não ficaria de bem com a minha consciência se eu aqui não viesse falar do que mais me melindrou em todo o protocolo. Como cidadão português e como militar, sempre entendi que o Hino Nacional, tal como a Bandeira, estava acima de toda a hierarquia militar, sendo símbolos da Nação, tal como Sua Excelência o Presidente da República.
No meu entender, há duas coisas a que o Hino Nacional não pode fugir: é à letra de Henrique Lopes Mendonça e à música de Alfredo Keil. Não pode fugir a nenhuma destas variantes, porque o Hino Nacional nem que seja cantado à capela tem de ser entoado consoante a música, se por ventura apenas for tocado por instrumentalistas, toda a gente o identifica.
Face ao que deixo escrito, já entenderam que me estou a referir à atuação de Dulce Pontes. O que ela fez foi um abastardamento do Hino Nacional, porque lhe fugiu à música. O que Dulce Pontes cantou, usando só a letra do Hino Nacional, podiam-lhe chamar “Heróis do Mar” que eu até ficava emproado, agora como foi feito obriga-me a levantar a voz contra desmandos dessa natureza. Aprendam a preservar os símbolos da República Portuguesa; se por acaso não souberem como é, perguntem.