Hoje resolvi falar de austeridade. Não daquela que eu gosto e que significa rigor, mas de uma outra que nos impuseram,

que tende miserabilisar os quatro cantos do Mundo. Falam os que são entendidos em ganhar muito e pagar pouco, que o dinheiro em circulação não sustenta uma economia que nos dê um melhor padrão de vida. Acrescentam ainda que só à meia ração e com a “meia-correia”, termo que na minha terra significa trabalho forçado, poderemos ser honestos pagando as dívidas, que não foram feitas por quem tem de as pagar.
No meu ponto de vista o dinheiro no Mundo foi sempre aumentando e será cada vez mais, pois que eu tenha conhecimento, ainda não ardeu nenhum armazém que estivesse repleto de capital vivo e o que é colocado em circulação aumenta. Ora o que me apercebo é que se faz com o dinheiro, aquilo que se faz com a água, os pequenos regatos alimentam os grandes rios, que para se tornarem colossais ainda fazem os convenientes transvases, para que muito poucos controlem a vida de muitos milhares de milhões.
Aqui chegados, tanto o dinheiro como a água, apenas criam riqueza repartida por todos, quando se encontram em movimento, renovando os proventos que cada qual dá de si. O dinheiro parado e acumulado envaidece quem o tem, mas mirra quem está por perto, a água encharcada cria vermes que causam epidemias na vegetação circundante.
O dinheiro em movimento cria dinâmica em todos os setores de atividade e gera riqueza em todos quantos a suportam. A água em movimento, mata a sede a todos os seres vivos e produz a energia que se torna mais fácil na sua distribuição.
A escassez de qualquer destes valores, o dinheiro ou a água, provoca a fome, seja em que ponto do planeta for, por isso o controlo destes dois bens essenciais se tornam tão apetecíveis daqueles que têm por ambição ter o Mundo a seus pés.
Por ora uma grande percentagem do dinheiro está cativo por uns poucos, que mais não fazem do que acusar o zé-povinho das falsas benesses que possui, como se comparativamente pudesse haver alguma proporção razoável entre o forte e o fraco. Por sua vez a água está na mão dos mesmos, desde a exploração, uma dádiva da natureza, à sua distribuição, tudo é lucro para alguns. A que se controla por barragens, quer para regadio, quer para a produção energética, o rendimento pode dar mais umas voltas, mas os valores que daí resultam acabam sempre por se juntar aos demais.
Pelo que relatei, não é difícil chegar à minha opinião sobre a austeridade. O poder económico Mundial retirou o capital que achou conveniente do mercado, para daí poder auferir o suor de outrem, a um preço desumano. No entanto, muitas vezes o tiro sai pela culatra, os oprimidos soltam-se do jugo e fazem-se ouvir dando azo a que a filantropia faça o seu papel, que mais não é do que reduzir a distância entre os extremos em que nos encontramos.
As voltas que o Mundo dá, não são só em volta do Sol, essas até têm as horas e os dias contados, agora outras que por vezes surgem inopinadamente, são essas que afrontam os poderosos, que para granjearem um pouco de sossego, dividem para reinar, acicatando uns contra os outros, pois os grandes julgam-se confortados quando veem os pequenos envolvidos na disputa de um osso.
É irritante para quem tem o pleno uso das suas faculdades mentais, ver o mundo económico do modo como se encontra, estávamos habituados a vê-lo como uma composição ferroviária, uma forte locomotiva puxar pelos restantes vagões, agora acontece o contrário, a máquina ficou inerte e para que a composição avance tem de ser empurrada de trás para a frente.
Admito de minha parte um certo desalento, mas é assim que tomo o pulso à sociedade em que vivo, enquanto me convenço que este fato foi feito por medida.