A 25 de abril de 2003, Jorge Sampaio soltou uma expressão que se havia de tornar famosa e que foi assumida como um slogan de esquerda: “há mais vida para além do défice”.


Recordo aos mais distraídos que nesse momento, em 2013, tínhamos um governo de coligação PSD/CDS e que o défice era já assumido como um inimigo público, pelos vistos só da direita, já que José Sócrates soube elevá-lo até uns inimagináveis 11%, em 2010.
E quando digo que o défice era um inimigo público, era-o apenas dos governos do centro direita, nas palavras e intervenções da esquerda, daí ser importante recordar que também, mais recentemente, o líder da bancada socialista na Assembleia da República, Carlos César, aquele que está a ser reembolsado pelo Estado de viagens que nunca pagou, repetiu em 17 de setembro de 2016 a mesma frase que Jorge Sampaio imortalizou e que serviu de guião à esquerda, reafirmando que “há mais vida para além do défice”.
Afinal, quando esta semana o governo, através do seu Centeno, veio afirmar o défice como único objetivo político do governo, fica bem claro que algo mudou no reino socialista. O governo que é de esquerda persegue os objetivos de direita que sempre serviram de “bombo” político para “malhar” no PSD e no CDS, à boa maneira socialista.
Alguém entende esta INCOERÊNCIA?
Percebemos, claro que percebemos, ou não fosse a INCOERÊNCIA a caraterística mais marcante da esquerda.
Nestas circunstâncias, é de questionar: há ou não há mais vida para além do défice?
Afinal, parece que não se vive para além do défice. Mudam-se os tempos e muda-se também o código genético do Partido Socialista. Ou será esta uma forma envergonhada de distanciamento da governação de José Sócrates?
Estamos a viver um tempo novo em que efetivamente o défice é o único objetivo, acrescentando-lhe ainda a afirmação de que não há austeridade, mas a realidade mostra-nos que há crianças a fazerem tratamentos oncológicos em corredores de hospitais.
Não há défice nem austeridade, mas uma consulta de oftalmologia no Hospital da Guarda demora 1000 dias a ser marcada e só para utentes em risco de cegar!
Não há défice nem austeridade, mas recentemente houve uma criança recém-nascida no Algarve que quase ia morrendo por falta de pediatra e que teve que ser reanimada in extremis por um anestesista!
Não há défice nem austeridade, mas o serviço de nefrologia pediátrica do Hospital de Stª. Maria está encerrado desde janeiro por falta de enfermeiros!
Não há défice nem austeridade, mas no Hospital de Aveiro espera-se três anos por uma consulta!
Não há défice nem austeridade, mas há comboios a descarrilar por falta de manutenção das infraestruturas!
Não há défice nem austeridade, mas as forças de segurança estão sem meios humanos e materiais para cumprirem a sua função!
Não há défice nem austeridade, mas o SIRESP e a Proteção Civil falharam e o país ardeu!
Não há défice nem austeridade, mas as Forças Armadas não têm meios para garantir a vigilância e deixam roubar os paióis!
Não há défice nem austeridade, mas os combustíveis estão imparáveis na subida, por via da carga tributária que lhes foi aplicada pelo governo!
Não há défice nem austeridade, mas o mesmo governo que diz que não quer uma política de baixos salários recusa-se a repor a justiça na contagem de tempo de serviços dos professores, mantendo as escolas a funcionar com pessoal especializado pago abaixo da respetiva tabela remuneratória!
Não há défice nem austeridade, mas o mesmo Carlos César que recebe dinheiro de viagens que nunca pagou e que anunciou em 17 de setembro de 2016 que a carga fiscal não iria aumentar em 2017 é agora confrontado com dados estatísticos que nos dizem que nunca, em tempo algum, os portugueses pagaram tantos impostos!
E o que fazem os parceiros PCP e Bloco de Esquerda?
À segunda, quarta e sexta-feira protestam e dizem-se CHOCADOS; à terça e quinta-feira votam favoravelmente os Orçamentos de Estado e os Planos de Estabilidade e Crescimento de Centeno.
Este “CHOQUE” do PCP e BE só pode ser uma espécie de CHOQUE em BRANCO.
PS, PCP e BE estão encostados na arte da dissimulação. Faz de conta que não há austeridade, faz de conta que somos contra a redução do défice, faz de conta que nos zangamos, mas no final tudo acaba em bem desde que num dia possam acontecer mudanças de sexo aos 16 anos, que a seguir se abram salas de chuto, que seja possível a adoção de crianças por casais homossexuais, que amanhã se aprove a eutanásia e depois de amanhã talvez o suicídio.
Há coisas que se defendem com a língua em vez de se defenderem com os dentes e quando é assim, lá vêm os bons conselhos secundados pelos maus exemplos. E aquilo que realmente importa é o exemplo.