Nesta época invernosa que estamos a passar, vejo desfilar os seus primeiros eventos.

Já lá vai o Natal, seguido do Ano Novo que embora separados por poucos dias este acontecimento ganha ao primeiro por contar com mais um ano no somatório relativo à calendarização.A seguir, logo no segundo dia saí eu com o número setenta e um nas costas a anunciar a minha idade. Para efeitos de economia, pois era domingo, havendo sempre o hábito de aparecer mais um amigo para o brinde e o combate à pandemia, decidi fazê-lo de noite, aproveitando a escuridão da primeira Lua Nova do ano de dois mil e vinte e dois.Ainda dentro da mesma semana aparecem os reis magos com os seus cânticos na adoração ao menino.Nos tempos em que me criei o dia de reis tinha duas particularidades, pois além de se pedirem os reis com cânticos populares nocturnos ou diurnos, era o último dia da quadra natalícia, bem como de férias de Natal dos alunos da escola primária. No dia seguinte a primeira tarefa destes pequenos estudantes era desmanchar o presépio da sua sala de aula e acondicionar as imagens, pois teriam de ficar guardadas por um período ligeiramente superior a onzes meses.Este período festivo teve em tempos mais recuados uma maior pacatez, talvez por não se sentir o subsídio de Natal no bolso, comparado com os tempos de agora onde o desafio ao consumo é mesmo lançado por quem nos governa, apontado como um bem para a economia nacional.Também entendo de que o dinheiro parado não faz mexer ninguém. Dentro de certas regras deve ter o seu uso, mas nunca ir para os abusos pois tantos calafrios têm causado aos que tendo as mãos mais largas, não o conseguem segurar para obter dele o melhor proveito. Vejo o paganismo a alastrar, ao ponto de a alegria desta época rimar mais com folia, do que com a bonomia que tão bem caracterizava as “Festas Felizes” de outros tempos.Assemelha-se um pouco aos festejos populares que acontecem na transição da primavera para o verão, em que o divertimento se amplia enaltecendo para isso as qualidades dos três santos populares onde só é válida a tradição em detrimento do culto e da oração.Mas para brincadeira não há necessidade de esperar tanto tempo, porque sem sair do inverno temos o carnaval que acaba por nos encher o olho com a imaginação de muitos. Ninguém duvida, penso eu, que os preparativos carnavalescos envolvem uma maior despesa em erário público, do que a quadra natalícia.O mês de janeiro tem ainda outra particularidade. Para que o clima seja a gosto do camponês deve ser frio e seco, para que a natureza tenha o seu merecido descanso. De tal modo que se evidencia muito o “luar de janeiro” como sinal de ausência de nebulosidade, afastada pelos ventos espanhóis aqui pelas nossas bandas. A temperatura suaviza de dia mas durante a noite com frequência cai do zero na escala centígrada.Isto tudo faz com que pela aba norte da Serra da Estrela somente a vegetação herbácea mais resistente seja a única que se aguenta nas pastagens do gado ovino e daí se obtenha o melhor leite para o fabrico do afamado queijo a que a mesma Serra da Estrela dá o nome.Vulgarmente ouve-se dizer que o melhor queijo é o de janeiro. Pura realidade, só que deve entender como fabrico e não ter em conta a comercialização, pois o que é feito com o leite do mês que aqui é referido apenas chega à mesa de quem o aprecia nos dias de março ou abril.A confirmar o que deixo dito é essa a época do ano em que surgem as famosas feiras de queijo que é o argumento mais válido para que o Poder de Lisboa desça ao país real a convite dos respectivos autarcas.Sei que não sou dono de toda a verdade, nem estou contra os avanços da ciência, todavia sou a favor da defesa das nossas tradições, que tão valorizadas são no mercado da saudade. Também acho que é boa norma, respeitar o modo de agir de cada um.Por hoje fico por aqui. Voltarei a vinte de janeiro, onde a sabedoria popular nos dá uma hora por inteiro e várias feiras e romarias acontecem por todo o Portugal com a bênção do mártir São Sebastião.Haja saúde e um Bom Ano.