Viagens ao reino de Clio


De seu nome completo Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de Bragança, D. Maria I sucedeu a seu pai, D. José, e foi a primeira mulher a ocupar o trono português. Foi rainha de 24 de fevereiro de 1777 a 20 de Março de 1816. Ficou conhecida como A Piedosa ou A Pia, devido à sua extrema devoção religiosa à Igreja Católica mas também como A Louca ou Maria Louca, pela doença mental manifestada nas duas últimas décadas de vida.
Uma das primeiras medidas que tomou foi mandar abrir as prisões do estado, ocupadas pelos inimigos ou opositores do Marquês de Pombal, que encerravam milhares de pessoas em condições horrendas.
De acordo com alguns historiadores morreram cerca de dois mil prisioneiros nestas condições. Um inglês, que tinha o pai encarcerado em Lisboa, deixou o seguinte testemunho: “Corri imediatamente a Pedrouços, a S. Julião, a Cascais, e procurei o meu pai nas prisões do Estado de todos esses lugares sem o encontrar. O meu coração despedaçou-se à vista dos pobres presos desses cárceres infernais; pensei que o meu pai suportava os mesmos sofrimentos e essa ideia deu-me asas para voar em seu socorro. Atravessei o rio pelas alturas do Castelo de S. Lourenço e passei pelos fortes da margem oposta do Tejo até Azeitão, sem êxito. Lembrei-me que ainda não tinha ido ao Limoeiro e cheguei lá exatamente no momento em que faziam sair o meu pobre pai do segredo; vivo, é verdade… mas Céus! Como estava mudado! Reconheci-o com dificuldade, de gordo e cheio que dantes era, tornara-se num esqueleto; as pernas estavam tesas e encurtadas, não podia andar, quase que não via e três dias depois perdeu inteiramente a vista. Levei-o para minha casa onde se encontra agora.”
Sem D. José no trono, o Marquês de Pombal pediu a demissão do cargo de Secretário de Estado dos Negócios do Reino. A rainha aceitou esse pedido e no dia 4 de março de 1777 mandou publicar o seguinte texto: “Tendo em consideração a grande e distinta estima que El-Rei meu Pai fez sempre da pessoa do marquês de Pombal e representando-me o mesmo marquês que a sua avançada idade lhe não permitia continuar por mais tempo no meu real serviço; pedindo-me licença para se demitir de todos os lugares e empregos de que se acha encarregado para poder retirar-se à sua quinta de Pombal.
Atendendo ao referido, sou servida a aceitar-lhe a dita demissão e concedo-lhe a licença que pede. E tenho outrossim por bem que durante a sua vida fique conservando os mesmos ordenados que tinha como secretário de Estado dos Negócios do Reino; e além deles faço mercê por graça especial da Comenda de S. Tiago de Lanhoso do arcebispado de Braga que vagou por falecimento de Francisco de Melo e Castro.”
Nossa Senhora da Ajuda.
Com a rubrica da Rainha.

No dia 29 de junho de 1777, pelas três horas da tarde, realizou-se uma tourada na Praça do Comércio, em Lisboa, em honra da nova rainha de Portugal: “Corridas as cortinas da Real Tribuna, foi a vista dos soberanos e príncipes portugueses o maior objeto de alegria para todos os seus fiéis vassalos.
Quase todos os camarotes se achavam ocupados de grandes do Reino e estrangeiros; os palanques cheios de pessoas militares e civis e do povo, havendo-se posto guardas e sentinelas necessárias para evitar quaisquer desordens.
Seguiu-se a entrar na Praça o Meirinho da cidade, José Marcelino Álvares de Sá, montado num bom cavalo e acompanhado de seis pretos vestidos de amarelo com estias e forros verdes, com chapéus de plumas brancas. Feitas as costumadas cortesias a Suas Majestades Ilustríssimas, saiu a mudar de cavalo e veio pôr-se ao lado da trincheira imediata à da Real Tribuna, para receber as Reais ordens. (…)
Entrou na Praça o primeiro cavaleiro, que era Joaquim António da Fonseca, criado de Sua Majestade Fidelíssima, montado num formoso cavalo, bem ajaezado, vestido de seda cor de camurça, bem bordada, com belíssimo cocar no chapéu, acompanhado de cinco capinhas.
O segundo era Bernardo de Magalhães e Noronha, que montava vistoso cavalo com ricos jaezes, vestido de seda encarnada com bela bordadura e chapéu com cocar, acompanhado de igual número de capinhas. Fizeram as cortesias costumadas a Suas Majestades, observando todas as regras como bons cavaleiros, com Arte, galhardia e geral aceitação. Saindo a mudar de cavalos, se principiou o combate de touros.”